Eleições na Hungria estreiam regras que desagradam à esquerda

Eleições na Hungria estreiam regras que desagradam à esquerda
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A Hungria é chamada às urnas este domingo para eleger um novo Parlamento. Mas há novidades no sistema eleitoral do país. Após a mudança de regime em 1994, esta será a primeira vez em mais de duas décadas que a forma de votar será radicalmente diferente.

O partido Fidesz ou União Cívica Húngara, que detém dois terços da maioria parlamentar desde 2010, impôs a mudança das regras eleitorais há dois anos. O novo sistema é contestado nomeadamente pela principal força de oposição, o Partido Socialista húngaro (MSZP, na sigla original), que nestas eleições integra a aliança de esquerda intitulada simplesmente União (Összefogás) com mais quatro partidos de centristas e de centro-esquerda e que tem no socialista Attila Mesterházy o escolhido para vencer e suceder o atual primeiro-ministro Viktor Orbán, recandidato pelo Fidesz.

Seja como for, as mudanças estão legitimadas e desta feita a eleição decorrerá apenas a uma volta e os deputados a ser eleitos vão ser agora pouco mais de metade (199) do que os 386 das últimas legislativas na Hungria. A grande controvérsia centra-se no chamado “gerrymandering”, um subsistema eleitoral originário nos Estados Unidos e que pode afetar os grupos minoritários.

Campanha da oposição sem espaço
As novas regras eleitorais na Hungria permitiram também aos municípios afetos ao partido no poder a possibilidade de reduzir os espaços para cartazes eleitorais, o que retirou espaço de promoção ao programa eleitoral da esquerda.

As forças de direita, por outro lado, são mais propensas a aparecer em comícios e em festas. O Fórum Cívico de Unidade, um aliado do Fidesz, organizou, há uma semana, uma Marcha pela Paz que acabou por se juntar a um comício do partido no governo. “O que não tinha sido conseguido em 20 anos, nós fizemos em quatro. Algumas vezes penso que podemos fazer ainda muito mais”, afirmou o primeiro-ministro no encerramento da presente campanha.

Na Praça dos Heróis, Viktor Orbán sublinhou ainda que o governo reabilitou a Hungria nos últimos quatro anos e, por isso, pediu mais um mandato.

O líder da oposição, Attila Mesterházy, realizou o último comício na Ópera, onde pediu aos húngaros para não apoiarem o Fidesz porque os últimos quatro anos, defendeu, foram de empobrecimento. “Devemos retribuir toda aquela arrogância, humilhação e intimidação que sofremos nos últimos quatro anos”, disse Mesterházy.

A aliança de esquerda foi também ela um casamento forçado, um constrangimento do sistema eleitoral. Os partidos da esquerda foram obrigados a fazer uma lista comum. Era a única possibilidade de derrotar Viktor Orbán. Mas esse objetivo é o única coisa que têm em comum.

Por fim, na linha do que tem vindo a acontecer em determinadas partes da Europa, o partido de extrema-direita, Jobbik, pode ganhar ainda mais popularidade.

O Jobbik costumava chamar a atenção através de violentos ataques antissemitas e anti-ciganos. Agora, tentou mostrar uma imagem menos radical, de forma a atrair os desiludidos do Fidesz. A campanha incidiu, sobretudo, nos velhos antagonismos.

Durante a campanha, contudo, não houve quaisquer debates de ideias ou programas entre os principais candidatos. O Fidesz até confessou que não tinha qualquer programa eleitoral. O partido no governo deseja apenas prosseguir a política já conhecida e, por isso, limitou-se a recordar que, antes das eleições, baixou o preço da gasolina e do gás.

A oposição centrou os seus ataques na nova central nuclear – um investimento de 10 mil milhões de euros, com recurso a crédito. Os pormenores do contrato permanecem em segredo.

Durante a campanha, a esquerda foi ainda abalada por um caso de corrupção. A polícia prendeu o vice-presidente do MSZP, sob acusação de ter contas bancárias secretas na Áustria. Diz-se que escondem várias centenas de milhares de euros não declarados.

Tal como em Portugal e certamente também na maioria dos países, na Hungria as inaugurações são agendadas para coincidir com a campanha eleitoral. Nas últimas semanas, houve várias: uma nova linha de metro; uma praça central, em Budapeste; e um enorme estádio de futebol, na terra natal de Orbán.

Analista dá vitória da direita como garantida
O analista político Gábor Török passou pelos estúdios da euronews, em Budapeste, e traçou-nos o quadro geral destes eleições, as primeiras na Hungria desde a mudança das regras eleitorais em janeiro de 2012.

euronews: Pode dizer-nos o que está em jogo nestas eleições?
Gábor Török: A fazer fé nas últimas sondagens, a grande questão é que tipo de maioria é que o partido no poder, o Fidesz, vai conseguir desta vez? Eles têm uma grande chance de manter os dois terços do Parlamento.

euronews: Como se explica o fenómeno de, por um lado, haver o prognóstico de uma maioria de dois terços e, por outro, as sondagens revelarem que a maioria dos húngaros prefere uma mudança?
Gábor Török: É verdade. A maioria das sondagens mostram que metade da população gostava de ver uma mudança. Mas também observamos que um largo número dessas pessoas não definem um partido para votar.

euronews: Como podem, então, elas decidir? Durante a campanha os programas dos partidos não foram discutidos, não houve debates entre candidatos e a campanha nas ruas é muito pobre. Como é que as pessoas podem escolher em quem votar?
Gábor Török: Falando com franqueza: há uma apenas uma questão por responder. Saber se Viktor Orbán deve continuar ou se deve dar o lugar a outro. A esquerda e a direita são normalmente definidas na Hungria pelo que Orbán faz. A ala direita é o que ele faz e a esquerda é definida pelo que não faz e é isto, basicamente, que está a dividir o país.

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euronews: Como é que vê a campanha dos partidos de esquerda?
Gábor Török: Entre os que contam nestas eleições, estão a fazer a campanha mais fraca de todas. A aliança entre eles existe apenas no papel, mas eles não conseguem funcionar como uma só força política. O “puzzle” é este: o sistema eleitoral obrigou-os a fazer campanha juntos, mas eles não funcionam como um todo e esta é a principal barreira à atividade política da esquerda.

euronews: Como é que vê, por fim, o crescimento dos ultras de extrema direita do Jobbik?
Gábor Török: São a maior surpresa desta campanha. É muito provável que venham a ter o mesmo resultado de há quatro anos – 16 por cento. Ou talvez cheguem mesmo aos 20 por cento dos votos.

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