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Escolas dinamarquesas estão a adiar horário de início das aulas pelo bem-estar dos alunos

Os alunos Emily e Rasmus em Th. Langs
Os alunos Emily e Rasmus em Th. Langs Direitos de autor Roselyne Min
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Artigo publicado originalmente em inglês

Num contexto de crescente sensibilização para a saúde mental dos jovens, algumas escolas dinamarquesas experimentaram alterar o horário de início das aulas em 2022. Atualmente, há cerca de 20 escolas na Dinamarca que adiaram o horário de início das aulas.

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Lembra-se da dificuldade em manter-se acordado durante as aulas matinais ?

Para Rasmus, o estudante dinamarquês de 15 anos, era difícil adormecer à noite e muitas vezes ia para a escola sem ter dormido o suficiente. "Deitamo-nos e viramo-nos e viramo-nos durante muito tempo, talvez uma ou duas horas, e não conseguimos adormecer", disse à Euronews Health.

Os especialistas em saúde pública e sono da Dinamarca afirmam que os jovens adolescentes têm um ritmo circadiano - ciclo biológico de aproximadamente 24 horas - diferente do dos adultos e que os adolescentes dinamarqueses não dormem o suficiente.

De acordo com um relatório do Instituto Nacional de Saúde Pública, uma fundação de investigação de Copenhaga, os adolescentes deveriam dormir oito a dez horas por dia, mas mais de 60% dos jovens de 15 anos dormem menos do que isso.

O relatório afirma que tal se deve a alterações corporais como à utilização de ecrãs durante a noite.

A investigação sugere que a melatonina, hormona que o corpo humano liberta à noite para induzir o sono, e o cortisol, hormona do stress que desperta o nosso corpo, são libertados mais tarde nos adolescentes do que nos adultos.

Cathrine Wimmelmann, investigadora principal do Centro de Saúde Infantil, alertou para o facto de se for pedido a uma adolescente que vá para a cama às 22 horas e ela disser "ainda não tenho sono", não está a mentir.

"As necessidades fisiológicas dos adolescentes não se coadunam com a forma como o sistema escolar está estruturado, exigindo que vão para a escola mais cedo", disse a investigadora à Euronews Health.

Dormir pouco pode levar a algumas consequências negativas como o aumento do risco de infelicidade, dificuldade de concentração e desenvolvimento de stress e depressão.

Num contexto de crescente sensibilização para a saúde mental dos jovens, várias escolas dinamarquesas experimentaram alterar a hora de início das aulas desde o verão de 2023.

Em 2022, a escola de Rasmus, a Th. Langs Skole, em Silkeborg, na região ocidental da Dinamarca, começou a permitir que os alunos com idades compreendidas entre os 13 e os 16 anos (entre o 7.º e o 9.º ano dinamarquês) começassem a estudar às 9:00 em vez das 8:10.

"O sono é de melhor qualidade e adormece-se mais depressa", afirma Rasmus. E a experiência não se limita a Rasmus, também Emily concorda que o novo horário é mais produtivo.

"Antes, estávamos muito cansados e ficávamos bastante aborrecidos de manhã. Havia muita gente a sentir-se preguiçosa e não nos preocupávamos uns com os outros", disse Emily, aluna de 15 anos (9.º ano) da Th. Langs Skole.

"Mas depois, quando começámos a entrar às 9:00, começámos a sentir-nos mais felizes e a falar uns com os outros, em vez de olharmos para os nossos telemóveis", acrescentou.

Resultados positivos

Tine Agerholm Kristiansen, diretora da escola Th. Langs Skole notou também melhorias nos seus estudantes. "Dormem melhor, dormem mais tempo e têm de facto mais energia. Não só de manhã, mas também durante o dia, quando têm de fazer as suas atividades fora da escola", disse Kristiansen à Euronews Health.

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A Th. Langs Skole colaborou com uma start-up tecnológica dinamarquesa, a Enversion, para acompanhar o sono dos alunos entre o 7º e o 9º ano através de uma aplicação.

Com base nos inquéritos realizados através da aplicação, a escola descobriu que os alunos dormiram uma média de 7 horas e 58 minutos durante o período de acompanhamento e mostraram melhorias na duração do sono, na eficiência do sono e na fadiga durante os primeiros três meses da iniciativa.

"A eficiência do sono, ou seja, o tempo que passam na cama a dormir, numa escala alargada, também aumentou muito", afirmou Karina Juul Uldal Christesen, responsável de comunicação da Th. Langs Skole.

