Os líderes da União Europeia estão reunidos em Bruxelas para uma cimeira especial de dois dias centrada na competitividade económica do bloco.
Mas a agenda deverá ser ensombrada pela atual crise no Médio Oriente, que o Ocidente receia que possa em breve ficar fora de controlo e transformar-se num conflito regional mais vasto.
As preocupações têm vindo a aumentar desde o início da guerra entre Israel e o Hamas e agravaram-se dramaticamente depois de um ataque aéreo israelita ter atingido o consulado iraniano em Damasco, matando sete membros da Guarda Revolucionária Islâmica. Em retaliação, Teerão lançou o seu primeiro ataque de sempre em solo israelita com 300 drones, mísseis balísticos e de cruzeiro, a grande maioria dos quais foi interceptada por Israel.
O ataque abriu um novo capítulo na longa guerra de sombras entre as duas nações, com a UE e os EUA a prometerem reforçar as sanções contra o Irão, mas apelando a Israel para que evite um novo ataque que possa atiçar ainda mais as chamas.
Esta atmosfera de incerteza e tensão vai impregnar a reunião em Bruxelas, que foi inicialmente concebida como um mergulho de cabeça na economia do bloco, mas que desde então foi alterada para permitir uma discussão sobre política externa.
O primeiro dia da reunião, que terá início na quarta-feira à noite, após uma receção com o rei da Bélgica, abordará a situação em Israel, no Irão, na Faixa de Gaza e no Líbano, bem como a guerra na Ucrânia e as relações com a Turquia.
"O Conselho Europeu apela ao Irão e aos seus representantes para que cessem todos os ataques e insta todas as partes a exercerem a máxima contenção e a absterem-se de qualquer ação que possa aumentar as tensões na região", lê-se numa versão preliminar das conclusões, a que a Euronews teve acesso.
O Líbano é uma fonte de preocupação especial, dada a fragilidade do seu governo, os problemas financeiros e as divisões sectárias, que fizeram do país um terreno fértil para a influência iraniana. O Hezbollah, movimento islamista apoiado por Teerão e com um poderoso grupo paramilitar, participou no ataque contra Israel, disparando rockets através da fronteira.
Os diplomatas temem que o Líbano, onde vivem 1,5 milhões de refugiados sírios, possa ser arrastado para o conflito e desencadear um êxodo migratório para as costas europeias, que já é visível no vizinho Chipre.
O Estado insular registou mais de 2.000 chegadas nos primeiros três meses deste ano, um enorme aumento em comparação com as 78 registadas no mesmo período de 2023.
O projeto de conclusões sublinha o empenho da UE na estabilidade do Líbano e a "determinação em apoiar as pessoas mais vulneráveis" no país, mas não faz qualquer referência explícita à pressão migratória exercida sobre Chipre. No entanto, a linguagem poderá ser ajustada à medida que as discussões forem avançando na quarta-feira à noite.
O Conselho Europeu deverá ainda fazer eco da recente resolução do Conselho de Segurança da ONU e apelar a um "cessar-fogo imediato" em Gaza, onde mais de 33.000 pessoas foram mortas desde o início da ofensiva israelita. O Conselho Europeu exigirá a "libertação incondicional de todos os reféns" detidos pelo Hamas e a prestação de ajuda humanitária "completa, rápida, segura e sem entraves" aos palestinianos.
As conversações sobre política externa examinarão igualmente o estado atual das relações entre a UE e a Turquia, que continuam a ser uma prioridade estratégica para todos os dirigentes, apesar das tensões causadas pelas acusações de evasão às sanções, pelo retrocesso democrático e pelo litígio de décadas com Chipre.
Falando sob anonimato, um diplomata disse à Euronews que a Turquia é uma "questão vital" para Chipre, mas alertou para o facto de as relações com o bloco não deverem ser vistas apenas por esse prisma: "Há mais do que isso".
Na quarta-feira, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, fará um discurso virtual. Recentemente, criticou o Ocidente por não ter protegido os céus ucranianos dos ataques russos, da mesma forma que ajudou Israel a repelir o ataque iraniano. Nas primeiras semanas da invasão, Kiev pediu à NATO que impusesse uma "zona de exclusão aérea" sobre o país, mas o pedido foi repetidamente ignorado, uma vez que os aliados argumentaram que a intervenção militar poderia desencadear o artigo 5º da defesa coletiva e um confronto total com a Rússia.
"Os céus europeus poderiam ter recebido o mesmo nível de proteção há muito tempo se a Ucrânia tivesse recebido o mesmo apoio total dos seus parceiros na interceção de drones e mísseis. O terror deve ser derrotado completamente e em todo o lado, não mais nuns sítios e menos noutros", afirmou Zelenskyy nas redes sociais.
Com os assuntos internacionais a absorverem toda a energia na quarta-feira, a questão da competitividade económica passará para quinta-feira. O debate basear-se-á num relatório exaustivo elaborado por Enrico Letta, antigo primeiro-ministro italiano, que apresenta recomendações para aprofundar e reforçar o mercado único, tendo em conta a concorrência dos Estados Unidos e da China.