Simpatizantes, jornalistas e políticos acorreram em massa à cidade francesa de Hénin-Beaumont, na sexta-feira, para ver o novo "queridinho" da extrema-direita Jordan Bardella.
Não é todos os dias que a pacata cidade de Hénin-Beaumont, no norte de França, vê um mar de gente engravatada a tomar conta da pequena estação de comboios.
É difícil imaginar as milhares de pessoas que afluiram em poucos minutos ao pavilhão desportivo local para ver o novo "queridinho" da extrema-direita, o candidato às eleições europeias, Jordan Bardella e líder do Reagrupamento Nacional (RN), com a antiga líder do partido Marine Le Pen.
Na frente da longa fila que serpenteia à volta do bairro estão Erwann, Matheo e Cyril, de 17 anos. Os estudantes mal podiam esperar pelo fim das aulas para ver o seu político preferido.
"Jordan Bardella atrai os eleitores mais jovens porque é carismático e revemo-nos nele", diz Matheo, enquanto fuma um cigarro eletrónico.
"Jordan deu uma lufada de ar fresco à política e penso que vai continuar por cá durante muito tempo", acrescentou Erwann, que confessou que o atual líder do RN, de 28 anos, despertou o seu interesse pela política francesa.
Com mais de um milhão de seguidores no TikTok, Jordan Bardella é o terceiro político francês mais seguido na plataforma, o que demonstra a sua popularidade junto dos eleitores mais jovens.
"Penso que muitos jovens são influenciados pelos pais, que continuam a pensar que a extrema-direita significa automaticamente racismo e antissemitismo, mas isso já não é verdade. O Reagrupamento Nacional (também conhecido como Reunião Nacional) já não é o que era há 20 anos", explicou Cyril.
O partido de extrema-direita, anteriormente liderado por Marine Le Pen, passou anos a tentar apelar aos eleitores tradicionais e a desdemonizar o seu passado xenófobo.
Em 2022, Le Pen deixou o cargo de presidente do partido e elegeu o seu protegido, Jordan Bardella, que aderiu quando era adolescente.
Muitos dos presentes - mesmo os mais acérrimos apoiantes de Le Pen - concordam com a escolha.
Francine, 75 anos, vota RN há mais de 40 anos. Acredita que o jovem de 28 anos é o sucessor certo.
"É jovem, dinâmico e parece saber o que quer. Mas devo dizer que o seu programa de campanha não tem nada a ver com a ajuda às pessoas com deficiência", disse Francine, uma das poucas pessoas a criticar a campanha europeia da candidata nessa noite.
Uma coisa é certa, a escolha de Marine Le Pen está a colher os seus frutos - Bardella está a arrasar nas sondagens, com 33% das intenções de voto, de acordo com as últimas sondagens, em comparação com os 16% do partido Renascença de Macron, liderado por Valérie Hayer.
Ao subir ao palco enquanto a multidão entoa o seu nome, Bardella atacou, sem surpresa, o presidente francês Emmanuel Macron e o Primeiro-Ministro, Gabriel Attal, a quem chamou "o maior mentiroso de França".
Durante o seu discurso, Bardella exortou o público a votar nas próximas eleições europeias para defender "a identidade de França contra um fluxo de migrantes".
A escolha da cidade de Hénin-Beaumont para o comício de campanha não é despicienda. Trata-se de um dos bastiões históricos da extrema-direita.
Importante centro de extração de carvão até ao final dos anos 80, a cidade e a região de Pas-de-Calais em geral sofreram profundamente com a desindustrialização e registaram algumas das taxas de desemprego mais elevadas de França.
A imigração também tem uma forte ressonância na região, uma vez que dezenas de migrantes tentam deixar a cidade portuária de Calais para chegar à costa britânica.
Jordan Bardella, que se apresenta como o candidato que ama "a França e os franceses", construiu a sua campanha em torno destes temas.
Um abanão inesperado na extrema-direita europeia
Numa altura em que a extrema-direita francesa se prepara para ganhar terreno nas eleições europeias de 9 de junho, uma polémica entre o partido de extrema-direita alemão Alternativa para a Alemanha (AfD) pode vir a estragar-lhes a festa.
O Reagrupamento Nacional decidiu excluir o AfD da sua fação Identidade e Democracia (ID) no Parlamento Europeu, na quinta-feira.
A decisão foi tomada depois de o principal candidato alemão, Maximilian Krah, ter dito ao jornal italiano La Repubblica que, só porque uma pessoa foi membro das SS, "não é automaticamente um criminoso".
Esta mudança inesperada significa que é preciso fazer novas alianças.
"Estamos a duas semanas das eleições e o campo de possibilidades está a abrir-se", disse Thibaut François, deputado responsável pelos assuntos europeus do RN.
François insistiu que o primeiro objetivo do partido é expandir o grupo ID, mencionando "conversações promissoras" com o Vox, um partido nacionalista espanhol que faz parte do Grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR) no Parlamento Europeu.
A ID deverá ver o seu número aumentar nas eleições, graças ao afluxo de eurodeputados de extrema-direita do Partido da Liberdade do holandês Geert Wilder e do Chega, um partido em ascensão em Portugal.
A segunda estratégia é construir uma "minoria de bloqueio de 135 eurodeputados para votar contra textos como o Pacto de Migração e o Acordo Verde", disse François numa entrevista à Euronews.
Mas o deputado admite que a possibilidade de uma grande fusão da extrema-direita com o ECR é "complicada".
O ECR é considerado um pouco mais moderado e colide com as opiniões da ID sobre a forma de lidar com a Rússia. Os dois grupos tentaram fundir-se há alguns anos, mas não conseguiram.
O ECR é composto pelo partido Irmãos de Itália, da primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, e pelo Lei e Justiça (PiS) da Polónia, entre outros partidos.
Mas o centro-direita, incluindo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, acredita que alguns dos eurodeputados da ECR (sobretudo os de Meloni) podem ser tentados a trabalhar em conjunto.
Uma opção que é impossível para o Reunião Nacional, que se recusa a trabalhar com Von der Leyen.
"Uma coisa é certa: haverá algumas surpresas após as eleições de 9 de junho", afirmou Alexandre Loubet, diretor de campanha de Jordan Bardella.