A Amazónia arde, o mundo assiste e os políticos pedem urgência

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De  Ana Serapicos com Lusa, Globo
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Depois de uma reunião de urgência, Jair Bolsonaro determinou aos ministros que adotem as "medidas necessárias para o levantamento e o combate a focos de incêndio na região"

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As imagens são impressionantes e correm o mundo. Uma linha de fogo consome a Floresta Tropical da Amazónia. O "pulmão" do Planeta Terra está a arder há dias a fio e com ele muita da diversidade daquela que é a maior reserva de vida animal do mundo.

As reações chegam de todo o lado. O Secretário-geral das Nações Unidas, António Gueterres, escreveu no twitter que está "extremamemente preocupado" com o incêndio que está a destruir a floresta. 

"Estou extremamente preocupado com os incêndios na Floresta Tropical da Amazónia. No meio da crise climática global, nós não conseguimos suportar mais prejuízos à maior fonte de oxigénio e de biodiversidade. A Amazónia deve ser protegida”, pediu António Guterres. 

O presidente francês, Emmanuel Macron, também usou a rede social para alertar para o problema, e deixou um pedido: Discutir o desastre na Cimeira do G7, que acontece este sábado. 

"A nossa casa está a arder", escreveu Emmanuel Macron. "Isto é uma crise internacional. Membros da Cimeira do G7, vamos discutir esta emergência em primeiro lugar.", pediu o presidente francês.

Quem não gostou da intervenção de Emmanuel Macron foi o presidente brasileiro, que rapidamente acusou o homólogo de aproveitar a oportunidade para "ganhos políticos pessoas". 

A Amazónia arde debaixo do nariz do governo brasileiro

O governo brasileiro atira a culpa para as ONG, para os produtores locais e para a época das queimadas. Jair bolsonaro tem estado debaixo da atenção do mundo depois de ter mostrado calma em relação ao desastre ambiental que está a acontecer. O presidente do Brasil decidiu marcar uma reunião de urgência com o Conselho de Ministros, a qual aconteceu esta quinta-feira, para discutir o problema. Problema que não espera por decisões políticas. 

Jair Bolsonaro determinou aos seus ministros que adotem as "medidas necessárias para o levantamento e o combate a focos de incêndio na região".

O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, tinha admitido que os fazendeiros podiam ter provocado queimadas na Amazónia, mas reafirmou que os principais suspeitos destas ações criminosas são as organizações não-governamentais (ONG).

"Pode ser fazendeiro, pode. Todo mundo é suspeito, mas a maior suspeita vem de ONG", declarou o Presidente brasileiro esta quarta-feira, ao sair do Palácio da Alvorada, em Brasília.

Reuters
Vista do espaço do fumo dos incêndios da Floresta da AmazóniaReuters

Questionado se teria provas para fundamentar as suas afirmações, Bolsonaro voltou a negar e argumentou porque não há provas: “Ninguém escreve isso, vou queimar lá, não existe isso. Se você não pegar em flagrante quem está queimando e buscar quem mandou fazer isso, que isso está acontecendo, é um crime que está acontecendo".

"São os índios, quer que eu culpe os índios? Vai escrever os índios amanhã? Quer que eu culpe os marcianos? Há, no meu entender, um indício fortíssimo de que esse pessoal da ONG perdeu a teta [expressão usada no Brasil sobre pessoas que recebem recursos públicos] deles. É simples", acrescentou.

A acusação polémica do chefe de Estado brasileiro contra as ONG que trabalham na preservação do ambiente no país foi divulgada na última quarta-feira.

Em resposta, o Observatório do Clima, coligação de cerca de 50 organizações não-governamentais brasileiras em prol do ambiente, afirmou que o recorde de queimadas no país reflete a irresponsabilidade de Bolsonaro.

"O fogo reflete a irresponsabilidade do Presidente com o bioma [conjunto de ecossistemas] que é património de todos os brasileiros, com a saúde da população da Amazónia e com o clima do planeta, cujas alterações alimentam a destruição da floresta e são por ela alimentadas, num círculo vicioso", declarou o grupo em comunicado.

O observatório considerou que “as queimadas são apenas o sintoma mais visível da antipolítica ambiental do Governo de Jair Bolsonaro e do seu ministro do Meio Ambiente, o ímprobo Ricardo Salles, que turbinou o aumento da taxa de desflorestação no último ano".

A coligação de ONG salientou que, desde que assumiram os seus mandatos, Bolsonaro e Salles têm "desmontado as estruturas de governança ambiental e os órgãos de fiscalização".

Reuters
Porto Velho, AmazóniaReuters

Marina Silva diz que seu partido vai pedir destituição do ministro do Meio Ambiente do Brasil

A política e ambientalista Marina Silva informou que o seu partido, a Rede Sustentabilidade, vai pedir no Supremo Tribunal Federal (STF) a destituição do ministro do Meio Ambiente do Brasil, Ricardo Salles.

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"A Rede [Sustentabilidade] vai entrar no STF com o pedido de impeachment [destituição] do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, por crime de responsabilidade, pelo descumprimento do dever funcional relativo à Política Nacional do Meio Ambiente e à garantia do art. 225 da Constituição Federal. #ForaSalles", escreveu a ambientalista na rede social Twitter.

Marina Silva já foi candidata à Presidência do Brasil três vezes e destacou-se na política como ministra do Meio Ambiente entre os anos de 2003 e 2009, época em que o país promoveu uma redução considerável da desflorestação da Amazónia.

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), instituto ligado ao Governo brasileiro, indicam que a desflorestação da Amazónia caiu 80% entre 2004 e 2012.

Segundo o INPE, foram derrubados 27.772 quilómetros quadrados (km2)da floresta amazónica dentro do território brasileiro em 2004, número que recuou para o valor mínimo histórico de 4.656 km2 em 2012.

Esta semana, Marina Silva publicou um artigo em que usou a nuvem de fumo que transformou o dia em noite na cidade de São Paulo para comparar a destruição da maior floresta tropical do mundo ao holocausto.

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Dados do sistema de monitorização por satélite chamado Deter, que é mantido pelo INPE, indicaram que em julho a desflorestação da Amazónia aumentou 278% em relação ao mesmo mês do ano passado.

O INPE também indicou, noutro levantamento, que as queimadas no Brasil aumentaram 82% de janeiro a agosto deste ano, em comparação com o mesmo período de 2018.

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