Kiev estava "bem preparada" para o inverno "há alguns dias", antes de uma série de ataques russos terem como alvo instalações de petróleo e gás, disse Odile Renaud-Basso.
A presidente do Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BERD), Odile Renaud-Basso, disse à Euronews que os recentes ataques russos à rede de energia da Ucrânia vão representar um "novo desafio" para o país neste inverno.
A Ucrânia enfrenta o seu quarto inverno desde que a Rússia lançou a sua invasão em grande escala, em fevereiro de 2022. Nos meses que antecederam o início da estação fria no país, o BERD estava a trabalhar com a empresa estatal ucraniana de petróleo e gás Naftogaz para garantir que a Ucrânia tivesse armazenamento de gás suficiente para cobrir o inverno.
No entanto, estes esforços têm sido frustrados nas últimas semanas, uma vez que a Rússia está a intensificar os seus ataques com mísseis e drones contra as infraestruturas energéticas ucranianas, já de si enfraquecidas. Este bombardeamento da rede mergulhou várias regiões, incluindo Kiev, na escuridão.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, descreveu os ataques como "cínicos e calculados". O ministro da Energia do país afirmou que o objetivo é aumentar as importações de gás natural em 30% para compensar os danos infligidos pelos ataques.
"Há um novo desafio", disse Renaud-Basso ao novo programa da Euronews "12 minutos com...".
"O país estava muito bem preparado há alguns dias. O novo ataque cria um novo desafio, por isso é importante continuar a reforçar e a estar preparado".
"Resposta efetiva"
O BERD, que financia projetos para bancos, indústrias e empresas do setor privado, tem investido na Ucrânia desde a sua criação em 1991. No entanto, quando a guerra começou, intensificou os investimentos e mobilizou mais de 8,3 mil milhões de euros para a Ucrânia desde fevereiro de 2022.
Além de se concentrar em garantir a segurança e a estabilidade energética, este dinheiro também vai para os setores bancário e agroalimentar.
Renaud-Basso observou que, embora a rede nunca possa ser completamente protegida, a Ucrânia tem sido "extremamente eficaz" na sua resposta aos ataques, desde a reparação de infraestruturas de rede essenciais e a construção de abrigos até à descentralização do sistema.
"Esta é uma forma de evitar a concentração do risco".
No entanto, sublinhou, a Rússia continua a visar as infraestruturas energéticas. "Há alguns dias, a Ucrânia sofreu o maior ataque às suas infraestruturas de gás, o que criou um novo desafio".
A Bloomberg noticiou, a 9 de outubro, que os ataques contra as regiões ucranianas de Poltava e Kharkiv danificaram cerca de 60% da produção de gás do país, mas este facto não foi oficialmente confirmado pelas autoridades ucranianas.
Sergii Koretskyi, diretor-executivo da Naftogaz, escreveu nas redes sociais: "Este é o maior ataque maciço às nossas infraestruturas de extração de gás desde o início da guerra em grande escala".
Durante a época alta de necessidade de aquecimento, que vai do final de dezembro ao início de março, a temperatura média na Ucrânia desce frequentemente abaixo dos 0°C.
Segundo o jornal Kyiv Independent, a Ucrânia precisa de, pelo menos, 13,2 mil milhões de metros cúbicos de gás para aquecer casas, escolas, hospitais e empresas durante os meses de inverno. Agora, com as infraestruturas de gás danificadas, o BERD irá fornecer à Naftogaz um novo financiamento para a importação de gás de emergência.
"Como instituição, como banco, e com os países que apoiam a Ucrânia, temos de ser muito ágeis na definição da resposta e na prestação de apoio em função das prioridades", afirmou Renaud-Basso.
A diretora do BERD acrescentou que o banco está empenhado na reconstrução da Ucrânia após a guerra e planeia disponibilizar pelo menos 3 mil milhões de euros por ano para financiar a sua recuperação económica. Mas explicou que é necessária uma paz duradoura para que esta recuperação possa começar: "Para uma verdadeira reconstrução, é importante ter uma visibilidade clara e a certeza de que a guerra não vai recomeçar".
O BERD não fez novos investimentos na Rússia desde 2014, quando Moscovo anexou a Crimeia. Em abril de 2022, o banco também suspendeu o acesso da Bielorrússia aos seus recursos, dado o seu apoio à invasão da Ucrânia por Moscovo.
O banco suspendeu também o acesso da Bielorrússia aos seus recursos, devido ao apoio de Moscovo à invasão da Ucrânia: "Suspendemos qualquer investimento e relação financeira com a Rússia e a Bielorrússia e não vejo que as circunstâncias atuais nos permitam recomeçar".