As autoridades da Mongólia deveriam ter executado o mandado de captura emitido contra Vladimir Putin, mas não o fizeram e o presidente russo foi recebido em Ulan Bator com grande pompa e circunstância.
Esta podia ter sido uma visita de Estado como outra qualquer, mas a visita do líder russo à Mongólia está a gerar sobressalto internacional. Isto porque esta é sua primeira visita a um Estado membro do Tribunal Penal Internacional, a Mongólia, e Putin é alvo de um mandado de detenção.
Putin não se deslocou aos países membros do TPI desde que o mandado foi emitido em março de 2023. O líder russo já visitou a Coreia do Norte, o Vietname a China duas vezes.
Na Mongólia, Putin foi recebido esta manhã na praça principal de Ulaanbaatar, a capital, por uma guarda de honra vestida com uniformes vermelhos e azuis vivos, inspirados nos da guarda pessoal do governante do século XIII Genghis Khan, fundador do Império Mongol.
O presidente da Rússia e o presidente da Mongólia, Khurelsukh Ukhnaa, depois de caminharem numa passadeira vermelha, no exterior do Palácio do Governo, entraram no edifício para as suas reuniões.
Antes desta caminhada, um pequeno grupo de manifestantes tentou desfraldar uma bandeira ucraniana, mas foi detido pela polícia.
Relação entre a Rússia e a Mongólia
Já no interior do edifício governamental de Saaral Ordon, para dar início às conversações entre as duas nações, Putin declarou que os dois países “estão a desenvolver-se em todas as áreas”.
O presidente da Rússia dirigiu também um convite ao homólogo mongol para participar numa cimeira dos países BRICS - um grupo que inclui a Rússia ,Brasil, Índia, China e África do Sul - na cidade russa de Kazan, no final de outubro. Segundo a agência noticiosa estatal russa, RIA Novosti, Khurelsukh aceitou.
Putin, na sua primeira visita à Mongólia em cinco anos, participará numa cerimónia para assinalar o 85.º aniversário de uma vitória conjunta da União Soviética e da Mongólia sobre o exército japonês que controlava a Manchúria, no nordeste da China.
Milhares de soldados de ambos os lados morreram em 1939 durante meses de combates sobre a localização da fronteira entre a Manchúria e a Mongólia.
Mandado do TPI não executado
O TPI acusou Putin de ser responsável por raptos de crianças da Ucrânia, onde os combates decorrem há dois anos e meio.
Na segunda-feira, a União Europeia manifestou a sua preocupação com a possibilidade de o mandado do TPI não ser executado e disse ter partilhado a sua preocupação com as autoridades mongóis.
Uma porta-voz da Comissão Europeia, Nabila Massrali, afirmou que, como todos os países, a Mongólia tem o direito de desenvolver as relações internacionais que quiser consoante os seus interesses, contudo “a Mongólia é um Estado parte no Estatuto de Roma do TPI desde 2002, com as obrigações legais que isso implica”, disse.
A Mongólia foi um dos 94 países que assinaram, em junho, uma declaração conjunta em que declaravam o seu “apoio inabalável” ao TPI.
Mais de 50 russos exilados assinaram uma carta aberta instando o governo da Mongólia a “deter imediatamente Vladimir Putin aquando da sua chegada”.
Entre os signatários encontra-se Vladimir Kara-Murza, que foi libertado de uma prisão russa em agosto, na maior troca de prisioneiros Leste-Oeste desde a Guerra Fria.
Dmitry Medvedev, vice-secretário do Conselho de Segurança da Rússia, denunciou o mandado contra Putin como “ilegal” numa declaração online na terça-feira e aqueles que tentariam levá-lo a cabo como “loucos”.