Janeiro é época propícia a mudanças de carreira, mas quem procura emprego no Reino Unido pode ter mais dificuldade do que os seus pares noutros países europeus
Mais de 10 milhões de pessoas estão desempregadas nas cinco maiores economias europeias no final de 2025.
Com 2026 à vista, as oportunidades de emprego parecem pouco animadoras nalguns países, sobretudo no Reino Unido, segundo a plataforma global de recrutamento Indeed.
Isto apesar do esforço do governo britânico para impulsionar o emprego e o crescimento, travado por produtividade fraca, pelos efeitos do Brexit e por investimento empresarial débil.
Mas como se compara o Reino Unido com os seus vizinhos europeus e que países têm mais ofertas?
A Indeed comparou as ofertas de emprego atuais com o nível de 1 de fevereiro de 2020, fixando 100 como referência antes da COVID-19.
Reino Unido isolado em terreno negativo
A 28 de novembro de 2025, as ofertas de emprego no Reino Unido (80,2) continuam 20% abaixo do nível pré-pandemia. É menos 8 pontos percentuais do que no mesmo período de 2024, quando o índice estava em 88,3.
“O desempenho relativo inferior do Reino Unido reflete em parte o aumento dos custos laborais e a incerteza política”, disse Jack Kennedy, economista sénior da Indeed, à Euronews Business.
O governo britânico aumentou este ano as contribuições sociais das entidades empregadoras, para 15% sobre salários acima de 5 000 libras. Subiram face à taxa de 13,8% aplicada a salários acima de 9 100 libras.
A agravar os custos para as empresas, o Reino Unido registou aumentos significativos do salário mínimo nos últimos anos, além de incerteza quanto ao conteúdo do projeto-lei dos Direitos Laborais do governo.
O projeto-lei, que visa reforçar a proteção dos trabalhadores, tem ido e vindo entre a Câmara dos Lordes e a dos Comuns, sem acordo político sobre as medidas propostas.
“Estes fatores reduziram a confiança dos empregadores e travaram as contratações, sobretudo em empregos de baixos salários, onde os custos mais subiram”, acrescentou Kennedy.
A taxa de desemprego atingiu 5,1% no Reino Unido no terceiro trimestre, nível só ultrapassado no início de 2021.
“Se a economia evoluir perto do limite superior das expectativas em 2026 e a confiança dos empregadores recuperar, isso poderá traduzir-se numa estabilização ou até numa ligeira subida das vagas e numa descida moderada do desemprego”, disse Kennedy.
Alemanha e França acima dos níveis pré-pandemia
As ofertas de emprego em França (113,3) e na Alemanha (115,6) estão cerca de 15 pontos percentuais acima dos níveis pré-pandemia no final de novembro de 2025.
Ainda assim, face ao mesmo período do ano anterior, o índice caiu em ambos os países. A Alemanha desceu 13 pontos e França 20.
As diferenças entre os cinco países no índice de ofertas começaram a surgir em meados de 2022.
Lisa Feist, economista no Indeed Hiring Lab, salientou que o mercado de trabalho francês é moldado por incerteza política e económica, com a descida das notações de crédito a pesar sobre a atividade.
Devido a divergências políticas sobre como colmatar o défice nacional, França registou sucessivas quedas de governo no último ano. O primeiro-ministro Sébastien Lecornu conseguiu agora assegurar um consenso sobre o orçamento da segurança social para 2026, embora o Orçamento do Estado ainda não tenha sido acordado.
“Esta incerteza prejudica o consumo e o investimento, o que por sua vez afeta quem participa no mercado de trabalho”, disse Feist.
A OCDE projeta um crescimento de 0,8% do PIB real em França em 2025. Prevê 1% em 2026 e 2027.
Espanha mantém desempenho robusto
Espanha (153,5) e Itália (168,1) estão muito à frente das outras três economias. As ofertas de emprego estão 54% acima dos níveis pré-pandemia em Espanha e 68% acima em Itália.
Face ao mesmo período de 2024, estes dois países são os únicos com subida. O índice de Espanha avançou 13 pontos, enquanto Itália registou um aumento modesto de 1 ponto.
“O bom desempenho de Itália e Espanha reflete tendências de crescimento geralmente positivas, com as ofertas a manterem-se elevadas a par de carências crescentes de mão de obra”, disse Kennedy.
Embora Espanha e Itália continuem a apresentar melhor desempenho em ofertas de emprego, Lisa Feist sublinhou que os seus mercados de trabalho são menos apertados do que os de França ou Alemanha, e Espanha tem uma taxa de desemprego mais elevada. Segundo o Eurostat, Espanha tinha a taxa de desemprego mais alta da UE em outubro de 2025, de 10,5%.
Entre as cinco maiores economias europeias, Espanha deverá registar o crescimento do PIB real mais forte em 2025 (2,9%), 2026 (2,2%) e 2027 (1,8%).