Bruxelas apresenta pacote de iniciativas para promover soberania europeia em matéria de "chips" e reduzir dependência de fornecedores asiáticos e americanos
Com o mundo sob pressão, por causa da escassez global de semicondutores (chips), a União Europeia prepara-se para apresentar, esta terça-feira, um novo pacote de iniciativas ("European Chips Act") destinado a impulsionar a investigação e a produção europeias neste mercado crucial.
Durante uma visita ao IMEC, um centro líder de Investigação e Desenvolvimento (I&D) de semicondutores com sede na Bélgica, o comissário europeu com a pasta da Indústria, Thierry Breton, reforçou a teoria de que a Europa tem de ser mais autónoma neste campo e recuperar a soberania.
Na prática, Bruxelas conta injetar 45 mil milhões de euros no setor. O objetivo é multiplicar a escala da produção da União Europeia por quatro até 2030.
"Teremos três pacotes principais: um será para apoiar I&D, com bolsas entre os 11 e os 12 mil milhões de euros. A segunda parte é o apoio para megafábricas, ou seja, 30 mil milhões de euros de dinheiro público. A terceira parte destina-se a apoiar start-ups. Haverá um fundo entre 2 a 5 ou 6 mil milhões de euros para apoiar especificamente start-ups neste domínio", sublinhou Thierry Breton.
Grande parte do dinheiro irá para fábricas de produção de semicondutores, muito em falta na Europa.
A **União Europeia **está, inclusivamente, disposta a tornar mais flexíveis as regras sobre ajudas estatais para para financiar esses projetos.
Neste momento, três quartos da capacidade de produção de "chips" estão concentrados na Ásia e 92% dos semicondutores mais avançados são fabricados em Taiwan.
Os semicondutores são usados em tudo, desde smartphones a carros, ou para alimentar a "Internet das coisas", por exemplo.
A pandemia de Covid-19 e o impacto nas cadeias de abastecimento mundiais trouxeram a necessidade de autossuficiência europeia neste campo.
Perante o apetite do mercado, governos de todo o mundo, incluindo da China e dos EUA, estão a canalizar milhões para o setor, deixando a Europa com poucas alternativas a não ser seguir a tendência.
"Este é um ecossistema muito interconectado, em que dependemos realmente de outras regiões. Por isso, é muito importante assegurar que a Europa reforça a sua posição para que também possamos crear dependências reversas na Europa", ressalvou Luc Van den hove, diretor-executivo do centro de investigação e desenvolvimento de semicondutores IMEC.
Apesar dos investimentos, será preciso esperar para ver se as empresas de semicondutores vão ou não estabelecer linhas de produção na Europa.