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Três momentos-chave do primeiro debate com os principais candidatos da UE

Os principais candidatos às eleições da UE reuniram-se em Maastricht para o primeiro debate da corrida.
Os principais candidatos às eleições da UE reuniram-se em Maastricht para o primeiro debate da corrida. Direitos de autor  Copyright Copyright CC BY-NC-ND © ALDE Party
Direitos de autor Copyright Copyright CC BY-NC-ND © ALDE Party
De Jorge Liboreiro
Publicado a Últimas notícias
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Os principais candidatos às eleições europeias enfrentaram-se no primeiro debate da corrida, debatendo, entre outros temas, o Pacto Ecológico, a guerra entre Israel e o Hamas, a migração irregular, a inteligência artificial e o TikTok.

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O debate de Maastricht, co-organizado pelo Politico Europe e pelo Studio Europa, durou uma hora e meia e consistiu numa troca contínua de ideias políticas, que oscilaram entre o ardente e apaixonado e o embaraçoso e arcaico.

Em palco, estiveram os chamados Spitzenkandidaten, os que aspiram a presidir à Comissão Europeia após as eleições de junho: Ursula von der Leyen (Partido Popular Europeu), Nicolas Schmit (Partido dos Socialistas Europeus), Marie-Agnes Strack-Zimmermann (Aliança dos Liberais e Democratas pelo Partido Europa), Bas Eickhout (Partido Verde Europeu), Anders Vistisen (Identidade e Democracia), Walter Baier (Partido da Esquerda Europeia), Maylis Roßberg (Aliança Livre Europeia) e Valeriu Ghilețchi (Movimento Político Cristão Europeu).

Todos tiveram a oportunidade de defender as suas plataformas, mas nem todos brilharam da mesma forma.

Aqui estão os três momentos-chave do debate.

"Limpe a sua própria casa!"

A noite teve um distinto leitmotiv: praticamente todos os candidatos em palco revezaram-se para atacar o principal representante da extrema-direita, Anders Vistisen.

As luvas saíram durante o segundo segmento, dedicado à política externa e de segurança, quando Vistisen denunciou os partidos mainstream por explorarem a guerra na Ucrânia como uma “camuflagem” para mudar os tratados da UE e abolir o direito de veto.

Foi  quando Bas Eickhout, dos Verdes, reagiu, criticando o Identidade e Democracia, acusado de alegada influência russa e chinesa. Os casos fizeram soar o alerta no Parlamento Europeu e estão já sujeitos a investigações criminais na Bélgica e na Alemanha, respetivamente.

“Antes de dar lições a todos, limpe a sua própria casa!", disse Eickhout a Vistisen, motivando fortes aplausos na sala.

Vistisen tentou manter-se firme, argumentando que o grupo ID levou as acusações “a sério”, e apontou a von der Leyen pelo escândalo sobre as mensagens que enviou para negociar um mega-acordo com a Pfizer para as vacinas contra a covid-19.

Von der Leyen não mordeu o isco e prosseguiu: "Se olharem para o programa eleitoral (da Alternativa para a Alemanha, um partido membro da ID), verão que ecoa as mentiras e a propaganda do Kremlin. Por isso, limpem a vossa casa antes de nos criticarem!".

Vistisen ripostou, dizendo que os seus colegas políticos tinham estado "do lado certo da história", enquanto a Alemanha tinha estado "do lado errado" no que respeita à Rússia e à China. Mas o tiro saiu-lhe pela culatra, pois o público vaiou-o ruidosamente.

Tensões sobre a Ucrânia e Gaza

O segmento da política externa ofereceu mais um momento acalorado.

Quando questionado sobre se a Ucrânia deveria abrir mão de partes do seu território em troca de um acordo de paz duradouro, Walter Baier, do Partido da Esquerda Europeia, condenou a agressão russa e disse que era altura de uma “solução política”, que não especificou. Mas depois mudou abruptamente a conversa para a guerra Israel-Hamas, instando a UE a impor sanções contra Israel da mesma forma que fez à Rússia.

Os moderadores insistiram na questão das concessões territoriais, que voltou a evitar com uma resposta vaga sobre conseguir um cessa-fogo.

“Não consigo perceber como é que alguém poderia defender a ideia de que deveríamos continuar esta guerra, até quando? Até que o último soldado ucraniano tenha morrido?” disse.

“Estou a ficar cansada de ouvir isso”, respondeu von der Leyen, evocando a viagem a Bucha. “Se quer acabar com esta guerra, Putin só tem de parar de lutar. Assim a guerra acaba".