"A nossa turma, então no sétimo ano, costumava levar uma média de 3,5 horas a adormecer antes do projeto, que é demasiado, e baixou para 1,6. Já os alunos do oitavo ano costumavam levar 2,5 horas a adormecer e baixaram para quarenta minutos. A nossa turma do nono ano desceu para cerca de meia hora", esclareceu Christesen.

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O exemplo da Th. Langs Skole espalhou-se por todo o país e inspirou outras escolas nos últimos dois anos. Atualmente, há cerca de 20 escolas na Dinamarca a adiar horário de início das aulas.

A Taastrup Realskole, situada a cerca de 20 km a oeste de Copenhaga, foi uma das últimas a seguir o exemplo no início do presente ano letivo.

"Começámos com os alunos finalistas, que entram 1 hora e 15 minutos mais tarde do que todos os outros alunos, devido aos seus hábitos de sono", disse Kennet Hallgren, diretor da escola de Taastrup Realskole.

Os alunos têm tido experiências positivas semelhantes.

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"Estou muito satisfeito porque vou para a cama à mesma hora e, por isso, durmo basicamente mais uma hora, o que me permite ser mais produtivo na escola e estar mais concentrado", disse Julius, um aluno de 13 anos (7.º ano) da Taastrup Realskole.

"Gostei muito da nova hora de início das aulas, porque podemos dormir mais tempo, e agora estou mais concentrado na escola e consigo aprender mais", disse outra aluna, Lina de 13 anos, igualmente a frequentar o 7.º ano.

Reestruturar o dia escolar

Os especialistas dizem que uma hora de início mais tardia não deve significar uma hora de fim mais tardia, para garantir que os alunos têm tempo livre suficiente depois da escola.

A grande questão é saber como implementar este novo horário nas escolas. "A maneira mais fácil seria prolongar o dia: entrar nas aulas mais tarde e ir para casa mais tarde, mas não me parece que seja a melhor forma de o fazer, porque isso comprometeria os alunos e as atividades de tempos livres", afirmou Wimmelmann. "Precisamos de pensar de forma criativa em termos de estruturação do dia escolar", acrescentou.

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De acordo com a legislação dinamarquesa, nada impede que as escolas comecem a funcionar mais tarde, desde que as horas previstas sejam cumpridas.

De acordo com o Ministério da Educação dinamarquês, "existe apenas um requisito legal efetivo de que o ensino deve ter lugar entre aproximadamente as 8 e as 16 horas, a menos que haja eventos especiais".

E segundo o mesmo organismo cabe às escolas e autarquias a forma como o ano letivo é organizado. Os municípios podem optar por funcionar com mais dias letivos do que o habitual, podendo cada um deles ser ligeiramente mais curto.

Escolas privadas como a Th. Langs Skole e Taastrup Realskole têm mais liberdade regulamentar e recursos para reestruturar os seus currículos de modo a implementar um horário escolar mais tardio.

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"Não alterámos a duração das aulas, mas colocámos dois professores em algumas aulas", disse Anja Nordgaard Roland, Vice-Presidente da Taastrup Realskole, à Euronews Health.

Algumas escolas públicas também conseguiram começar mais tarde e terminar a horas semelhantes às anteriores, mas necessitam de ajustar os currículos escolares.

A Islev Skole é uma escola pública , no subúrbio de Copenhaga, que também atrasou a hora de início das aulas em uma hora, contudo teve de encontrar uma forma de preencher as cinco horas de ensino em falta por semana para cumprir os requisitos legais.

Efeitos a longo prazo pouco claros

Embora os especialistas acreditem que se trata de uma iniciativa promissora, tendo em conta a fisiologia dos adolescentes, alertam para o facto de existirem algumas reservas.

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Para a investigadora principal do Centro de Saúde Infantil, Cathrine Wimmelmann, ainda há muito a avaliar porque "muitas das escolas que implementaram a iniciativa não fizeram avaliações metodologicamente científicas das iniciativas", afirmou. "Muitos dos estudos que avaliam estas iniciativas apenas abordam a duração do sono e isso é apenas metade da história", acrescentou .

Alertou ainda para o facto de na maior parte dos casos só se analisa a duração do sono e não a qualidade do sono e "e ambas são muito importantes para os resultados relacionados com a capacidade cognitiva, capacidades sociais e coisas do género", esclareceu.

Anteriormente, escolas nos EUA, em Israel e em Singapura fizeram experiências semelhantes e obtiveram resultados positivos.

Wimmelmann diz que não é claro se os efeitos se manterão durante um período mais longo.

