Flexibilidade, mão-de-obra barata e inovação fazem indústria têxtil portuguesa recuperar. Sindicatos dizem que trabalhadores portugueses continuam a ser sacrificados
Os têxteis de qualidade, duráveis e de baixo custo, produzidos em Portugal voltam a estar na moda. O setor mostra grande dinamismo, no país, depois da crise da vaga das deslocalizações no início deste milénio.
Graças à sua flexibilidade e mão-de-obra barata, combinadas com um esforço de inovação centrado na sustentabilidade, a indústria têxtil portuguesa está recuperar.
Em 2021 registou um crescimento de 16,5%, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística.
O presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, Mário Jorge Machado, afirma que "Portugal tem como perspetiva e como visão ter o setor têxtil mais sustentável do planeta. Queremos ser totalmente descarbonizados nos próximos 10 a 15 anos". Já existem aqui muitas empresas no setor têxtil que têm uma produção industrial descarbonizada de cerca de 70%"
"A indústria têxtil portuguesa tem uma história que abraçou, mas que ao mesmo tempo avançou com enfoque na inovação, investigação e sustentabilidade. Estes são os ingredientes para ter uma indústria têxtil moderna e competitiva. Penso que isso é, de certa forma, o sucesso da indústria têxtil portuguesa de hoje" sublinha o diretor-geral da Euratex, Dirk Vantighem.
Um êxito que pode estar em risco devido à crise energética, que atinge a Europa, mas também à falta de mão-de-obra. Para os sindicatos, não basta que se invista apenas na inovação dos produtos, é necessário investir, também, em melhores condições de trabalho e em melhores salários.
A Coordenadora da Direção Nacional da FESETE - Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores Têxteis, Lanifícios, Vestuário, Calçado e Peles de Portugal afirma que "não basta fazer produtos sustentáveis, ao nível do ambiente, criar inovação, apostar em novos equipamentos para responder a essas necessidades. Depois, também, é preciso olhar para os postos de trabalho e dar condições aos trabalhadores para que desenvolvam a sua atividade em condições de segurança."Isabel Tavares avança, ainda que "na mentalidade dos empresários portugueses, as questões de segurança para os trabalhadores ainda estão aquém para aquilo que devia ser a realidade, E depois, também, os baixos salários. Os nossos trabalhadores estão com salários muito próximos do salário mínimo nacional (705€), o que não é motivador, não é atrativo em particular para os jovens."
Portugal tem cerca de seis mil empresas no setor têxtil, que emprega 140 mil trabalhadores, estando a esmagadora maioria localizada no norte do país.
O setor representa um volume de negócios de oito mil milhões de euros.