Na segunda-feira, um juiz venezuelano emitiu um mandado de captura para o antigo candidato presidencial da oposição Edmundo González, no âmbito de uma investigação criminal sobre os resultados das eleições de julho.
A ordem foi emitida a pedido das autoridades, que acusam o opositor de Nicolás Maduro de vários crimes, incluindo conspiração, falsificação de documentos e usurpação de poderes. A medida é a mais recente escalada da repressão contra a oposição no mês seguinte à declaração das autoridades eleitorais de que o Presidente Nicolás Maduro tinha ganho um terceiro mandato de seis anos.
As autoridades solicitaram a ordem depois queEdmundo González não compareceutrês vezes consecutivas para responder às perguntas dos promotores. González, de 75 anos, não aparece em público desde o dia seguinte às eleições.
A União Europeia não reconhece nenhum dos candidatos e exige a publicação de todos os registos eleitorais.
Resultados discriminados por máquina de voto não foram publicados
Os procuradores concentraram-se em milhares de boletins de voto que há muito são considerados a prova definitiva dos resultados eleitorais na Venezuela. Cada uma das 30.000 urnas eletrónicas utilizadas nas eleições de 28 de julho imprimiu várias cópias dos boletins de voto, cuja informação foi também transmitida ao Conselho Nacional Eleitoral.
As autoridades eleitorais leais ao partido no poder declararam Maduro vencedor horas depois do fecho das urnas, mas não publicaram os resultados discriminados por máquina de voto, como tinham feito em eleições presidenciais anteriores. O Conselho Nacional Eleitoral disse que não podia publicar a informação detalhada porque o seu sítio Web tinha sido pirateado.
Quem tem todos os boletins de voto?
Por lei, cada partido que participa nas eleições tem direito a um registo de cada máquina. Os apoiantes do governo tentaram impedir os representantes da oposição de obter cópias de documentos cruciais, mas o governo conseguiu obter cópias de mais de 80% das máquinas.
A líder da oposição, María Corina Machado, surpreendeutanto os apoiantes como os opositores ao anunciar que os documentos mostravam que Maduro tinha perdido por uma larga margem para o antigo diplomata e publicou os registos online.
Enquanto a pressão internacional aumentava para que fosse publicada uma análise dos resultados, Maduro pediu ao Supremo Tribunal que auditasse o processo eleitoral, o que suscitou críticas imediatas de observadores estrangeiros, que afirmaram que o tribunal está demasiado próximo do governo para efetuar uma análise independente. Os juízes do Supremo Tribunal são nomeados por funcionários federais e ratificados pela Assembleia Nacional, que é dominada por apoiantes de Maduro.
Partido do governo também não publica os registos
A 22 de agosto, o tribunal concluiu que as contagens de votos publicadas pela oposição eram falsas e certificou a vitória de Maduro. O Partido Socialista Unido da Venezuela, que está no poder, recusou-se a publicar as suas cópias dos boletins de voto.
González, que representava a coligação da oposição Plataforma Unitária, foi convocado para o gabinete do procurador na passada sexta-feira. Machadoquestionou a atuação dos procuradores por falta de garantias processuais e acusou o procurador-geral Tarek William Saab, um aliado de longa data de Maduro, de ser um "acusador político" que "condena antecipadamente".
González rejeitou a convocatória alegando, entre outras coisas, que a mesma não especificava as condições em que deveria comparecer.
Guerra total entre governo e oposição
"Maduro perdeu todo o contacto com a realidade", escreveu Machado na rede X após a emissão do mandado de captura. "O mandado de prisão emitido pelo regime para ameaçar o presidente eleito Edmundo González cruza uma nova linha que só fortalece a determinação do nosso movimento. Os venezuelanos e as democracias de todo o mundo estão mais unidos do que nunca na nossa busca pela liberdade."
Uma análise da Associated Press das folhas de contagem de votos divulgadas pela oposição indica que González ganhou significativamente mais votos do que o governo venezuelano alegou. A análise lança sérias dúvidas sobre a declaração oficial de que Maduro venceu.