Na sexta-feira, as forças israelitas tinham intercetado todos os 43 navios que transportavam ajuda humanitária para Gaza e detido a maioria dos 450 ativistas a bordo.
Dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas em toda a Itália numa greve geral em solidariedade com o povo de Gaza e com a flotilha de ajuda, que foi interceptada pelos militares israelitas antes de chegar à Faixa de Gaza.
A greve, organizada principalmente pelo maior sindicato italiano CGIL, paralisou o país, perturbando os portos e o tráfego rodoviário.
Centenas de comboios foram cancelados ou atrasados, assim como vários voos domésticos, e muitas escolas públicas e privadas encerraram.
A CGIL calculou que cerca de 100.000 pessoas participaram no protesto em Milão, mas a polícia local estima que esse número seja de 50.000, informou a agência noticiosa RAI.
Em Milão, os manifestantes encheram a Piazza Leonardo Da Vinci, agitando bandeiras palestinianas e gritando "Palestina Livre".
Entretanto, 40.000 pessoas marcharam do terminal de ferries até ao centro da cidade em Génova e pelo menos 10.000 protestaram em Brescia.
Milhares de pessoas bloquearam a praça de portagens da autoestrada A4 em Vicenza e as marchas cortaram as vias de acesso ao centro histórico de Veneza.
Na capital, Roma, a estação central de comboios registou o cancelamento de alguns serviços e atrasos de até 80 minutos noutros. Mais de 10.000 manifestantes fecharam o porto de Nápoles, enquanto os portos de Livorno e Salerno também foram bloqueados.
O vice-primeiro-ministro Matteo Salvini classificou a greve de "ilegal" e apelou a sanções mais duras.
"Aqueles que organizam greves ilegais devem pagar pelos danos causados", afirmou.
O ministro da Defesa, Guido Crosetto, afirmou que bloquear o acesso aos transportes públicos "não trará alívio aos palestinianos".
Os manifestantes também se aproximaram dos portões do centro de treinos da equipa italiana de futebol em Florença para exigir que o jogo de qualificação para o Campeonato do Mundo contra Israel não se realize devido à guerra em Gaza.
Itália vai receber Israel em Udine a 14 de outubro, mas a UEFA está a considerar suspender Israel devido à guerra.
Os jogadores não se encontravam no centro de treinos de Coverciano, em Florença, mas a equipa vai reunir-se lá na segunda-feira.
O secretário-geral da CGIL, Maurizio Landini, defendeu a greve como "totalmente legítima" e comprometeu-se a reagir contra uma decisão oficial que a considerou ilegal porque os organizadores não avisaram com antecedência suficiente.
"Estamos a garantir serviços mínimos e vamos recorrer", afirmou.
Flotilha intercetada
Na sexta-feira, as forças israelitas tinham intercetado todos os 43 navios que transportavam ajuda humanitária para Gaza e detido a maioria dos 450 ativistas a bordo, de acordo com informações das autoridades israelitas.
O último barco da flotilha, o Marinette, seguia atrás das restantes embarcações e continuava a navegar para o território palestiniano na madrugada de sexta-feira, um dia depois de a marinha israelita ter invadido 41 outros barcos e detido os ativistas, dizendo que seriam deportados.
A flotilha, que transportava uma quantidade simbólica de ajuda humanitária para Gaza, foi a maior tentativa até à data de furar o bloqueio israelita a Gaza.
As interceções israelitas começaram na quarta-feira à noite e continuaram na quinta-feira, com os barcos a serem parados ao largo da costa de Gaza e os ativistas, incluindo a ativista climática sueca Greta Thunberg e o neto de Nelson Mandela, Mandla, a serem detidos.
Entre os ativistas detidos encontram-se quatro deputados italianos que foram rapidamente deportados para Roma na sexta-feira. De acordo com as informações disponíveis, foram os primeiros a sair de Israel de avião.
"Tivemos uma noite muito difícil, agora temos de trazer todos para casa", disse Marco Croatti, deputado italiano da oposição, aos jornalistas, depois de aterrar em Roma, vindo de Telavive.
No porto de Ashdod, no sul de Israel, o Ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, foi filmado a visitar o local onde os ativistas estavam a ser processados antes de serem deportados.
Acusou os participantes da flotilha de apoiarem o "terrorismo" e, a bordo de um dos barcos apreendidos, troçou da iniciativa de ajuda dos ativistas.
Quatro portugueses, entre os quais a deputada do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua, foram igualmente detidos na flotilha e aguardam ainda deportação para Portugal.