O Festival de Salzburgo celebra este ano o centenário com uma edição especial, que esteve quase para não acontecer.
Com um programa reduzido, Helga Rabl-Stadler fez, no entanto, questão que o espectáculo continuasse. Para a presidente de um dos mais famosos festivais austríacos, é "importante mostrar o valor da cultura e das artes, porque é alimento para a alma, e era essa a convicção dos nossos fundadores".
Obra de Mozart adaptada a tempos de pandemia
O encenador Christof Loy e a maestrina Joana Mallwitz trabalharam numa nova versão, mais curta, de "Così Fan Tutte", a antepenúltima ópera de de Mozart, estreada a 26 de janeiro de 1790, em Viena.
Os contrangimentos que a covid-19 está a impôr aos espectáculos levaram a que a obra tivesse de ser adaptada, num processo que - garantem os artistas - não foi fácil.
"Cada nota que tiramos de Mozart faz doer o coração, mas a certa altura dissemos: não pensemos no que temos de cortar, mas como podemos obter o máximo do espírito de Mozart", revela a maestrina.
Uma história de comédia e romance
"Così Fan Tutte" é uma exploração tragicómica da infielidade das mulheres, com uma série de disfarces e enganos como pano de fundo.
Joana Mallwitz explica que a obra "vai de algo muito lúdico - giocoso, scherzando - e também atrevido a alguns números e cores quase românticos. É um jogo, mas depois as emoções envolvem-se e tudo está sempre a mudar para trás e para a frente entre estes dois pólos, por vezes muito rapidamente. Num só compasso, as coisas mudam".
Ao longo da história, D. Alfonso propõe-se provar aos jovens homens que todas as mulheres, mesmo as suas noivas, podem ser infiéis.
"Claro que ele pode ser cínico e perverso, ele é provavelmente aquele que sabe desde o início que, se está numa relação com alguém, tem de aceitar e amar, em si próprio e e na sua parceira, todos aqueles diferentes sentimentos que provavelmente fazem parte de cada ser humano", conta.
No final, mesmo após as alterações impostas pelas condicionantes da atualidade, a maestrina não deixa de se surpreender com a magnitude intemporal da obra e do seu autor.
"Esta música transforma os impulsos, as emoções e os sentimentos mais profundos e íntimos que existem. Vê-se tudo a irradiar para o exterior. Isto é algo mágico, que talvez só Mozart consiga fazer".
Como parte do Festival de Salzburgo, "Così Fan Tutte" vai estar em cena até 18 de agosto, no palco de Grosses Festspielhaus.