Brexit e Theresa May entre o não acordo e o adiamento

O futuro do Brexit e da primeira-ministra britânica, Theresa May, é cada vez mais incerto, depois da segunda rejeição do acordo negociado com Bruxelas no parlamento, em Londres.
A votação de 391 votos contra e 242 a favor não deixou dúvidas. No entanto, a grande dúvida agora é quando, como e mesmo se a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) vai ou não acontecer. Com o prazo de 29 de março cada vez mais perto, agudiza-se a crise política em Londres, que hoje vota por uma eventual saída sem acordo.
Tudo aponta para um novo chumbo e o consequente pedido de extensão do artigo 50 do Tratado de Lisboa - que define as condições de saída de um estado membro da UE -, a ser votado na quinta-feira.
Em defesa do acordo negociado com Bruxelas - até a voz lhe doer -, a primeira-ministra britânica avisou que o adiamento não é uma solução definitiva.
"Votar contra a saída sem acordo ou por uma extensão [do prazo do “Brexit”] não resolve os problemas que enfrentamos. A UE quererá saber que uso vamos dar a dessa extensão e a câmara terá de responder", afirmou a líder do Executivo britânico.
A resposta da oposição foi clara e imediata, com o líder trabalhista Jeremy Corbyn a exigir a marcação de eleições: "A primeira-ministra esgotou o tempo e agora o tempo esgotou-a. Talvez seja a hora de realizar eleições para o povo poder escolher quem quer para o governo."
Ecos de frustração desde Bruxelas
Pouco depois de ser conhecido o resultado da votação, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, reforçou a expetativa do cenário de adiamento. Contudo, Tusk não deixou de alertar que os 27 esperam justificações válidas do Reino Unido e que o regular funcionamento das instituições comunitárias não é colocado em causa.
A mesma mensagem foi transmitida por Michel Barnier no Twitter. O negociador de Bruxelas para o Brexit afirmou que a "União Europeia já fez tudo o que era possível e que o impasse tem de ser resolvido no Reino Unido".
E o impasse pode crescer ainda mais com as crescentes vozes a apontar para a queda de Theresa May. "É um desastre horrível e uma tragédia para nosso país... ela também vai perder o emprego, provavelmente mais cedo do que tarde, porque acho que o Partido Conservador já está farto", sublinhou o deputado trabalhista Peter Mandelson à Euronews.
Nas ruas crescem os protestos e a ansiedade dos britânicos, com a quinta maior economia mundial presa numa encruzilhada. Sair sem acordo, adiar a retirada, convocar eleições ou fazer um novo referendo - é com estas opções e em contrarrelógio que o Reino Unido joga o seu futuro.