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Desinformação lança dúvidas antes da COP30 apesar da confiança na política climática

Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva preside sessão plenária da COP30, Cimeira do Clima da ONU, em Belém, Brasil, quinta-feira, 6 de novembro de 2025
Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva preside a uma sessão plenária da Cimeira do Clima da ONU (COP30) em Belém, Brasil, quinta-feira, 6 de novembro de 2025 Direitos de autor  Copyright 2025 The Associated Press. All rights reserved.
Direitos de autor Copyright 2025 The Associated Press. All rights reserved.
De Hannah Docter Loeb
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Novo relatório analisa o ecossistema online da desinformação sobre o clima

A maioria da população mundial apoia políticas para enfrentar as alterações climáticas. Ainda assim, a desinformação climática continua disseminada, sobretudo online.

Um novo relatório da organização de vigilância Climate Action Against Disinformation (CAAD) analisou a desinformação climática nas vésperas da COP30 e os principais atores que a alimentam. Constatou um aumento acentuado de conteúdos enganadores ligados à conferência climática da ONU.

Como se manifesta

87% da população mundial apoia políticas para enfrentar as alterações climáticas, segundo um inquérito de 2024. De acordo com a YouGov, entre 62% e 76% dos europeus estão preocupados com as alterações climáticas.

Mas a desinformação continua a gerar ceticismo.

Há uma diferença significativa entre informação errónea e desinformação. Informação errónea é conteúdo falso ou fora de contexto apresentado como facto. Desinformação, por sua vez, é conteúdo deliberadamente falso, feito para enganar o público.

No início do ano, o CAAD e o Observatory for Information Integrity (OII) detetaram um aumento de 267% na desinformação relacionada com a COP entre julho e setembro.

Identificaram cerca de 14 000 exemplos online. Um caso ilustrativo foi uma publicação, criada por inteligência artificial generativa, com um repórter numa cidade inundada semelhante a Belém, ondeCOP30está a decorrer. O vídeo apresentava no ecrã o título “A VERDADE SOBRE A COP30 EM BELÉM EM 2025” para atrair visualizações. Mas o repórter, a cheia e até a cidade eram totalmente fictícios.

Uma análiserecente do OII concluiu também que a COP30 era tema recorrente em grupos brasileiros no Telegram dedicados a teorias da conspiração. O OII identificou mais de 285 menções à COP30: atacavam a própria conferência, Belém e soluções climáticas em geral.

À escala global, a desinformação climática tem sido promovida também pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Em setembro, chamouàs alterações climáticas a “maior fraude”.

Quem alimenta a desinformação climática

O novo relatório do CAAD analisa os principais atores que contribuem para o ecossistema de desinformação, travando a ação climática ao semear dúvidas junto dos públicos.

Empresas que queimam combustíveis fósseis para energia e transportes, e a agricultura de grande escala (designada Big Carbon) estão entre os principais disseminadores de desinformação climática.

“A desinformação da Big Carbon é concebida para levar as pessoas a subestimarem a força do consenso científico sobre as alterações climáticas”, lê-se no relatório. “Está também a levar as pessoas a subestimarem a força da solidariedade na exigência de ação.”

Mas as empresas tecnológicas também têm responsabilidade por permitirem que estas mensagens se propaguem sem controlo. Estes problemas não são novos e já afetaram conferências do clima no passado.

Um relatórioanterior do CAAD concluiu que, nas vésperas da COP28, empresas de combustíveis fósseis pagaram até 5 milhões de dólares (4,3 milhões de euros) por anúncios de desinformação climática no Facebook. A Shell, a ExxonMobil, a BP e a TotalEnergies foram os principais financiadores, responsáveis por 98% dos anúncios.

“Ao espalhar-se de forma rápida e barata através de redes sociais e motores de busca online (Big Tech), esta desinformação está a minar políticas e a sabotar a ação”, diz o novo relatório.

Desinformação climática em debate na COP

Pela primeira vez, a conferência do clima deste ano inclui a Global Initiative for Information Integrity on Climate Change. Trata-se de um esforço conjunto do Governo brasileiro, das Nações Unidas e da UNESCO, dedicado a reforçar a investigação e as medidas para enfrentar campanhas de desinformação

No Leaders Summit de 6 de novembro, o Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e o Presidente francês, Emmanuel Macron, alertaram para os perigos da desinformação climática.

“Forças extremistas fabricam notícias falsas para obter ganhos eleitorais e aprisionam as gerações futuras num modelo ultrapassado que perpetua desigualdades sociais e económicas e a degradação ambiental”, disse Lula.

Macron reforçou a mensagem.

“A desinformação climática ameaça hoje as nossas democracias, a agenda de Paris e, por isso, a nossa segurança coletiva”, afirmou. No início do ano, um relatório concluiu que os média franceses difundiam desinformação climática, ampliando narrativas que desacreditam a ciência do clima e as soluções climáticas.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, também condenou as empresas que lucram com esta desinformação.

“Demasiadas empresas estão a obter lucros recorde com a devastação climática, com milhares de milhões gastos em lobbying, em enganar o público e em travar o progresso”, disse. “Demasiados líderes continuam cativos destes interesses entranhados.”

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