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Site do governo dos EUA remove combustíveis fósseis como causa do aquecimento global

Fala o diretor da Agência de Proteção Ambiental, Lee Zeldin, numa conferência de imprensa a 17 de novembro de 2025, em Washington.
Lee Zeldin, diretor da Agência de Proteção Ambiental, fala numa conferência de imprensa em Washington, a 17 de novembro de 2025 Direitos de autor  AP Photo/Matthew Daly
Direitos de autor AP Photo/Matthew Daly
De Seth Borenstein com AP
Publicado a Últimas notícias
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"É como fingir que os cigarros não provocam cancro do pulmão", afirma um especialista em assuntos climáticos.

A Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, na sigla em inglês) removeu qualquer menção aos combustíveis fósseis – o principal fator responsável pelo aquecimento global – da sua popular página online que explica as causas das alterações climáticas.

Agora só faz referência aos fenómenos naturais, apesar de os cientistas estimarem que quase todo o aquecimento se deve à atividade humana.

Nos últimos dias ou semanas, a EPA alterou algumas (mas não todas) das suas páginas sobre alterações climáticas, reduzindo a importância e até eliminando referências à queima de carvão, petróleo e gás natural, que os cientistas apontam como causa principal das alterações climáticas.

A página do site sobre as causas das alterações climáticas menciona alterações na órbita da Terra, atividade solar, refletividade da Terra, vulcões e mudanças naturais ao nível do dióxido de carbono, mas não a queima de combustíveis fósseis.

Os cientistas alertam que isso é enganador e prejudicial.

"Escandaloso": o que dizem os cientistas sobre as omissões da EPA?

"Agora está completamente errado", diz Daniel Swain, cientista climático da Universidade da Califórnia, que também assinala que as páginas sobre impactos, riscos e indicadores das alterações climáticas no site da EPA estão agora com links que apontam para páginas inexistentes.

"Sei, com toda a certeza, que muitos professores e muitas pessoas usavam esta ferramenta. Na verdade, era um dos sites de informação sobre alterações climáticas mais bem concebidos e de fácil acesso dos EUA."

No início deste ano, a administração Trump removeu a avaliação climática nacional dos sites governamentais.

"É escandaloso que o nosso governo esteja a esconder informação e a mentir", afirma Jane Lubchenco, ex-dirigente da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) de Obama e oceanógrafa do estado do Oregon. "As pessoas têm o direito de saber a verdade sobre as coisas que afetam a sua saúde e segurança, e o governo tem a responsabilidade de dizer a verdade."

O que dizia o site da EPA antes das alterações?

Uma versão de outubro da mesma página da EPA, guardada pela Wayback Machine, dizia: "Desde a Revolução Industrial, as atividades humanas libertaram grandes quantidades de dióxido de carbono e outros gases com efeito de estufa para a atmosfera, o que mudou o clima da Terra. Processos naturais, como variações na energia do Sol e erupções vulcânicas, também afetam o clima da Terra. Contudo, não explicam o aquecimento observado no último século."

Agora lê-se: "Os processos naturais estão sempre a influenciar o clima da Terra e podem explicar as mudanças climáticas anteriores à Revolução Industrial, no século XVIII. No entanto, as mudanças climáticas recentes não podem ser explicadas apenas por causas naturais."

"Esta agência já não recebe ordens do culto climático"

"Ao contrário da administração anterior, a EPA de Trump está focada em proteger a saúde humana e o ambiente, enquanto impulsiona o Grande Regresso Americano, e não as agendas políticas de esquerda", disse Brigit Hirsch, porta-voz da EPA, num e-mail.

"Assim, esta agência já não recebe ordens do culto climático. E, para todos os escandalizados, o site está arquivado e disponível ao público."

Ao clicar em "explorar recursos sobre mudanças climáticas" no site arquivado da EPA, surge uma mensagem de erro: "Este ficheiro XML não parece ter nenhuma informação de estilo associada."

"Estamos a voltar à Idade da Pedra"

A ex-governadora republicana Christie Todd Whitman, que foi administradora da EPA durante o governo de George W. Bush, referiu: "Podemos recusar-nos a falar sobre isso, mas isso não faz com que o problema desapareça. E nós estamos a vê-lo. Todos estão a vê-lo."

"Francamente, parecemos ridículos", disse Whitman à Associated Press, em entrevista. "O resto do mundo percebe que isto está a acontecer e está a tomar medidas... E nós estamos apenas a retroceder. Estamos a voltar à Idade da Pedra."

A democrata Gina McCarthy, antiga responsável da EPA, criticou o atual chefe da agência, Lee Zeldin, chamando-lhe "um lobo em pele de cordeiro, que trava ativamente qualquer tentativa de proteger a nossa saúde, bem-estar e preciosos recursos naturais".

Quase 100% do aquecimento que o mundo está a sentir resulta da atividade humana e, sem isso, a Terra estaria a arrefecer e a descer de temperatura desde a Revolução Industrial, dizem Swain e outros cientistas. As causas naturais listadas pela EPA "podem estar a provocar uma quantidade muito pequena de aquecimento ou arrefecimento neste momento", acrescenta.

Cientistas defendem que o clima está a mudar como resultado da atividade humana

Marcia McNutt, geofísica e presidente da Academia Nacional de Ciências, afirma que existe um consenso entre os especialistas da Academia Nacional de Ciências, Engenharia e Medicina (NASEM) sobre as causas das alterações climáticas.

"Numerosos relatórios da NASEM, assinados por cientistas de referência do país, confirmam que o clima está a mudar devido às atividades humanas", constata McNutt. "Até mesmo a EPA reconhece que as causas naturais não podem explicar as mudanças climáticas atuais. É importante que o público tenha acesso a todos os factos."

Jeremy Symons, ex-consultor climático da EPA e atualmente conselheiro sénior da Environmental Protection Network, rede de antigos funcionários da agência, afirma: "Ignorar a poluição causada pelos combustíveis fósseis como a força motriz por detrás das alterações climáticas que temos visto ao longo da nossa vida é como fingir que os cigarros não causam cancro do pulmão."

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