Haia: Gbagbo começa a ser julgado no TPI

O ex-presidente da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo, de 70 anos, e o aliado, Charles Ble Goude, de 44, começam esta quinta-feira a ser julgados no Tribunal Penal Internacional em Haia, na Holanda.
Respondem por quatro acusações de crimes contra a Humanidade, incluindo assassinato, violação e perseguição, durante as convulsões políticas que assolaram o país africano entre 2010 e 2011.
Cerca de 3.000 pessoas morreram na crise de cinco meses durante a qual Laurent Gbagbo se agarrou ao poder na Costa do Marfim, recusando-se a admitir a derrota nas eleições presidenciais de novembro de 2010, ganhas por Alassane Ouattara.
O episódio desencadeou uma crise internacional, com a União Europeia, os Estados Unidos e a antiga potência colonial França a reconhecerem Ouattara como o vencedor.
Semanas de tensão arrastaram-se para um sangrento impasse de cinco meses, com Gbagbo escondido no palácio presidencial, até ser detido pelas tropas de Ouattara, auxiliadas por forças francesas e da ONU.
Laurent Gbagbo, extraditado para Haia em 2011, é o primeiro ex-chefe de Estado a ir a julgamento no TPI e “o objetivo do julgamento é descobrir a verdade através de um processo estritamente legal”, segundo Fatou Bensouda, procuradora daquela instância.
“O nosso caso é baseado na lei e na força das provas que os nossos investigadores recolheram”, afirmou ainda a responsável, acrescentando que o julgamento decorrerá “com toda a justiça e toda a imparcialidade”.
Por seu lado, o advogado de defesa de Gbagbo, Emmanuel Altit, insistiu hoje, numa conferência de imprensa nas novas instalações permanentes do TPI em Haia, que se trata de “um julgamento importante para a Costa do Marfim e para África”, pois “tornará possível esclarecer e compreender os acontecimentos trágicos que ocorreram no país”.
O advogado de defesa de Ble Goude, Geert-Jan Alexander Knoops, disse, por seu turno, que o seu cliente é “um homem de paz”, acrescentando que “a imagem que dele foi pintada não é um verdadeiro reflexo do seu caráter”.
Em Abidjan, o porta-voz do governo, Bruno Kone, disse que o julgamento deve “servir de lição” para todos, incluindo “as personalidades políticas”, de modo a que o país não volte a passar por algo semelhante.
Entretanto, apoiantes de Gbagbo alegam que a acusação está a basear o caso na versão contada pelo lado de Alassane Ouattara, que foi reeleito em 2015 para um segundo mandato como Presidente da Costa do Marfim.
Nesse sentido, a procuradora Fatou Bensouda advertiu os jornalistas para não se deixarem influenciar por informação falsa, assegurando que “nenhumas testemunhas foram retiradas” do processo, que deve levar três a quatro anos a ficar concluído, com os procuradores a apresentarem 5.300 elementos de prova, incluindo vídeos, bem como 138 testemunhas.