"As palavras são as vencedoras": Primeira entrevista televisiva de Salman Rushdie após o atentado

In an exclusive interview with RTP, Rushdie highlighted his unwavering stance in the face of hatred.
In an exclusive interview with RTP, Rushdie highlighted his unwavering stance in the face of hatred. Direitos de autor Credit: RTP
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De  Theo Farrant com EBU
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Os escritores "conseguem sobreviver àquilo que se lhes opõe", afirmou Salman Rushdie na sua primeira entrevista televisiva após o atentado de que foi vítima em agosto do ano passado.

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Salman Rushdie, o estimado autor britânico de ascendência indiana, continua a não se deixar intimidar pelas suas atividades literárias, apesar de ter sofrido um terrível atentado no ano passado.

Na sua primeira entrevista televisiva desde o ataque, Rushdie, que perdeu a visão de um olho e o uso de uma mão, expressou a sua resiliência como escritor e falou sobre o seu próximo romance, "Victory City".

Escrito apenas um mês antes do incidente quase fatal em Nova Iorque, o romance explora a dramática ascensão e queda de um império medieval no sul da Índia, examinando os perigos do poder e as ambições implacáveis da humanidade.

A força duradoura das palavras

Liz Hafalia/San Francisco Chronicle
Salman Rushdie em 2005Liz Hafalia/San Francisco Chronicle

Em entrevista exclusiva à RTP, Rushdie destacou a sua postura inabalável perante o ódio e a animosidade que têm ensombrado o seu percurso criativo.

A conversa decorreu entre Rushdie e a jornalista da RTP, Ana Daniela Soares, captando a essência da sua atividade artística.

Um dos principais temas discutidos durante a entrevista foi o poder duradouro das palavras e a influência exercida pelos escritores. Rushdie transmitiu eloquentemente este sentimento com a frase final do seu romance, "as palavras são as vencedoras".

Refletindo sobre a história, o autor observou que, embora figuras poderosas como reis, generais e bilionários dominem os anais do tempo, são as histórias criadas sobre eles que verdadeiramente perduram.

Rushdie afirmou: "Bem, o que eu estava a tentar sugerir é que a história é sobre pessoas poderosas, a história é sobre reis e generais e bilionários e assim por diante. Mas quando estão todos mortos e desaparecidos, o que fica são as histórias contadas sobre eles. E é isso que sobrevive. Por isso, na verdade, mesmo os escritores que não têm exércitos nem biliões - excepto J.K. Rowling - têm esse poder, que é o de definir a época".

Rushdie exemplificou este fenómeno, citando a forma como "Guerra e Paz", de Leo Tolstoy, passou a personificar a invasão de Napoleão na Rússia, enquanto os escritos de Marcel Proust encapsulam o período das Belas-Artes em Paris.

É maravilhoso como os escritores que têm tão pouco poder durante a sua vida, ficam tão poderosos depois de mortos.
Salman Rushdie
Escritor

O poder duradouro das palavras

O último romance de Rushdie, Victory City - "Cidade da Vitória", marca o seu regresso literário à Índia. O autor tem as suas raízes no norte da Índia, embora tenha crescido na então Bombaim, - atual Mumbai - uma cidade que funciona como porta de entrada geográfica e cultural entre o norte e o sul do país.

Embora os seus laços familiares se situem no norte, Rushdie reconhece que a sua exposição ao sul da Índia foi limitada. No entanto, durante os seus anos de formação, na casa dos vinte, embarcou numa viagem pelo sul do país, descobrindo as impressionantes ruínas do Império Vijayanagara, no que é atualmente conhecido como Hampi.

Impressionado com a beleza e o significado histórico do local, Rushdie sentiu-se compelido a explorar a sua história mais a fundo, o que acabou por levar à criação de "Victory City".

O livro, cujo lançamento está previsto em Portugal, em novembro deste ano, tem sido descrito como um "conto de proporções épicas".

Como escreve a jornalista Ana Daniela Soares, ao longo das páginas do livro o autor vai "encantando o leitor com a história da criação e queda de Bisnaga, uma civilização fundada por uma menina-rapariga-mulher possuída por uma deusa que apenas pretende criar uma sociedade livre e justa".

No decorrer da entrevista à RTP, Rushdie falou sobre o poder transformador do perdão, um tema que lhe é muito caro.

Partilhando uma visão pessoal, revelou que quando se perdoa alguém que foi cruel, muitas vezes desarma-se o agressor, deixando-o sem saber como reagir.

Veja o vídeo para assistir aos melhores momentos da primeira entrevista de Rushdie à televisão desde o ataque.

Editor de vídeo • Theo Farrant

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