Um em cada quatro adolescentes portugueses já se magoou a si próprio

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Lisboa, Portugal Direitos de autor Armando Franca/AP
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Sentem-se mais infelizes, nervosos e irritados, mas fumam menos e praticam mais exercício físico. Eis os resultados de um estudo da OMS sobre a adolescência em Portugal

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Mais jovens em Portugal sentem-se infelizes. Este ano, o número subiu para 27.7%, face aos 18.3% em 2018. Aumentaram também as autolesões: 24.6% dos adolescentes já se magoaram a si próprios, sobretudo nos braços. Há quatro anos, a percentagem era de 19.6%.

Os dados são da mais recente análise feita pelaOrganização Mundial da Saúde (OMS), acerca do estilo de vida e dos comportamentos dos jovens em Portugal. Para o estudo Health Behaviour in School-aged Children (HBSC) (em português, Comportamento de Saúde em Crianças em Idade Escolar) de 2022, foram inquiridos mais de 5 800 adolescentes portugueses, do sexto, oitavo e décimo anos de escolaridade. A análise repete-se de quatro em quatro anos.

Desde o inquérito aplicado em 2018, e passada uma pandemia, a saúde mental dos jovens degradou-se. A tristeza, ou a depressão, é praticamente diária para 11.6% dos adolescentes portugueses. Há quatro anos, a percentagem era de 9,2%. 

Além disso, há mais jovens que quase todos os dias se sentem tão tristes que parecem não aguentar - são agora 8,7%, comparativamente com os 5.9% registados em 2018.

Do outro lado do Atlântico, a realidade parece ser um pouco pior. Segundo o relatório deste ano da organização norte-americana Mental Health America, cerca de 15% dos adolescentes com idade entre os 12 e os 17 anos dizem ter vivido pelo menos um grande episódio depressivo durante o ano passado.

De volta ao cenário lusitano, o nervosismo e a irritação ou mau humor são quotidianos na vida de, respetivamente, 21% e 15,8% dos mais novos. Quase 55% dos jovens portugueses dizem sentir cansaço e exaustão mais do que uma vez por semana.

Para escapar a toda esta tempestade emocional, 47,6% dos participantes admitem ter usado muitas vezes as redes sociais durante o último ano. Face aos 28,6% de há quatro anos, houve um aumento significativo.

Dormem pior e têm mais dores físicas

O sono dos jovens portugueses vai por um mau caminho - quer em quantidade, quer em qualidade. 46,2% dos inquiridos dormem menos de oito horas durante a semana, enquanto em 2018 eram 39,2%. Há ainda cada vez mais adolescentes com um sono turbulento. Por exemplo, mais de três em cada cinco jovens dizem que dormem pouco, que lhes custa adormecer à noite ou acordam de manhã antes da hora necessária.

Os sintomas físicos são também mais frequentes. Quase todos os dias, 12,2% dos participantes têm dores de costas, 9,2% queixam-se do pescoço e ombros, e 8% da cabeça. Há quatro anos, as percentagens eram menores - respetivamente, 8,6%, 6,3% e 5,3%.

Mais dor (física ou psicológica) significa mais medicamentos. As dores de cabeça são a causa que mais leva os adolescentes tomarem medicação. Cerca de 54% dos inquiridos reconhece tê-lo feito pelo menos uma vez, durante o último mês. 

Face a 2018, o maior aumento na toma de fármacos registou-se naqueles indicados para as dificuldades em adormecer. Os jovens que os tomaram no mínimo uma vez no mês anterior passaram de 9% para 14,6%. 

Mais medicamentos não significa, contudo, mais prescrições médicas. A automedicação entre os mais novos subiu de 26,2% para 39,7%.

Mas nem tudo são más notícias. Os adolescentes portugueses estão mais ativos. Mais de 55% dos participantes tinha praticado exercício físico em mais de três dias de entre os sete anteriores. Há quatro anos, a percentagem era de aproximadamente 43%. 

A alimentação é mais saudável. Embora sem grandes variações, o consumo de fruta e de vegetais mais do que uma vez por dia aumentou, ao invés do de doces e refrigerantes, que caiu. Neste momento, os não-fumadores são cerca de 95%. Antes eram 93,7%. Aqueles que fumam asseguram fazê-lo com menor frequência.

Portugal vai ter de aguardar para conseguir perceber qual é a sua posição no panorama internacional, relativamente a todos estes aspetos da adolescência. Só daqui a um ano e meio será possível a comparação com os dados recolhidos pela OMS em mais de 50 países.

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