A autonomia da Europa em matéria de segurança, defesa e comércio será um tema quente durante o congresso dos socialistas europeus, especialmente perante as tensões entre Trump e Sánchez.
O Partido dos Socialistas Europeus reuniu-se em Amesterdão, na quinta-feira, para um congresso de dois dias destinado a eleger os seus principais cargos e a discutir a sua estratégia a nível europeu.
Os principais socialistas europeus, como o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez, o presidente do Conselho Europeu António Costa e o líder socialista holandês Frans Timmermans, vão discutir opções para a autonomia da Europa em relação aos EUA nos domínios da defesa, segurança e comércio, disseram fontes do PSE à Euronews.
O congresso do PSE realiza-se logo após a Comissão Europeia ter apresentado um roteiro europeu de defesa com o objetivo de alcançar a "autossuficiência" do continente em matéria de defesa. Ao mesmo tempo, cerca de 80% do equipamento militar que os Estados-Membros da UE adquirem vem de fora do bloco, principalmente dos EUA.
O congresso surge na sequência de uma repreensão do Presidente norte-americano Donald Trump ao chefe de governo espanhol Sánchez, atualmente a figura mais proeminente do campo socialista.
A fricção entre os EUA e Espanha remonta à cimeira da NATO em junho, quando os aliados se reuniram em Haia para acordar um novo compromisso de gastar 5% do seu PIB em defesa.
Mas o primeiro-ministro espanhol considerou o valor de 5% "irracional" e "contraproducente" e pediu - e obteve - uma isenção à medida para o seu país.
A linguagem da declaração final da NATO foi então ajustada para permitir uma maior flexibilidade no cumprimento do objetivo de 5%, poupando efetivamente Espanha ao compromisso.
Este desacordo levou Trump a criticar a atitude de Espanha, chegando mesmo a sugerir que o país seja "expulso" da NATO.
Outra questão polémica neste quadro é a abordagem socialista ao cessar-fogo em Gaza.
Durante a guerra entre Israel e o Hamas, os eurodeputados e dirigentes socialistas estiveram na linha da frente das críticas europeias a Israel pelas suas ações em Gaza, defendendo sanções da UE e invocando a suspensão do acordo de associação UE-Israel. A maioria deles definiu a ação de Israel como "um genocídio".
Agora que a guerra terminou, o partido político de esquerda deve redefinir a sua estratégia sobre a questão, que pode tornar-se uma batalha política para o futuro.
"A paz não pode significar esquecimento ou impunidade. Os principais atores do genocídio perpetrado em Gaza terão de responder perante a lei", disse Sánchez numa entrevista a uma rádio espanhola na terça-feira.
"O plano de paz de Trump foi uma boa jogada, mesmo que tenha sido um plano de cima para baixo. Mas agora as instituições têm de trabalhar para envolver a população palestiniana num diálogo para alcançar uma paz duradoura", disse a eurodeputada socialista Annalisa Corrado à Euronews.
Uma sessão do congresso será dedicada a ouvir os testemunhos dos médicos James Smith e Ana Jeelani, que têm trabalhado na Faixa de Gaza, e são esperadas mais conversas informais sobre o tema.
De acordo com fontes do PSE, outras discussões relevantes centrar-se-ão na estratégia do S&D no Parlamento Europeu, onde os socialistas enfrentam "fortes pressões" do PPE para desmantelar o Acordo Verde, e na preocupante ascensão dos partidos de extrema-direita na Europa.
Atualmente, os socialistas lideram em apenas três dos 27 países da UE: Espanha, Dinamarca, com Mette Frederiksen, e Malta, com Robert Abela, que não deverão estar presentes no congresso do PSE.
Eleição de novos dirigentes
Os socialistas vão também eleger o seu novo líder na sexta-feira. O presidente do PSE, Stefan Löfven, que foi primeiro-ministro da Suécia de 2014 a 2021, é o único candidato, e pediu ao atual secretário-geral Giacomo Filibeck para continuar também, de acordo com fontes do partido.
Os vice-presidentes do partido também deverão ser confirmados, de acordo com outra fonte. Entre eles estão a líder do grupo S&D no Parlamento Europeu, Iratxe García Pérez, a ministra dos Negócios Estrangeiros da Eslovénia, Tanja Fajon, e os eurodeputados Katarina Barley e Victor Negrescu.
Durante o congresso, serão discutidas e votadas 12 resoluções com as prioridades dos socialistas para os próximos meses, sobre temas como o emprego, a transição ecológica, a habitação, os direitos sociais e a capacitação dos jovens.
"Este congresso é um exemplo de como a ofensiva e a estratégia da família socialista estão mais vivas do que nunca. Nós, progressistas, continuamos a defender os nossos valores e a apresentar soluções para os desafios que as sociedades modernas enfrentam", disse García Pérez à Euronews.
Para além da eleição, das resoluções e da declaração final do congresso, o essencial será o que os líderes socialistas disserem em palco durante os debates e, sobretudo, o que discutirem entre si à margem do congresso.