Diretor-geral da IOM critica instrumentalização política da migração

António Vitorino passou por Lisboa e deu uma entevista à RTP
António Vitorino passou por Lisboa e deu uma entevista à RTP Direitos de autor Programa 360/ RTP
De  Francisco Marques
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Em entrevista ao programa 360, da RTP, António Vitorino não enunciou alvos das críticas, mas sublinhou também as alterações climáticas no agravamento da mobilidade humana no planeta

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O diretor-geral da Organização Internacional das Nações Unidas para as Migrações (IOM, na sigla original) critica os políticos populistas que exploram o medo das pessoas através das atuais vagas intensas de migração pelo mundo para ganharem força.

De passagem por Lisboa, primeiro com uma intervenção no Seminário Diplomático dos embaixadores portugueses e mais tarde com uma entrevista ao programa 360, da RTP, António Vitorino comentou a atual situação dos migrantes no mundo e pediu "coragem" aos políticos numa gestão maias humana da atual crise migrante.

Pela tarde, Vitorino considerou que "o crescimento da vaga populista vai de par com o retrocesso da cooperação internacional", apontando o dedo às "decisões unilaterais de abandono de organizações e de acordos internacionais", como o Pacto Gobal para as Migrações, da qual se afastou recentemente também o Brasil, de Jair Bolsonaro.

O diretor-geral da IOM deu como exemplo, aos embaixadores portugueses, o caso alemão do AfD. "Nunca passou de um partido marginal. A partir do momento em que fez das migrações o centro da sua política, disparou", considerou, explicando que a "deriva populista alimenta-se do ressentimento dos perdedores da globalização e dos que olham para os migrantes como resultado da pressão globalizadora."

À noite, na RTP, Vitorino defendeu que "algumas forças políticas pretendem utilizar as migrações e instrumentaliza-las como o bode expiatório fácil para um conjunto de males sociais que existem nas sociedades desenvolvidas e que vão muito para além da específica questão das migrações."

Estas declarações surgem numa altura em que o Brasil, um dos principais destinos dos venezuelanos em fuga, tem um novo governo assumidamente contra a imigração e em que o presidente dos Estados Unidos, mesmo com o respetivo governo suspenso devido a isso, insiste no financiamento de um muro na fronteira como México.

Donald Trump publicou inclusive esta quinta-feira um vídeo muito controverso a associar a atual vaga de migrantes a tentar cruzar a fronteira à criminalidade americana.

De acordo com os números divulgados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), há cerca de quatro mil migrantes atualmente retidos na fronteira entre o México e os Estados Unidos.

No Mediterrâneo, em 2018, o mesmo organismo estima terem morrido menos gente na travessia rumo à Europa, tal como terá havido bem menos gente a fazer-se ao mar em busca do sonho europeu.

Sobre estes últimos, António Vitorino analisou os números à proporção e com uma perspetiva negativa.

"Podemos dizer que há mais mortos (2262 contra 3139 no ano anterior) em relação ao número de travessias (113.482/ 172.301)", interpretou o líder da IOM, ressalvando o ligeiro aumento de 1,8 mortos por cada 100 travessias de 2017 para 2 mortos por cada 100 em 2018.

Para Vitorino, o grande motivo para a diminuição de travessias passa pelos "controlos à partida hoje mais eficazes". "Há um melhor funcionamento da guarda costeira da Líbia, que permite dissuadir as pessoas de empreender esta jornada quase suicida. Isto prova que é necessário ter uma ação mais dissuasiva para persuadir as pessoas de que este não é o caminho", sublinhou.

Pode não ser o caminho, mas esta travessia do Mediterrâneo rumo à Europa continua a ser uma das mais procuradas e é ainda rota mais perigosa do planeta para os migrantes. Há menos gente a fazer-se ao mar, mais ainda são milhares os que ficam pelo caminho.

Alguns estão em fuga de situações perigosas, outros apenas em busca de uma vida melhor e, entre estes, há quem esteja a ser "empurrado" por um problema cada vez mais grave, negligenciado também por alguns governos como o dos Estados Unidos ou agora também o do Brasil: as alterações climáticas.

"As alterações climáticas não é só o CO2 que está na atmosfera. É a alteração da vida das pessoas. Em muitas zonas da África Central, o que se está a verificar é que com a falta de água -- e a água vai ser sem dúvida a questão central do século XXI -- as pessoas têm de abandonar os campos e vêm para as cidades, mas muitas vezes as cidades desses países não têm condições para os acolher", disse António Vitorino.

O diretor-geral da IOM considera as alterações climáticas e as consequentes condições extremas que se criam outro dos grandes impulsionadores da mobilidade humana intercontinental nas próximas décadas.

Outras fontes • RTP, IOM, ACNUR

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