Christiana Figueres: O acordo da COP21 "baseia-se nos interesses nacionais"

Christiana Figueres: O acordo da COP21 "baseia-se nos interesses nacionais"
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Christiana Figueres é secretária-executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (UNFCCC) desde julho de 2010. Após

Christiana Figueres é secretária-executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (UNFCCC) desde julho de 2010.
Após cinco cimeiras, a diplomata da Costa Rica arrancou, em Paris, um acordo histórico. A euronews entrevistou-a em Davos, na Suíça.

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Isabelle Kumar, euronews: Christiana Figueres, obrigada por estar connosco. Porque pensa que o acordo sobre o clima vai funcionar?

Christiana Figueres: Bem, porque se fundamenta em pilares muito fortes, que são os interesses nacionais. Temos 188 mudanças climáticas produzidas por 188 países que analisam o que podem fazer face às alterações climáticas. Vamos avançar tendo por base as próprias perspetivas dos interesses nacionais. E isso, penso, é uma base muito sólida.

euronews: E a implementação? Conseguir o acordo foi difícil, mas implementá-lo será ainda mais.

C. Figueres: Será mais difícil, sem dúvida. Evoquei as dificuldades sem minimizá-las. Disse que a parte difícil começa agora. Mas, felizmente não partimos do zero. Já há uma grande quantidade de iniciativas e ações em curso. Na verdade, a implementação é, em parte, certificar-nos que tudo funciona e avança. Então, a um nível superior, é alinhar a força e o ímpeto da tecnologia, da finança e da política, alinhar todos os aspetos, para avançar com a descarbonização.

euronews: Cada país é livre de fixar os próprios objetivos. Como pode ter a certeza de que não fazem apenas o mínimo necessário?

C. Figueres: Bom, sabemos em que ponto estão. É a linha de base. O importante é saber para onde querem ir. E isso já foi estabelecido. Será um processo contínuo de melhorias, porque a cada cinco anos, terão de sentar-se à mesa e mostrar aos outros o que fizeram e o que mais podem fazer. O mais importante é a direção escolhida.

euronews: E quando não avançam?

C. Figueres: Quando não cumprem ficarão sob elevada pressão dos restantes parceiros. Mas o mais importante é que veem claramente os próprios interesses. É do seu interesse o desenvolvimento nacional. Há um interesse económico mundial e nacional. Há, por isso, grandes incentivos, porque há criação de empregos, haverá a criação de novas indústrias, maior segurança energético, melhores transportes, uma melhoria da saúde. Há o alinhamento de um número extraordinário de incentivos.

euronews: Em relação aos preços baixos do pretróleo. Vão afetar a implementação? O FMI tem receios.

C. Figueres: Curiosamente, não afetou, talvez venha a afetar, mas para já não. O que fez até agora é eliminar muitas explorações petrolíferas muito caras e que teriam de modernizar-se. É melhor terem-se afastado agora, porque dependiam de preços muito mais altos. Em definitivo, deve ser removido tudo o que é caro, como a perfuração em águas profundas, a perfuração do Ártico, o gás ácido, tudo o que na realidade deve permanecer no solo, porque já não precisamos e porque são caros. Agora, acho que a indústria energética está a focar-se e a realinhar-se com os baixos custos do petróleo, com as reservas de gás, o que é, talvez, o melhor a fazer.

euronews: Em relação às presidenciais norte-americanas. Sabemos que há candidatos presidenciais que não defendem essa linha. Está preocupada?

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C. Figueres: Penso que o público americano será capaz de fazer a diferença. Sabe, é muito triste que a questão se tenham tornado um tema partidário nos Estados Unidos, porque certamente não o é. Trata-se de competitividade económica, que devia unir todos nos Estados Unidos. É sobre “qual é o país que vai produzir a melhor energia renovável?” Não apenas nesse setor, mas também eficiência energética, medição inteligente. “Qual é o país que vai fabricar a tecnologia do futuro?”. “Será que os Estados Unidos querem ficar atrás da China em relação ao futuro?” Espero que não.

Patrícia Cardoso (tradução)

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