Em entrevista à euronews, Stefan Doerr aponta o dedo às alterações climáticas e ao mau planeamento urbano
O fogo que tem devastado a Califórnia está longe de ser um caso único nos últimos anos. A euronews entrevistou o especialista em incêndios florestais, Stefan Doerr, para tentar compreender o fenómeno.
Euronews: Porque é que os incêndios são cada vez mais intensos?
Doerr: As alterações climáticas têm influência e já foi provado que na Califórnia aumentou o número de incêndios, podemos dizer o mesmo do Canadá. Em termos globais, temos períodos de seca mais longos que favorecem a proliferação de incêndios. As alterações climáticas aumentam a intensidade dos incêndios, não quer dizer que vamos ter fogo em todo o lado, mas serão mais ferozes e irão colocar vidas em perigo.
As temperaturas médias aumentaram, a precipitação baixou em algumas zonas e há menos neve no inverno, o que torna o solo mais seco e cria as condições ideais para os incêndios. Juntando isto à seca extrema que tivemos no verão e aos fortes ventos que se fazem sentir e qualquer fonte de ignição pode propagar à vegetação circundante e causar estes incêndios.
Euronews: Este ano tivemos incêndios de grandes proporções em Portugal e na Grécia, o que devíamos fazer para combater o fenómeno a nível global?
Doerr: Devíamos mudar a forma como interagimos com os incêndios. Estamos a construir cada vez mais em zonas altamente inflamáveis. Por exemplo, a cidade de Paradise na Califórnia, onde podemos ver árvores em todo o lado. Árvores ao longo das ruas, árvores junto às casas, ainda por cima pinheiros, uma espécie bastante inflamável nestas condições.
Aconteceu o mesmo na Grécia este verão, morreram quase 100 pessoas numa pequena cidade, em Mati, que estava coberta de árvores. O que devíamos fazer é remover a vegetação inflamável das zonas urbanas e manter as zonas florestais longe das cidades, isto irá salvar muitas vidas no futuro.