A Polónia poderá em breve ter um governo mais progressista e europeísta: o líder da Plataforma Cívica, Donal Tusk, pode contar com mais dois partidos da oposição para chegar ao cargo de primeiro-ministro.
O partido conservador e nacionalista Lei e Justiça, no poder, venceu as eleições legislativas, mas não deverá conseguir formar uma coligação para ter maioria parlamentar.
Os resultados oficiais parciais divulgados, esta segunda-feira, pela Comissão Eleitoral Estatal, com mais de dois terços dos círculos eleitorais apurados, apontam os partidos da oposição com uma clara vantagem.
O líder da Plataforma Cívica, Donal Tusk, pode contar com mais dois partidos da oposição para chegar ao cargo de primeiro-ministro e, se assim for, deverá fazer um volte-face.
"Vão definitivamente tentar, em primeiro lugar, colocar a Polónia de novo na luz da democracia. O sistema judicial e a imprensa volatrão a ser livres. E, claro, também serão restabelecidos os direitos das minorias", disse Monika Sus, professora associada da Academia Polaca de Ciências, em entrevista à euronews.
Essa viragem poderia ajudara melhorar a relação com a Comissão Europeia e vários Estados-membros críticos das medidas tomadas pelo partido Lei e Justiça que violam os Tratados da União Europeia.
"Penso que a Polónia será, mais uma vez, um parceiro fiável no seio da União Europeia. Tentaremos definitivamente ter melhores relações com os nossos vizinhos", acrescentou a professora Monika Sus.
Gerir coligação diversa
De um governo de centro-direita moderado seria de esperar a manutenção do apoio à Ucrânia, mas a política para gestão comum da migraçãoe asilo a nível da UE poderá continuar a ser um tema delicado.
"Há muitas preocupações no país relacionadas com a migração, mas também com a segurança, com as quais Tusk tem de lidar a nível interno. E sabemos que a sua posição em relação à migração não é necessariamente positiva quando falamos do mecanismo de relocalização obrigatória", referiu Teona Lavrelashvili, analista política no Centro de Política Europeia.
"No entanto, a forma como ele se irá apresentar e a forma como irá envolver-se construtivamente com os decisores europeus será, naturalmente, diferente", acrescentou.
Donal Tusk, que é um ex-primeiro-ministro polaco e ex-presidente do Conselho Europeu experiente, terá de usar toda a sua habilidiade política para gerir uma coligação complexa, com vários pequenos partidos.
"Haverá disputas internas. Mas penso que serão mais relacionadas com questões internas, como por exemplo, o aborto. É claro que cada um dos três partidos é muito mais flexível do que o atual governo sobre aceitar os direitos das mulheres", disse Monika Sus.
"Mas ainda existem diferenças entre eles, que vão desde a total liberalização até definir novas regras. Mas nem todos querem liberalizar totalmente o aborto", concluiu.
A adesão ao euro tambem é um ponto pouco consensual. Um dos possíveis parceiros da coligação é o Polónia 2050, a data em que este partido gostaria que o país passasse a usar a moeda única, mas os outros parceiros têm dúvidas quanto a este passo.
A afluência às urnas deverá ter rondado os 74%, o nível mais elevado nos 34 anos de democracia do país e ultrapassando os 63% que compareceram na votação histórica de 1989, que derrubou o comunismo.
Uma missão de observação internacional limitada, liderada pela Organização para a Segurança e Cooperação na Europa e pelo Conselho da Europa, afirmou que "a elevada taxa de participação histórica demonstrou o empenho dos cidadãos na defesa da democracia na Polónia".
Mas também apontou o problema da parcialidade da televisão pública, financiada pelos contribuintes, que "demonstrou uma hostilidade aberta em relação à oposição".