Crianças anteriormente saudáveis estão a morrer por subnutrição no principal centro de emergência pediátrica de Gaza, no contexto da guerra entre Israel e o Hamas, o que reflete uma escalada da atual crise de ajuda.
Aviso: algumas das imagens do vídeo são de natureza gráfica e, por conseguinte, podem ser perturbadoras para alguns utilizadores.
Pela primeira vez desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, crianças anteriormente saudáveis estão a morrer de subnutrição no principal centro de emergência pediátrica de Gaza, segundo os médicos.
O Hospital dos Amigos dos Doentes, no norte de Gaza, registou a morte de crianças sem qualquer problema de saúde subjacente no fim de semana passado, marcando o que as autoridades médicas descreveram como uma escalada sombria da crise de ajuda humanitária no território.
"Não há palavras perante o desastre em que nos encontramos. As crianças estão a morrer perante o mundo", afirmou Rana Soboh, nutricionista do hospital. "Não há fase mais feia e mais horrível do que esta".
Segundo Soboh, os pais trazem diariamente 200 a 300 crianças para as instalações que estão a transbordar, onde os doentes permanecem agora mais tempo sem melhorarem, apesar do tratamento. Anteriormente, muitos doentes recuperavam, apesar da escassez de medicamentos.
Pelo menos 48 pessoas, incluindo 20 crianças e 28 adultos, morreram de causas ligadas à má nutrição só nas últimas três semanas, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, dirigido pelo Hamas. É um agravamento do balanço que apontava para dez mortes de crianças devido à fome registadas nos primeiros cinco meses de 2025.
As Nações Unidas registaram números semelhantes. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 21 crianças com menos de cinco anos morreram de causas relacionadas com a má nutrição este ano.
"Os seres humanos estão bem desenvolvidos para viver com défices calóricos, mas só até certo ponto", disse John Kahler, cofundador da Medglobal e pediatra que foi voluntário duas vezes em Gaza durante a guerra. "Parece que atravessámos a linha em que um segmento da população atingiu os seus limites".
"Este é o início de uma espiral de morte da população", afirmou.
O Programa Alimentar Mundial estima que cerca de 100.000 mulheres e crianças em Gaza necessitam urgentemente de tratamento para a desnutrição. Os profissionais de saúde dizem que já não dispõem de muitas terapias e medicamentos essenciais.
Em janeiro, Israel proibiu a principal organização das Nações Unidas, a UNRWA, de prestar ajuda, acusando-a de não impedir a infiltração do Hamas, sem apresentar provas. Israel também acusou o Hamas de saquear a ajuda para lucrar com a guerra, algo que o grupo militante nega.
Durante uma reunião do Conselho de Segurança, na terça-feira, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, descreveu a situação em Gaza como um "espetáculo de horror, com um nível de morte e destruição sem paralelo nos últimos tempos".