Dmitri Medvedev: "A situação na Síria não deve ser idealizada"

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Dmitri Medvedev abriu nesta quarta-feira, o terceiro Fórum Político Global, na cidade de Yaroslavl, na Rússia central. O presidente russo falou sobre os conflitos regionais, as liberdades individuais e o distanciamento económico entre países ricos e pobres.

Euronews: Aproxima-se mais um inverno e, mais uma vez, existe um conflito entre a Rússia e a Ucrânia por causa do abastecimento de gás…

Dmitri Medvedev: Até agora não existe conflito. Sim, existem diferenças que podem levar a vários desenvolvimentos.

E: Isto poder gerar, por exemplo, problemas de abastecimento de gás para a Europa?

DM: Espero que depois de todas as últimas experiências, os nossos parceiros e amigos mais próximos aprendam que apenas um não pode atacar a base contratual existente – mesmo que não se goste disso, tal como os nossos colegas e parceiros, o presidente e o primeiro-ministro da Ucrânia, que dizem que o contrato é mau e injusto e por isso não o vão honrar. Isto é completamente inaceitável.

Todos os acordos, desde que não sejam anulados nos tribunais ou abandonadas por ambas as partes, devem ser executados. Espero que os nossos parceiros e amigos ucranianos cumpram, rigorosamente, o acordo celebrado em 2009.

Quanto ao futuro, já falei várias vezes sobre isso: estamos dispostos a discutir vários esquemas de cooperação com nossos parceiros ucranianos. Incluindo arranjos avançados, com base na integração da Ucrânia na União Aduaneira. Eles, no entanto, por alguma razão, dizem que a Organização Mundial do Comércio os impede de aderir à União Aduaneira. É um pouco estranho pois a União Aduaneira, a nós, não nos impede de aderir à OMC. Mas esta é a sua leitura. Podemos discutir a integração com base em outras abordagens, incluindo o nosso investimento na economia ou no sistema de transporte de gás da Ucrânia. Agora, se podemos concordar com isso – provavelmente vamos estar prontos a considerar a mudança no esquema de cooperação. Mas, ao mesmo tempo, permanece o princípio imutável de que a cooperação, relativa ao gás, é, sempre, baseada numa fórmula. A fórmula é universal e aplica-se tanto à Ucrânia como a outros países.

Dizer-se coisas como: “estamos a pagar mais do que outros países”, não é baseado em nada. Isso é pura propaganda. A Ucrânia paga pela mesma fórmula e paga o dinheiro proporcional ao preço pago por outros consumidores europeus. Os preços atuais estão altos, é verdade, mas pode haver alturas em que podem ser extremamente baixos. E, nesse caso, é um problema para o fornecedor de energia. Portanto, em resumo, espero que os consumidores ucranianos continuem a cumprir o contrato e chegaremos a um acordo em relação aos nossos negócios futuros.

E: O ministro dos negócios estrangeiros francês, Alain Juppé, pediu à Rússia, durante uma visita a Moscovo, para apoiar as sanções da União Europeia contra a Síria. Qual é a política da Rússia em relação a este assunto?

DM: De facto discuti esse assunto com o senhor Juppé e com o ministro da defesa francês. A questão é a seguinte: Não estamos completamente satisfeitos com o modo como a Resolução 1973 foi implementada. Agora é uma coisa do passado, porque, aparentemente, na Líbia a situação mudou. No entanto, acreditamos que o mandato, emanado da Resolução 1973 sobre a Líbia, foi ultrapassado. Nós não gostaríamos que acontecesse a mesma coisa em relação à Síria.

Sim, nós vemos os problemas na Síria. Vemos o uso desproporcionado da força, um grande número de vítimas, e também não gostamos. Tenho conversado, pessoalmente, sobre isso com o presidente Bashar Al-Assad. Recentemente enviei um secretário de estado dos negócios estrangeiros para sublinhar a nossa posição sobre esta questão. Acredito que as resoluções que fazemos para dar uma mensagem severa à, como dizem, liderança da Síria, devem ser dirigidas a ambos os lados, porque a situação não é estéril. Aqueles que levantam lemas antigoverno – não são apenas simpatizantes da requintada democracia europeia. São pessoas muito diversas. Alguns deles são, francamente, extremistas. Outros podem até ser chamados de terroristas.

A situação não deve ser idealizada. Devemos, sim, prosseguir com base no equilíbrio de forças e interesses. Estamos prontos para apoiar uma variedade de abordagens, que não devem ser baseadas na condenação unilateral dos atos do governo e do presidente Assad. Eles devem enviar uma forte mensagem a todos os lados do conflito. Eles precisam de se sentar e darem início às negociações para que se acabe com o derramamento de sangue. A Rússia, enquanto grande amiga da Síria, está também interessada nisso. Este é um país com o qual temos inúmeros contactos económicos e políticos. Por isso continuaremos à procura de soluções para se sair desta situação.

E: Senhor presidente, estamos em Yaroslavl, onde decorre, pela terceira vez, o Fórum de Política Global, sob o seu patrocínio. O principal tema deste ano é o problema do multiculturalismo. Considera este um tópico relevante, nos dias de hoje?

DM: A Rússia é um país extremamente complexo e etnicamente muito diverso, com muitos povos e religiões. Para nós a questão da coexistência de diferentes nações não é uma questão de imigrantes, que existem em todos os estados, incluindo a Rússia.

É uma questão de harmonia interna, que foi construída ao longo dos séculos, e que fomos capazes de trazer para um novo nível, como nos pareceu, por um determinado período de tempo.

Recordo que na era soviética usámos o termo “comunidade sólida do povo soviético.” De muitas maneiras, acabou por ser apenas uma construção teórica. Isso não significa que devamos afastar-nos deste problema e desta ideia. Precisamos mesmo de criar uma sociedade harmoniosa, onde as pessoas sejam tolerantes umas com as outras, e, ao mesmo tempo, que respeitem as tradições que compõem o núcleo de qualquer grupo étnico, independentemente da região. Quer seja o centro da Rússia, o Cáucaso ou o Extremo Oriente. Nestes lugares vivem cidadãos russos que têm os mesmos direitos e responsabilidades e que devem, igualmente, comportar-se de modo adequado, em público.

Portanto, este tema é importante para nós. Mas, na Europa, há também uma série de problemas. Considero muito importante o intercâmbio de abordagens teóricas para o problema e a troca de estratégias práticas e adequadas aos dias de hoje.

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