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"Os resultados muito positivos de alguns destes estudos já têm alguns anos. Penso que não podem necessariamente ser transferidos e utilizados atualmente, porque muita coisa aconteceu na vida dos jovens", acrescentou Wimmelmann.

Utilização dos ecrãs e a influência no sono

Os especialistas afirmam que a simples mudança da hora de início das aulas não é suficiente e que a abordagem de outros comportamentos de saúde, como a utilização dos ecrãs ou a atividade física, podem ajudar a melhorar, ou apoiar, os efeitos da iniciativa do início das aulas mais tardios.

"A minha preocupação é que muita coisa aconteceu com a tecnologia, com o desenvolvimento tecnológico e os meios de comunicação social", afirmou Wimmelmann.

"A utilização dos ecrãs afeta definitivamente a qualidade do sono; as ondas, a profundidade do sono e a continuidade do sono. Acordamos mais se tivermos estado a olhar para um ecrã até adormecermos", acrescentou a especialista.

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As escolas que aumentaram a hora de início das aulas admitem que a redução do tempo de ecrã por parte dos alunos é um desafio. "Falamos muito sobre o facto de terem de pousar os telemóveis antes de adormecerem e isso é uma das coisas mais difíceis. É mais fácil no sétimo ano, porque os pais têm mais poder de decisão", disse Kristiansen.

Durante o semestre do outono de 2022 e da primavera de 2023, a Islev Skole realizou uma campanha intitulada "Sono saudável e ecrã saudável".

De acordo com o relatório de avaliação, a escola comunicou ativamente aos seus alunos "dicas importantes" para uma utilização saudável dos ecrãs, bem como acompanhou o seu sono e o tempo de ecrã utilizando tecnologias.

Como resultado, o tempo de ecrã na cama e a fadiga diminuíram em todas as turmas do 7.º ano que participaram em cursos de aplicações e neste acompanhamento durante 4 semanas

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Numa turma do 8.º ano, os alunos usaram smartwatches concebidos para mapear a duração do sono e a distribuição entre o sono REM (última fase do ciclo de sono) e o sono profundo.

"O curso, que decorreu durante um total de 14 dias, criou, de uma forma positiva, uma base comum esclarecida para falar sobre o sono", escreveu Islev Skole no relatório.

Crise na saúde mental

Segundo Wimmelmann, o número de adolescentes que não dormem o suficiente duplicou desde a década de 1980.

"Há anos que sabemos isto e há anos que o discutimos. Mas penso que a razão pela qual isto está a acontecer agora nas escolas, em que no último ano começou a implementar horários de início das aulas mais tardios, deve-se a esta enorme concentração no bem-estar mental dos nossos jovens", afirmou Wimmelmann.

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"Atualmente, fala-se de uma crise de saúde mental. A sociedade e os meios de investigação estão todos muito preocupados em encontrar soluções para melhorar as condições de vida dos nossos jovens. E esta é uma forma óbvia de ajustar o sistema às suas necessidades", acrescentou.

Just Human é uma ONG dinamarquesa que trabalha "para inspirar as escolas e os legisladores a considerarem a implementação de horários de início das aulas mais tardios".

Há cinco anos lançou o projeto quando a maioria das escolas estava relutante em aderir à iniciativa. "São necessárias mudanças estruturais para melhorar o bem-estar das crianças e dos jovens e para dar a volta a esta crise de saúde mental", disse Eva Molin, gestora do projeto "Later Meeting Time".

Para a associação, permitir que os adolescentes comecem a escola mais tarde de manhã, dá-lhes oportunidade de dormir mais e "isso pode ter um grande efeito positivo no seu bem-estar, saúde, potencial de aprendizagem e interacções sociais", disse Eva Molin à Euronews Health.

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"Estamos muito satisfeitos por ver que as escolas estão a abrir-se a esta ideia e que se apercebem dos benefícios que uma hora de início mais tardia pode trazer aos alunos", acrescentou.

De acordo com a Just Human, cerca de sete municípios dinamarqueses estão a discutir ativamente o apoio às escolas para que experimentem um horário de início mais tardio.

"Como podemos fazer isto aqui no nosso município?" ou "Como podemos fazer isto para apoiar o sono dos jovens e, por conseguinte, a saúde mental e o bem-estar geral?", são questou que Molin e a associação está a ajudar a responder junto das escolas.

Para mais informações sobre esta história, veja o vídeo no leitor multimédia acima.

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Editor de vídeo • Roselyne Min

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