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Percentagem de mulheres no Parlamento Europeu baixou pela primeira vez em 45 anos

O hemiciclo do Parlamento Europeu em Estrasburgo
O hemiciclo do Parlamento Europeu em Estrasburgo Direitos de autor Jean-Francois Badias/Copyright 2023 The AP. All rights reserved
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De  Isabel Marques da Silva
Publicado a Últimas notícias
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A 10.ª legislatura do Parlamento Europeu terá 720 deputados, mais 15 do que na anterior, mas a percentagem de mulheres diminuiu. Por outro lado, a média de idades aumentou ligeiramente e metade são estreantes. Dados analisados ​​numa entrevista com Doru Frantescu, do centro de estudos EU.Matrix.

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Euronews: o Parlamento Europeu continua longe da paridade, já que apenas 38,7% dos membros são mulheres. No novo hemiciclo, que passa a ter 720 membros - mais 15 do que no anterior-, as mulheres estão menos representadas do que no anterior mandato?

Doru Frantecu, Fundador e CEO de EU.Matrix: É, de facto, a primeira vez desde que se realizaram eleições para o Parlamento Europeu, em 1979, que a proporção de mulheres diminuiu em comparação com o mandato anterior. Não é uma grande diminuição, apenas 1%. Mas ainda assim, é a primeira vez que a tendência de aumento com vista à paridade não se verificou.

Apenas os verdes atingem a paridade, com 50.9% de mulheres. As mulheres são cerca de 45% dos membros tanto no A Esquerda (esquerda radical) como no Renovar a Europa (centro-liberal). Mas a percentagem vai baixando em todos os outros grupos, sendo o valor mais baixo, de 21,7%, no CRE.

O quadro tem a ver com muitos fatores, mas um dos principais é que os partidos mais à direita no espetro político conquistaram mais assentos e os da esquerda perderam. Tradicionalmente, há uma maior representação de mulheres nos grupos de centro e de esquerda. Portanto, é um fenómeno sobretudo sociológico, não tem a ver com a possibilidade de participação das mulheres na política.

Eurodeputadas são  menos de 40% do hemiciclo
Eurodeputadas são menos de 40% do hemicicloJean-Francois Badias/Copyright 2021 The AP. All rights reserved.

Podemos dizer que a grande parte dos eurodeputados são pessoas de meia-idade e que existe um bom equilíbrio entre a faixa dos mais jovens (20,4% têm menos de 40 anos de idade) e a dos mais velhos (19,4% têm mais de 60 anos de idade). Lena Schilling, de 23 anos, é a mais nova e Leoluca Orlando, de 76 anos, é o mais velho. Este quadro é suficiente para rejuvenescer a política europeia?

Penso que a proporção entre jovens e idosos permanece praticamente a mesma. A média de idade no Parlamento Europeu aumentou ligeiramente, passando dos 49,5 para os 50 anos. Mas temos de ter em conta que, nos últimos cinco anos, a esperança de vida da sociedade europeia também aumentou. Mas existem diferenças entre as várias famílias políticas. Os mais jovens costumam optar por partidos criados mais recentemente, tal como o dos Verdes (41,5%) e por alguns dos novos partidos da esquerda. Já os partidos mais tradicionais têm uma média de idade um pouco maior.

Os menores de 40 anos também estão bem representados em grupos da direita radical, tais como o Europa das Nações Soberanas (32,1%) e o Patriotas para a Europa (28,5%). No CRE (direita radical) , Renovar e o S&D (centro-esquerda), representam cerca de 20% dos membros, e apenas no PPE (centro-direita) não vão além dos 11,1%. O que é que isto revela?

Em geral, os jovens que querem envolver-se na política têm de encontrar o caminho mais rápido para chegar ao topo. E o caminho mais rápido não é pelos partidos tradicionais, porque ainda há muitas personalidades de peso com protagonismo. Então, se quiserem chegar ao topo rapidamente têm de procurar os novos partidos. É por isso que estamos a assistir a uma proliferação de novos partidos em todo o continente, incluindo na direita radical, porque os jovens querem envolver-se. Eles percebem que agora é mais fácil criar novos movimentos políticos e isso é bom para a democracia. Por outro lado, é mais negativo em termos de estabilidade e previsibilidade do espetro político. Há muito debate sobre isto, mas diria que, no geral, a vida política se está a tornar mais dinâmica.

O jovem político francês Jordan Bardella é repetente como eurodeputado, mas agora presidirá a uma bancada da extrema-direita
O jovem político francês Jordan Bardella é repetente como eurodeputado, mas agora presidirá a uma bancada da extrema-direitaJean-Francois Badias/Copyright 2019 The AP. All rights reserved

Outro dado relevante é que 61,5% dos eurodeputados foram eleitos por partidos que não estão no poder nos Estados-membros da sua origem. Muitos cidadãos continuam a usar as eleições europeias como punição pelos fracassos dos governos na política doméstica?

Sim, temos muito mais eurodeputados provenientes de partidos da oposição, o que significa que estes eurodeputados não têm interesse em apoiar o que o seu governo defende ao nível do Conselho Europeu (que reúne chefes de Estado e de governo). Por isso, comportam-se muitas vezes como oposição ao Conselho e à Comissão, até porque não são os seus partidos que escolheram os comissários. No caso da Comissão Europeia, têm mais interesse em criticar, em fiscalizar. Mas, obviamente, que o quadro vai mudando. Por exemplo, o centro-direita está na oposição na Alemanha, mas poderá regressar ao poder.

A França é onde a estratégia de punição é mais visível?

Sim, claramente, já que 85% dos deputados franceses no Parlamento Europeu não pertencem aos partido do atual governo em Paris, do presidente Emmanuel Macron. Isso significa que a maioria dos deputados irá criticar tudo o que Macron faz no Conselho Europeu. Na Alemanha, os partidos no poder também tiveram um desempenho muito, muito fraco, já que a maioria dos deputados vem da CDU (centro-dieita) e da Alternativa para a Alemanha (extrema-direita). Apenas em alguns países, tais como Itália, Polónia e Grécia, os partidos do governo conseguiram vencer as eleições.

Finalmente queria analisar o facto de que 54,3% dos membros são estreantes. Apesar destes políticos terem, muitas vezes, experiência ao nível dos parlamentos nacionais, a dinâmica legislativa e as regras da negociação política nesta instituição da UE são bastante diferentes.

O Parlamento Europeu é, certamente, muito diferente daquilo a que muitos desses políticos estão habituados, porque aqui não se trata de apoiar um governo ou coligação governamental de forma estável. As alianças mudam de uma votação para outra. Temos agora oito grupos políticos e o poder está muito mais fragmentado. A maquinaria das instituições da UE é cada vez mais complexa. Os novos eurodeputados levarão pelo menos seis meses a compreender o que está na agenda, como fazer as coisas. Os que regressam passam a ser vistos comos os séniores que sabem como se tornar mais influentes e conseguem, mais facilmente, serem relatores e presidentes das comissões.

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