Reino Unido poderá enfrentar escassez de alimentos

Reino Unido poderá enfrentar escassez de alimentos
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De  Joao Duarte Ferreira

Com ou sem acordo do Brexit existe um risco acrescido de falta de alimentos nos supermercados britânicos

Para os apreciadores britânicos de queijo, é aqui que a magia acontece. Blocos de queijo provenientes de todo o mundo são cortados e distribuidos para consumo. A empresa Harvey and Brockless assenta no apetite britânico por produtos de qualidade.

A saída do Reino Unido da União Europeia levou o proprietário a procurar versões locais de produtos estrangeiros.

"Estou a pensar na charcutaria vinda de França, Itália e Espanha. Agora vemos muitos produtores locais que estão a criar os seus próprios produtos"; afirma o proprietário, Nick Martin.

Os preços subiram devido à queda no valor da libra. Se não houver acordo a fim de se evitarem taxas aduaneiras entre o Reino Unido e a União Europeia são os clientes que acabarão por sofrer.

"As taxas sobre os lacticínios importados da UE pode chegar até aos 30% e isso é algo que teremos de passar aos nossos clientes. Mas existem ainda as declarações alfândegárias. O produtor que exporta para a UE tem que preencher declarações. Enquanto importadores, nós também temos que efetuar declarações e isso implica custos", explica NIck Martin da Harvey & Brockless, com sede no Reino Unido.

As taxas aduaneiras sobre produtos quotidianos variam:

Dez por cento sobre alfaces; 48% sobre a carne picada, são dois exemplos comuns.

Os comerciantes britânicos estimam que os consumidores vão pagar 3,4 mil milhões de euros a mais todos os anos.

"Trata-se de um custo que não pode ser absorvido pelos comerciantes ou empresas. Produtos como queijo ou carne podem subir até um terço. O consumidor sai a perder. Os consumidores britânicos querem produtos europeus de excelente qualidade e os consumidores europeus também ficam a perder. Todos perdem" segundo William Bain, diretor de estratégia do Brexit da Associação Britânica de Comércio a Retalho.

O rep´órter da euronews, Tadhg Enright, acrescenta:

"A ameaça que empresas como esta enfrentam não vem apenas das taxas. As variações no câmbio da moeda e os atrasos na fronteira são outros desafios. E isso pode acontecer mesmo com um acordo".

"Para os nossos fornecedores italianos de produtos de vida curta como mozzarella ou bocaccini, se ficam cinco dias fechados num camião isso compromete a validade do produto. Será difícil manter continuidade nos abastecimentos", afirma Nick Martin.

Por esta altura no ano passado em que o Brexit dominava a agenda política, a ideia de escassez nos supermercados parecia algo muito distante.

Mas agora, depois de passarmos por esta pandemia, tornou-se mais claro o que a escassez de produtos significa e os efeitos no comportamento dos consumidores.

Algo que dá que pensar.

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