Após semanas de divergências, a União Europeia chegou a um "acordo político" para sancionar os colonos israelitas extremistas, afirmou Josep Borrell, chefe da diplomacia do bloco, após a reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros, em Bruxelas.
"Discutimos as sanções (ao) Hamas. E chegámos a acordo sobre as sanções contra os colonos extremistas. Não foi possível no último Conselho da UE dos Negócios Estrangeiros. Desta vez foi possível. Foi acordado um compromisso sólido a nível de trabalho e espero que este se mantenha até à sua adoção plena em breve", anunciou Josep Borrell, em conferência de imprensa.
As sanções estão a ser preparadas há meses e foram travadas ao longo de semanas por um punhado de países, incluindo a Alemanha, a Chéquia e a Áustria, que se encontram entre os mais firmes apoiantes de Israel.
Mas a devastação na Faixa de Gaza e os relatos de violência perpetrada por cidadãos israelitas extremistas contra palestinianos, nesse enclave e na Cisjordânia, injetaram um sentido de urgência nas conversações. Os Estados Unidos, o Reino Unido e a França já tinha aprovado medidas similares a nível nacional.
O último obstáculo foi a Hungria, que, segundo os diplomatas, comunicou, na semana passada, que iria levantar a oposição, aumentando as esperanças de fechar o acordo político. Este terá de ser adotado pelos embaixadores permanetes dos Estados-membros. Só então as identidades dos colonos incluídos na lista serão divulgadas.
Os colonatos na Cisjordânia são ilegais à luz do direito internacional e são considerados um grande obstáculo à obtenção de uma paz duradoura no âmbito da solução de dois Estados.
A decisão faz parte de uma cuidadosa "coreografia" diplomática para coincidir com novas sanções contra o Hamas, organização palestiniana que o bloco classifica de terrorista.
Em reação aos atentados de 7 de outubro, que mataram mais de 1100 civis em Israel, a UE estabeleceu um regime de sanções específicas contra qualquer pessoa ou entidade suspeita de apoiar, material ou financeiramente, o Hamas e a Jihad Islâmica Palestiniana (PIJ). Seis financiadores foram acrescentados à lista, a 19 de janeiro.
Cemitério a céu aberto
Un novo relatório da "Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar" (conhecida como escala IPC) revelou, esta segunda-feira, que a crise humanitária em Gaza é de extrema gravidade.
A escla IPC é uma ferramenta para melhorar a análise e a tomada de decisões sobre segurança alimentar e, segundo o relatório, "toda a população da Faixa de Gaza (2,23 milhões) está a enfrentar níveis elevados de insegurança alimentar aguda", estando metade da população na categoria de catástrofe. Na zona norte do enclave, a fome é "iminente".
O conflito militar, a escassez de ajuda humanitária e o acesso limitado ao abastecimento alimentar, aos cuidados de saúde, à água e ao saneamento são factores que estão na origem da deterioração.
"A escalada das hostilidades provocou danos generalizados nos bens e infra-estruturas indispensáveis à sobrevivência. Cerca de 50% dos edifícios - e mais de 70% nas províncias do norte - foram danificados ou destruídos", refere o relatório.
Antes de entrar na reunião, Josep Borrell, responsável pela política externa da UE, traçou um quadro sombrio da situação no terreno.
"Antes da guerra, Gaza era a maior prisão a céu aberto. Hoje é o maior cemitério a céu aberto. Um cemitério para dezenas de milhares de pessoas e também um cemitério para muitos dos princípios mais importantes do direito humanitário", disse Borrell aos jornalistas.
O chefe da diplomacia disse, ainda, que iria propor um "debate de orientação política" sobre a revisão do Acordo de Associação UE-Israel, que está em vigor desde 2000. No mês passado, os governos da Espanha e da Irlanda, dois dos mais críticos contra o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, uniram forças e pediram uma "revisão urgente" do acordo.
Mas na reunião desta segunda-feira, pelo menos seis Estados-membros opuseram-se à revisão - Alemanha, Itália, Áustria, Chéquia, Bulgária e Hungria -, disseram vários diplomatas à Euronews, falando sob condição de anonimato.
Um diplomata referiu que a maioria dos Estados apoiou a ideia de convidar o ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Yisrael Katz, para discutir esta e outras questões em Bruxelas.