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Dador de esperma com gene do cancro não detetado ligado a quase 200 crianças em toda a Europa

Dador de esperma com gene de cancro não detetado ligado a quase 200 crianças por toda a Europa
Dador de sémen com gene associado ao cancro não detetado ligado a quase 200 crianças por toda a Europa Direitos de autor  Credit: Pexels
Direitos de autor Credit: Pexels
De Theo Farrant
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European Sperm Bank, dinamarquesa, reconheceu uso excessivo do sémen do dador e bloqueou-o de imediato após detetar a mutação

Um dador de esperma que, sem saber, transportava uma mutação rara causadora de cancro foi pai de quase 200 crianças em toda a Europa, segundo uma investigação de grande escala liderada pela União Europeia de Radiotelevisão (UER), com participação de 14 radiodifusores de serviço público.

O homem aparentava estar saudável, passou em todas as triagens de rotina e doou esperma durante cerca de 17 anos, enquanto era estudante. Mas até 20% dos seus espermatozoides transportavam uma mutação no gene TP53, um gene que normalmente impede as células de se tornarem cancerosas.

As crianças que herdam a mutação desenvolvem a síndrome de Li-Fraumeni, uma condição que lhes confere até 90% de probabilidade de virem a ter cancro ao longo da vida.

Algumas crianças concebidas com recurso a dador já morreram. Muitas mais deverão desenvolver cancro ao longo da vida.

Médicos soaram o alarme este ano após identificarem 23 crianças com a variante, entre 67 casos conhecidos na altura. Dez já tinham sido diagnosticadas com cancro.

A investigação apurou que o esperma do dador foi usado para conceber pelo menos 197 crianças em 14 países, embora o número real possa ser ainda mais elevado.

O European Sperm Bank (ESB), da Dinamarca, que forneceu as amostras, terá reconhecido que o esperma foi utilizado demasiadas vezes e endereçou a sua “profunda solidariedade” às famílias afetadas.

O banco afirmou que a mutação não poderia ser detetada nas triagens e que “bloqueou de imediato” o dador quando o problema surgiu.

A investigação apurou que nasceram crianças concebidas com o esperma do dador na Dinamarca, Bélgica, Espanha, Grécia e Alemanha.

O esperma foi também vendido à Irlanda, Polónia, Albânia e Kosovo, e mulheres da Suécia também receberam tratamentos de fertilidade com esperma deste dador.

Entretanto, um “número muito reduzido” de mulheres do Reino Unido também foi tratado em clínicas na Dinamarca, segundo Peter Thompson, diretor executivo da Autoridade de Fertilização e Embriologia Humana (HFEA), do Reino Unido.

A Euronews Health contactou o European Sperm Bank para reação e ainda não obteve resposta.

Coincidência extraordinária e falha regulatória

Especialistas afirmam que o caso expõe fragilidades na regulamentação internacional de dadores.

“Rastrear algo que surja de novo nos testículos nunca funcionará no sangue. Cada espermatozoide numa ejaculação é ligeiramente diferente, por isso rastreá-los também não é simples”, disse Jackson Kirkman-Brown, professor na Universidade de Birmingham, em comunicado. “No fim, a questão aqui prende-se com limites por família e uso prolongado sem monitorização.”

Por seu turno, Clare Turnbull, do The Institute of Cancer Research, no Reino Unido, descreveu a situação como extraordinariamente improvável.

“Isto representa uma coincidência muito infeliz de dois eventos excecionalmente incomuns: o facto de o esperma do dador conter mutações associadas a uma condição genética extremamente rara… e de o seu esperma ter sido usado na conceção de um número extraordinariamente elevado de crianças”, disse.

Disse que os indícios sugerem que a mutação surgiu nos testículos do dador e se espalhou rapidamente entre as células espermáticas, “uma demonstração de seleção espermatogonial egoísta”.

Regras na Europa

As regras que regem a doação de esperma e óvulos variam de país para país na Europa. O número máximo de crianças por dador vai de uma em Chipre a 10 em França, Grécia, Itália e Polónia, segundo um relatório de 2025 dos Conselhos Nórdicos de Ética.

Outros países limitam o número de famílias que podem recorrer ao mesmo dador, para lhes dar a oportunidade de terem irmãos. Por exemplo, o mesmo dador pode ajudar 12 famílias na Dinamarca e seis famílias na Suécia ou na Noruega.

Além disso, as doações permanecem anónimas em 16 países, embora em alguns possa ser revelada a identidade do dador se a criança tiver problemas de saúde graves, conclui o relatório.

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