Chefe da UNRWA denuncia "campanha concertada" para fechar a agência

Milhares de palestinianos abandonam o norte da Faixa de Gaaza para fugir à fome.
Milhares de palestinianos abandonam o norte da Faixa de Gaaza para fugir à fome. Direitos de autor AP Photo
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Líder da Agência de assistência aos refugiados palestinianos alerta que em breve pode ficar sem dinheiro para manter a atividade devido à "desinformação" de Israel. Milhares de pessoas fogem à fome no norte de Gaza. 16 crianças morreram de subnutrição, avançam fontes médicas.

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O diretor da Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina (UNRWA), afirmou esta segunda-feira que a  "está a enfrentar uma campanha deliberada e concertada para minar as suas operações" e, em última instância, pôr fim à sua atividade.

Philippe Lazzarini afirmou que a UNRWA está num "ponto de rutura" e que em breve pode ficar sem condições cumprir o seu mandato devido aos cortes de financiamento decorrentes das alegações de Israel de que os trabalhadores da agência foram cúmplices dos ataques do Hamas em outubro.

Num discurso na Assembleia Geral da ONU, Lazzarini acusou Israel de levar a cabo uma campanha de desinformação contra a UNRWA:

"As operações da Agência são mandatadas por esta Assembleia e parte desta campanha passa por inundar os doadores com desinformação destinada a fomentar a desconfiança e a manchar a reputação da Agência. Mais flagrante ainda é o facto de o primeiro-ministro israelita ter declarado abertamente que a UNRWA não fará parte da Gaza do pós-guerra", afirmou.

Lazzarini acrescentou que a execução deste plano já está em curso com a "destruição" das infraestruturas da UNRWA "em toda a Faixa de Gaza".

Para Lazzarini, "só a UNRWA tem a capacidade de prestar serviços, incluindo educação e cuidados de saúde primários em grande escala, na ausência de uma autoridade estatal de pleno direito".

"O fornecimento de educação a meio milhão de crianças profundamente traumatizadas que vivem entre escombros está claramente ausente das discussões sobre a transferência da prestação de serviços em Gaza", salientou o chefe da UNRWA.

Isrel insiste na "ligação clara entre terroristas do Hamas e a UNRWA"

O porta-voz das Forças de Defesa de Israel alegou esta segunda-feira que mais de 450 funcionários da UNRWA são "agentes de grupos terroristas em Gaza".

Daniel Hagari acusou também o Hamas de explorar as organizações humanitárias para cometer crimes contra a humanidade e de receber salários financiados por donativos da comunidade internacional destinados à ajuda humanitária em Gaza.

Israel reitera que existe uma "ligação clara entre os terroristas do Hamas e a UNRWA" e até dá nomes do que diz serem funcionários da agência envolvidos no "massacre de 7 de outubro". 

"O pior ainda está para vir", avisa chefe da UNRWA

O número de crianças que morreram devido a subnutrição e a cuidados médicos inadequados em Gaza aumentou para 16, informaram fontes médicas, depois de o Ministério da Saúde de Gaza ter confirmado a morte de 15 crianças no Hospital Kamal Adwan, no norte da Faixa de Gaza.

Com a suspenão das entregas de comida por parte do Programa Alimentar Mundial, milhares de palestinianos estão a fugir da fome no norte do enclave e a dirigir-se para sul em busca de alimentos.

O líder da UNRWA avisa que o "pior ainda está para vir", denunciando a morte de "bebés de meses" devido a "subnutrição e desidratação", e amputações em crianças sem "anestesia".

Desde o início da operação militar israelita, em 7 de outubro, em resposta aos ataques do Hamas, cerca de 300.000 habitantes da cidade de Gaza têm sobrevivido com as escassas reservas alimentares anteriores à guerra.

Atualmente, tudo o que é comestível, incluindo os alimentos para animais, está praticamente esgotado.

À medida que a fome se torna uma ameaça séria, muitas famílias palestinianas decidiram fugir para o sul.

"Não há comida, não há água, as crianças estão a sofrer", disse Manar Jerjawi, que estava a fugir do norte de Gaza.

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"As crianças estão cansadas, as mulheres estão cansadas; e toda a gente quer morrer. A morte é mais misericordiosa do que aquilo por que estamos a passar", acrescentou.

Jerjawi perdeu um filho que estava a tentar recolher farinha, e outro filho ficou ferido em circunstâncias semelhantes.

A fome está a tomar conta do enclave sitiado, com os alimentos e os fornecimentos de ajuda a terem dificuldade em chegar aos mais vulneráveis.

O sul, para onde fugiu a maior parte dos 2 milhões de habitantes de Gaza, também está a sofrer.

As autoridades sanitárias da cidade meridional de Rafah e a Agência das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) apontam um número crescente de crianças com peso inferior ao normal a serem tratadas nos hospitais.

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Desde que lançou a ofensiva militar à Faixa Gaza,  Israel tem impedido a entrada de alimentos, água, medicamentos e outros abastecimentos, com exceção de uma pequena quantidade de ajuda que entra no Sul, proveniente do Egipto, através do posto de Rafah e do posto de Kerem Shalom, em Israel.

Apesar dos apelos internacionais para que seja permitida a entrada de mais ajuda, o número de camiões de abastecimento diminuiu drasticamente nas últimas semanas.

Os funcionários da ONU referem que os seus esforços para descarregar os camiões que entram e distribuir a ajuda têm sido prejudicados pela ofensiva de Israel e pelos combates contínuos, pelas restrições militares, pela falta de camiões e pelo colapso social, uma vez que os palestinianos esfomeados atacam os veículos de ajuda e se apoderam dos abastecimentos.

A ONU apelou a Israel para que abrisse as passagens no norte do país às entregas de ajuda e garantisse corredores seguros para os camiões.

Indícios de violação por parte dos militantes do Hamas

Uma equipa da ONU diz ter encontrado indícios significativos para acreditar que ocorreu violência sexual durante o ataque perpetrado a 7 de outubro contra Israel.

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Ainda assim, um funcionário da organização sublinha que as conclusões não "legitimam de forma alguma" mais violência, e apela ao cessar-fogo em Gaza, bem como à libertação dos prisioneiros.

Pramila Patten, a enviada especial em matéria de violência sexual em conflitos, relatou que a sua equipa recolheu informação "clara e convincente" de que algumas mulheres e crianças feitas reféns pelo Hamas foram sujeitas a violações e tortura e que há razões para acreditar que esses abusos continuam.

A equipa de Patten deslocou-se a Israel e à Cisjordânia na primeira quinzena do mês de fevereiro mas foi limitada no trabalho que desenvolveu no terreno por várias restrições, nomeadamente pelo facto de não ter conseguido encontrar-se com qualquer sobrevivente de violência sexual no ataque de 7 de outubro, "apesar dos esforços concertados encorajando-os a falarem". Segundo Patten, alguns estão a fazer terapia, outros mudaram-se dentro do país ou saíram de Israel.

Os peritos falaram com testemunhas, analisaram vídeos e fotografias e falaram com reféns entretanto libertados.

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