A Amazónia está a arder e não apenas no Brasil. A Bolívia perdeu dois milhões de hectares de floresta desde julho. O governo de La Paz foi obrigado a pedir a intervenção da União Europeia
Mais de 224 mil incêndios esventraram a bacia da Amazónia este ano. 12 milhões de hectares foram queimados. Entre Julho e Setembro, na Bolívia, mais de 2 milhões de hectares de floresta e savana foram reduzidos a cinzas. Há mais de 5 mil pessoas envolvidas no combate às chamas. Bombeiros, militares e voluntários foram mobilizados.
Terra formosa, mas pouco segura
A floresta à volta da Comunidade de Tierra Hermosa está bordada pelo fogo. É assim em toda a região de Chiquitanía, no distrito de Santa Cruz, a zona mais afectada na Bolívia, especialmente desde Julho. Os habitantes estão na primeira linha de combate aos incêndios. Têm agora a ajuda de militares e voluntários, mas continuam a perder a luta contra as chamas.
Reynaldo Rodríguez, residente em Tierra Hermosa, explica que se juntaram "em grupos para travar o fogo". Conta que apesar do esforço diário, "os incêndios continuam a avançar; as chamas passam através dos ramos e, por causa das faúlhas, um fogo pode pegar a 30 ou 40 quilómetros de distância". "Não conseguimos apagá-los," desabafa.
Entre as principais causas dos incêndios, os peritos apontam o chaqueo. É uma prática ancestral de queimada que consiste no corte das árvores e plantas que são depois incendiadas. Com as altas temperaturas e os ventos fortes, esta é uma prática que facilmente fica fora de controlo. O chaqueo serve para desbravar terreno e fertilizar solos, mas tem destruído também culturas e explorações de gado. Foi o que aconteceu ao terreno de Eleutério Álvarez. "Desapareceu tudo. É carvão. O que aqui produzimos serve para vender na cidade e consumir em casa. Agora não sei o que vamos fazer," diz.
Ajuda da União Europeia
Uma equipa de 40 bombeiros franceses altamente especializados chegou à região no início de setembro. São a primeira resposta da União Europeia ao pedido de ajuda do governo da Bolívia. Um apelo que desencadeou o Mecanismo de Proteção Civil da União Europeia.
"O nosso equipamento está aqui à frente: uma enxada que nos permite retirar os materiais combustíveis e as mochilas anti-incêndio. Os bombeiros transportam as mochilas às costas. Levam cerca de 20 litros de água," explica Rodolphe Avenel, um dos bombeiros franceses destacados.
A água é difícil de transportar e por isso é usada de forma parcimoniosa. É um desafio em termos de logística para as equipas que têm de se deslocar entre as bases operacionais em San Ignacio e as zonas de incêndio. Em San Ignacio está o Centro de Coordenação do Apoio de Emergência da União Europeia onde trabalham oito peritos europeus.
A liderar a equipa, o espanhol Iván Hernández, detalha as principais tarefas do Centro. "No início precisámos coordenar a ajuda que os estados-membros ofereceram. Agora, colaboramos na coordenação e orientação das equipas e equipamentos enviados para o terreno. Aconselhamos as autoridades sobre a melhor forma de usar estes recursos e a responder às situações de emergência," conta.
A União europeia apoiou a Bolívia com equipamento, equipas e informação através, por exemplo, das imagens de satélite do sistema Copernicus. O programa europeu de observação da Terra oferece à Bolívia dados em tempo real sobre os incêndios o que torna o combate no terreno mais eficaz.