Teerão garante que não vai tardar a retaliação contra os EUA pelo assassinato de Qassem Soleimani, o número dois do regime iraniano.
Três dias de luto e a promessa de uma resposta "implacável" contra os Estados Unidos: o Irão garante que não vai tardar a retaliação pelo assassinato de Qassem Soleimani, o número dois do regime iraniano. Vários analistas falam em "consequências devastadoras e imprevisíveis".
Os destroços do veículo onde seguia Qassem Soleimani, junto ao aeroporto internacional de Bagdad, atestam a violência do ataque aéreo lançado pelos Estados Unidos.
O general iraniano que era considerado, na prática, como um dos homens mais poderosos do Médio Oriente, morreu juntamente com Abu Mahdi al-Muhandis, o responsável pelas forças paramilitares xiitas no Iraque.
O general Esmail Ghaani é a figura do regime que vai substituir o agora mártir Soleimani. A onda de choque que invadiu o Irão não tardou a ganhar forma de resposta: a vingança, promete-se, será "implacável".
"Os movimentos de resistência no Iraque, na Síria, no Líbano e em todo lado estão de luto por Soleimani e querem vingança pelo sangue derramado", declarou Ahmad Khatami, da Assembleia de Peritos do Irão.
O ayatollah Ali Khamenei fala mesmo em Soleimani como o "símbolo internacional da resistência". O Irão mergulhou em três dias de um luto que não vai dissipar-se tão cedo.
"Qassem não era apenas um combatente. Ele representava a esperança dos oprimidos de todo o mundo", dizia-nos uma iraniana. Um homem vaticinava: "Neste mesmo dia, há vários Qassem Soleimanis a nascer".
A morte de Soleimani
Donald Trump ordenou um ataque aéreo para matar Qassem Soleimani, general da Guarda Revolucionária do Irão. Soleimani era o líder da Al-Quds, uma das forças de elite da guarda iraniana, e era um dos militares mais poderosos do país. No ataque, que aconteceu esta noite no aeroporto de Bagdad, morreu também Abu Mehdi al-Muhandis, da coligação de grupos paramilitares pró-iranianos no Iraque.
A morte de Soleimani está a agravar ainda mais a tensão entre Irão e Estados Unidos. Na terça-feira, a embaixada norte-americana em Bagdad foi atacada na sequência de um bombardeamento aéreo dos Estados Unidos que matou 25 combatentes da milícia iraquiana. O ataque à embaixada durou dois dias e só terminou depois de Trump anunciar o envio de mais 750 soldados para o Médio Oriente.
Depois da morte do general Soleimani, o Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irão convocou uma reunião de emergência.
Reações
Segundo um comunicado do secretário de Estado da Defesa dos Estados Unidos, Soleimani estava a desenvolver planos para atacar diplomatas americanos no Iraque e na região. Com a Al-Quds, a força de elite iraniana, foi responsável pela morte de centenas de norte-americanos e elementos da coligação. O Departamento de Defesa também acusou Soleimani de aprovar o assalto inédito à embaixada dos Estados Unidos em Bagdad.
O Secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, publicou um vídeo com imagens do que descreve como "iraquianos a dançar nas ruas" para celebrar a morte do general iraniano Qassem Soleimani.
IRÃO
O presidente iraniano, Hassan Rohani, disse que o martírio do general Soleimani aumenta a vontade da nação persa de resistir à agressão dos Estados Unidos.
Muhammad Javad Zarif, ministro das Relações Exteriores do Irão, afirmou que o assassinato de Soleimani foi "uma escalada extremamente perigosa e imprudente" e que Washington "é responsável por todas as consequências do seu espírito aventureiro desonesto".
O líder supremo do Irão, o Ayatollah Ali Khamenei, prometeu "vingar a morte do poderoso general iraniano Qassem Soleimani" e declarou um período de luto nacional de três dias.
Mohsen Rezai, antigo líder da Guarda Revolucionária iraniana deixa um aviso claro a Washington: "Soleimani juntou-se aos nossos irmãos mártires, mas a nossa vingança contra a América será terrível".
Comunidade Internacional
"O assassínio de Soleimani (...) é um passo arriscado que levará ao aumento das tensões na região", declarou o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, citado pelas agências RIA Novosti e TASS. "Soleimani serviu fielmente os interesses do Irão. Oferecemos as nossas sinceras condolências ao povo iraniano", acrescentou o Ministério russo.
A França pediu "estabilidade" no Médio Oriente. Em declarações à rádio RTL, a secretária de Estado para os Assuntos Europeu disse que " quando estas operações ocorrem, podemos ver claramente que a escalada está em andamento".
A China mostrou "preocupação" e pediu "calma". Em declarações aos jornalistas, o porta-voz da diplomacia chinesa, Geng Shuang, pediu " a todas as partes envolvidas, especialmente aos Estados Unidos, que mantenham a calma e contenção para evitar nova escalada da tensão".
Petróleo dispara mais de 3%
Depois do ataque ao aeroporto do Iraque, o petróleo começou a disparar nos mercados internacionais. Os preços da matéria-prima registaram valorizações de mais de 3% tanto em Londres como nos EUA. Os investidores estão receosas e temem uma escalada da tensão entre Washington e Teerão.