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Estudo alerta que calor extremo causado pelas alterações climáticas está a provocar declínio "impressionante" nas aves tropicais

Um tucano empoleira-se na vedação de uma casa na comunidade indígena no Brasil.
Um tucano empoleira-se na vedação de uma casa na comunidade indígena no Brasil. Direitos de autor  AP Photo/Eraldo Peres
Direitos de autor AP Photo/Eraldo Peres
De Rosie Frost
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Recorrendo à ciência da atribuição climática, os investigadores relacionaram o aumento do calor com o declínio das populações de aves em todo o mundo.

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O calor extremo provocado pelas alterações climáticas fez com que as populações de aves tropicais diminuíssem até 38% desde a década de 1950, alertaram os cientistas.

Uma análise inédita, publicada na revista Nature Ecology and Evolution, utilizou dados de observação e modelos para identificar os efeitos das alterações climáticas nas populações de aves em todo o mundo.

Em comparação com um mundo sem aquecimento global, a análise concluiu que o aumento da intensidade do calor extremo causou um declínio de 25% a 38% nas populações de aves tropicais entre 1950 e 2020.

Trata-se de uma "redução impressionante", segundo o autor principal Maximilian Kotz, investigador convidado do Instituto Potsdam para a Investigação do Impacto Climático (PIK) e investigador do Centro de Supercomputação de Barcelona (BSC).

Quase todas as regiões registaram um declínio, mas a maior queda no número de aves foi observada nos trópicos.

Calor extremo pode explicar o declínio das aves em florestas intocadas

Regiões tropicais como a Amazónia ou o Panamá viram as populações de aves cair a pique, mesmo em florestas tropicais intocadas. Pesquisas anteriores concluiram que, numa parte "relativamente intacta" da Floresta Amazónica, o número de aves diminuiu mais de 50% entre 2003 e 2022.

Também se registaram quedas semelhantes nas florestas do Panamá, mas as causas de ambas foram consideradas desconhecidas.

Os resultados deste estudo sugerem que os extremos de calor mais intensos são provavelmente o principal fator por trás do desaparecimento dessas populações. Os declínios populacionais em ambas as regiões tropicais foram de uma magnitude semelhante às estimativas da equipa de investigação sobre os impactos da intensificação do calor extremo.

Segundo o estudo, as aves tropicais estão atualmente expostas a condições de calor extremo dez vezes superiores às de há 40 anos, passando de uma média de três dias por ano para 30.

"As aves são particularmente sensíveis à desidratação e ao stress térmico", explica Kotz.

"O calor extremo provoca um excesso de mortalidade, reduz a fertilidade, altera os comportamentos de reprodução e reduz a sobrevivência das crias."

Kotz acrescenta que o aumento das temperaturas está a empurrar as espécies para fora das áreas às quais se adaptaram naturalmente num período de tempo muito curto.

Um estudo inédito

Até agora, tem sido difícil distinguir o impacto das alterações climáticas na biodiversidade em comparação com impactos humanos mais diretos, como a desflorestação.

Mas um campo científico emergente conhecido como atribuição climática utiliza um conjunto de técnicas padronizadas para descobrir o impacto exato das alterações climáticas em diferentes partes do sistema climático. Este tem sido usado para descobrir o quanto os eventos climáticos extremos são mais prováveis ou intensos num mundo em aquecimento, ou mesmo a influência das alterações climáticas em episódios específicos de perda extrema de gelo nos glaciares.

Esta equipa de investigação acredita que esta é a primeira vez que o mesmo é utilizado para atribuir as perdas de biodiversidade às alterações climáticas.

Os seus métodos indicam que, nas regiões tropicais de baixa latitude, a intensificação dos extremos de calor já está a ter um impacto maior no declínio das populações de aves do que a desflorestação ou a perda de habitat.

"Do ponto de vista da conservação, este trabalho diz-nos que, para além das áreas protegidas e do fim da desflorestação, precisamos urgentemente de estudar estratégias para as espécies mais vulneráveis aos extremos térmicos, a fim de maximizar o seu potencial de adaptação", afirma Tatsuya Amano, da Universidade de Queensland.

"Isso pode significar trabalho de conservação ex-situ, ou seja, trabalhar com algumas populações noutros locais."

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