Identidade e futuro da UE debatidos nas "Jornadas de Bruxelas"

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Reinventar a Europa, imersa numa crise económica e política, foi o tema que juntou dezenas de pensadores, de 10 a 12 de Outubro, em Bruxelas, numa conferência organizada pela revista francesa Nouvel Observateur e acompanhada pela correspondente da euronews Audrey Tilve.

A sete meses das eleições para o Parlamento Europeu, os 18 debates analisaram questões como o crescimento económico ou o aumento do populismo.

Para o diretor do Nouvel Observateur, Laurent Joffrin, o clube dos 28 Estados-membros é demasiado burocrático que precisa de um rosto mais apelativo.

“Houve uma pessoa que encarnou bem o ideal europeu e todos os conhecem: Jacques Delors. As pessoas podiam estar contra ou a favor dele, mas conheciam-no bem. Depois os os governos de cada país decidiram que não queriam uma pessoa muito forte, que lhes fizesse sombra. Os poderes e a visibilidade foram diminuídos e, portanto, as pessoas sentem um défice democrático”, disse Joffrin.

O próprio Jacques Delors foi um dos oradores e realçou que “atualmente temos o presidente da Comissão e o presidente do Conselho. É razoável ter duas lideranças, seja qual for o papel de negociador, que foi bem desempenhado por Herman Van Rompuy, uma personalidade iminente? Na realidade, elege-se apenas metade da presidência da comissão”.

Este ex-presidente da comissão europeia refere-se à novidade das próximas eleições, em que os vários grupos partidários europeus têm de dar a conhecer o seu candidato a este posto.

Mas o colunista francês Bernard Guetta considera que é preciso mais para aumentar o entusiasmo dos eleitores: “Podemos lutar juntos contra o dumping social, ecológico e monetário que fazem os nossos principais concorrentes. As pessoas vão perceber que um grupo de 28 – ou mesmo só de 17, quando se trata da zona euro -, pode ser bastante mais forte contra a China do que cada um por si”.

A eurodeputada francesa Sylvie Goulard realça que “a gestão da união bancária na zona euro não entusiasma ninguém. Mas, por exemplo, se for criado um cheque de educação que permita às famílias pagarem cursos de línguas ou estadias Erasmus, então a vida real estará no centro do projeto europeu”.

O que algumas sondagens e estudos indicam é que os movimentos eurocéticos e nacionalistas estão em grande ascensão. Poderão mesmo ser a grande surpresa nas urnas, em Maio próximo.

O filósofo Michel Onfray recorda que “a velha lógica dos países estalinistas era dizer, quando havia problemas na União Soviética, que tal se devia ao facto da União Soviética precisar de se aprofundar mais, de ser ainda mais soviética. O mesmo nos é dito agora sobre a União Europeia: quando há problemas é porque a Europa ainda não é suficientemente europeia. Dizem que mais Europa vai fazer com que os problemas desapareçam”.

Mas para salvar a Europa da desintegração, há quem defenda que se deve sublinhar como é um projeto especial, único no mundo. É nomeadamente a opinião do ex-diretor da Organização Mundial do Comércio, Pascal Lamy.

“Os europeus são menos tolerantes à desigualdade do que noutras zonas do mundo, tais como os Estados Unidos ou China. Penso que a identidade europeia se revê muito nos sistemas sociais. Mas é preciso crescer mais 1% porque, sem isso, os sistemas sociais ficam em risco. Sem isso, a própria identidade da União Europeia corre perigo”.

O escritor alemão Peter Schneider diz que “temos um capitalismo mais humanista do que nos Estados Unidos, com educação e saúde gratuitas. O presidente norte-americano foi chamado de comunista porque quis estatizar um pouco os serviços de saúde. Vivemos num continente privilegiado mas não o defendemos, nem defendemos os seus valores, que são os do Iluminismo”.

Não haverá soluções milagrosas, mas um debate é por si só um passo em frente para encontrar algumas propostas sobre como fazer avançar algo único, construído ao longo de seis décadas: a União Europeia.

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