Baier voltou a pedir a palavra e trouxe de volta a ofensiva israelita em Gaza, que já matou quase 35.000 palestinianos desde 7 de Outubro. “Quando é que a União Europeia vai impor sanções a Israel para travar a guerra em Gaza?”, perguntou à atual presidente da Comissão Europeoa.

Von der Leyen fez eco da linha oficial da UE, dizendo que Israel tem o direito de se defender “dentro dos limites do direito humanitário e do direito internacional”, e apelou a um cessar-fogo, à libertação de reféns, ao aumento da ajuda humanitária e ao trabalho por uma solução de dois Estados.

Eickhout perguntou-lhe se a invasão de Rafah, que o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu prometeu realizar, seria a sua última “linha vermelha”. 

“Nunca traço linhas vermelhas, mas acho que seria completamente inaceitável se Netanyahu invadisse Rafah”, afirmou.

“E o que é que isso significa?” perguntou ele.

"Depois, sentamo-nos com os Estados-membros e agimos em função disso", respondeu de forma sucinta.

A sombra ECR

O partido dos Reformistas e Conservadores Europeus (ECR) foi o único ausente na segunda-feira, mas gozou de mais destaque do que alguns dos presentes.

Eickhout perguntou diretamente a von der Leyen se, durante um eventual segundo mandato, trabalharia com a formação eurocética de extrema-direita, que engloba partidos como Fratelli d'Italia (Itália), Lei e Justiça (Polónia), Vox (Espanha), Nova Aliança Flamenga (Bélgica), Partido Cívico Democrático (República Checa), Democratas da Suécia (Suécia) e o Partido Finlandês (Finlândia). Reconquête!, o partido do francês Éric Zemmour, aderiu recentemente.

Embora von der Leyen tenha criticado abertamente o grupo ID, cujas posições de extrema-direita indignaram os partidos pró-europeus, tem estado mais relutante em denunciar o ECR depois de desenvolver uma boa relação de trabalho com a primeira-ministra Giorgia Meloni.

“Qual é a sua posição sobre o ECR?”, perguntou Eickhout. “É altura de deixar claro que não vai cooperar com o ECR”.

“Antes de mais, é o Parlamento Europeu que tem de encontrar maiorias”, respondeu von der Leyen.

Em seguida, apresentou uma explicação fora do tema em debate sobre a razão pela qual o Estado de direito era importante para o PPE, o que levou o moderador a intervir e repetir a pergunta de Eickhout.

“Depende muito de como é a composição do Parlamento e de quem está em que grupo”, afirmou.

“O quê?!” interveio Eickhout.

Isto criou um momento para uma intervenção de Nicolas Schmit que, apesar de representar o segundo maior partido do Parlamento e trabalhar como Comissário Europeu, ficou em segundo plano durante a maior parte do debate.

“Fiquei um pouco espantado com a sua resposta, dizendo que depende da composição do Parlamento Europeu”, disse Schmit a von der Leyen, que é chefe dele.

"Foi um pouco estranho, porque os valores e os direitos não podem ser divididos de acordo com alguns acordos políticos. Ou se negoceia com a extrema-direita, porque precisamos dela, ou se diz claramente que não há acordo possível porque eles não respeitam os direitos fundamentais pelos quais a nossa Comissão tem lutado", prosseguiu.

"Lutámos pelos direitos LGBT, lutámos pela igualdade, pela liberdade dos meios de comunicação social, e vejo que em alguns países onde a extrema-direita, a propósito, a ECR, está no poder, não respeitam isso. Já estão a abolir os vossos direitos. Portanto, isto tem de ser preciso!".

Afinal, quem ganhou? Quem perdeu?

Os vencedores claros da noite foram Ursula von der Leyen, que usou da sua eloquência e seriedade para contra-atacar acusações da direita e da esquerda, e Bas Eickhout, que se mostrou combativo e convincente com os seus contra-argumentos mordazes.

Em contrapartida, Anders Vistisen foi muito criticado pelas suas ideias disruptivas e pelas referências frequentes à Dinamarca, o seu país natal, o que levou Eickhout a referir que "este é um debate europeu".

Já Marie-Agnes Strack-Zimmermann falhou com uma atuação rígida e ensaiada, que a fez parecer perdida e sem foco. A certa altura, atacou a Hungria por "travar tudo no Parlamento Europeu" quando, na verdade, o poder de veto só é exercido no Conselho da UE, onde os Estados-membros se reúnem. Mais tarde, referiu-se ao artigo 7.º dos tratados da UE, que permite a suspensão de certos direitos se se verificar que um Estado-membro desrespeitou persistentemente os valores da UE, como "parágrafo 7".

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