A Feira do Livro de Moscovo está ensombrada pelas preocupações com a censura. Editores e livreiros temem os efeitos das novas leis
Os editores e livreiros russos temem que as leis contra a comunidade LGBTQ+ e os chamados "agentes estrangeiros" que têm vindo a ser aprovadas após a invasão da Ucrânia possam afetar todo o tipo de livros.
Na Feira do Livro de Moscovo muitos manifestam preocupação, como Evgeny Kopyov, representante de uma editora, que afirma: "Se estas regras estiverem a ser interpretadas extensivamente, isto poderá afetar um grande volume de literatura, incluindo a clássica. Tudo dependerá da forma como comunicarmos com as autoridades reguladoras".
Para além disso, os editores acreditam que haverá um duplo tipo de censura, a imposta pelo Estado e a imposta pelos próprios autores.
Marina Kadetova, editora-chefe, comenta: "Há muitas e muitas restrições. Claro que elas afetam o trabalho de uma editora, especialmente a autocensura. Os editores, em geral, estão assustados".
Alguns veem na censura uma oportunidade, uma forma de publicidade gratuita para um livro, porque, dizem, quanto mais proibida, mais interessante a obra se torna para o público.
Muitos lembram o samizdat, ou produção clandestina de livros que as pessoas liam às escondidas nas caves, durante a era soviética.
Desde que Vladimir Putin enviou tropas para a Ucrânia a 24 de fevereiro, as autoridades russas reforçaram os controlos sobre o fluxo de informação, incluindo nas artes.
Na semana passada, os legisladores aprovaram um projeto de lei que proíbe todas as formas de "propaganda" LGBTQ em livros, filmes, meios de comunicação e internet.
As autoridades também querem proibir a venda a menores de livros escritos por "agentes estrangeiros" - um rótulo dado a críticos e ativistas do Kremlin, mas também a um número crescente de escritores.
Muitos editores estão à espera que as autoridades esclareçam o que acreditam ser ou não "propaganda" LGBTQ+, mas algumas livrarias em São Petersburgo já se livraram de livros problemáticos, oferecendo descontos até 50 por cento, de acordo com os meios de comunicação locais.