A Euronews pediu a vários peritos indicações sobre quais os próximos capítulos no conflito ucraniano, quando se assinala um ano sobre o início da invasão russa.
Quando a Rússia lançou a sua invasão total da Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022, o mundo assistiu em estado de choque. A expectativa era que as forças russas invadissem a capital numa questão de dias.
Em vez disso, durante o ano passado, as forças ucranianas empurraram de forma consistente e bem-sucedida as tropas invasoras.
Mas essas vitórias tiveram um custo elevado: milhares de pessoas morreram, mais de 8 milhões de pessoas fugiram para a Europa e as tensões entre a NATO e Moscovo aumentaram.
Um ano após o conflito, respondemos a algumas das perguntas mais frequentes sobre a guerra.
Quando terminará a guerra na Ucrânia?
Durante o ano passado, a Rússia tomou, por vezes, temporariamente o controlo de grandes extensões do território ucraniano. As forças ucranianas recuperaram com sucesso grande parte dela. Mas isto pode significar que a guerra "está aqui para ficar", pelo menos no futuro imediato, de acordo com Mathieu Droin, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais: "Podemos ver que a situação militar está bastante estagnada no terreno. Ambos os países estão convencidos de que ainda podem prevalecer militarmente", diz.
Andrew Cottey, professor no Departamento de Governo e Política no University College Cork, deu à Euronews três conclusões possíveis para a guerra.
- A hipótese mais otimista da perspetiva de Kiev é que as forças ucranianas avancem com sucesso para Mariupol na costa do Mar Negro, cortando as forças russas da parte sul do país. A mudança "colocaria também a Crimeia em risco e, potencialmente, poderíamos assistir a um colapso das forças russas e a Ucrânia poderia efetivamente vencer", diz.
- Outra opção seria um impasse militar, prolongando a guerra até, pelo menos, ao próximo ano.
- A previsão final é não haver nenhuma conclusão. "Um longo cenário de guerra, por vezes descrito como uma espécie de conflito congelado em que há algum tipo de cessar-fogo ou armistício, mas o conflito fica por resolver".
A Ucrânia vai aderir à NATO?
Antes da invasão total da Ucrânia pela Rússia, Kiev já era um parceiro ativo da NATO, tendo enviado tropas para o Afeganistão durante a missão da aliança no país.
Desde fevereiro de 2022, a relação tem vindo a fortalecer-se rapidamente: "É evidente que o conflito está a aproximar muito mais a Ucrânia da NATO, porque a aliança pode não estar a colocar os seus soldados na Ucrânia, mas os membros estão a colocar lá todos os seus tanques, porta-aviões blindados, sistemas antiaéreos e artilharia para a ajudar a resistir", disse Jamie Shea, um antigo Secretário-Geral Adjunto da NATO, à Euronews.
A plena adesão à NATO garantiria à Ucrânia um grau muito mais elevado de proteção contra a Rússia - o que uma simples parceria por nunca faria.
Um dos aspetos-chave da NATO é o Artigo 5º: um ataque a um Estado membro é um ataque a todos. Isto significa que, no caso de um ataque a um Estado-membro, todos os outros membros da aliança ajudariam a defendê-lo.
A NATO também mandata que os países que pretendam aderir não podem ter litígios territoriais por resolver dentro das suas fronteiras. "A adesão da Ucrânia à NATO é altamente improvável enquanto a guerra durar", diz Droin: "Isso significa que enquanto houver tropas russas no solo da Ucrânia, a adesão obrigaria a NATO e a Rússia a confrontarem-se diretamente entre si no país".
Apesar disto, argumenta Shea, a adesão da Ucrânia à NATO está "a tornar-se cada vez mais provável, mesmo que tal não vá acontecer no futuro mais próximo".
Isto porque milhares de milhões de euros de ajuda militar que os membros da NATO deram à Ucrânia durante o ano passado transformaram as suas forças armadas num "exército da NATO em termos do padrão da aliança e do seu equipamento".
"A NATO não pode manter a Ucrânia numa espécie de sala de espera permanente, dizendo sim, em princípio, à adesão, mas nunca fixando uma data", acrescenta Shea.
Podem os combates alastrar-se a outros países?
Muitos na comunidade internacional temiam que o conflito pudesse alastrar para fora das fronteiras da Ucrânia.
Mas à medida que os combates prosseguem, essa ideia parece progressivamente menos provável, apesar do que Droin chama "erros de cálculo", tais como um míssil que atingiu a Polónia em novembro. Porque, acrescenta, uma escalada na Europa não é do interesse de ninguém: "É justo dizer que ninguém quer isso. De momento, não é do interesse da Rússia e não é do interesse da NATO. Portanto, há linhas acordadas em que os conflitos devem permanecer dentro das fronteiras da Ucrânia", diz.
No entanto, argumenta, pode haver mais "ataques ou ciberataques híbridos" fora da Ucrânia.
No início deste mês, o Presidente da Moldávia, Maia Sandu, relatou que o Kremlin estava a planear um potencial golpe de estado dentro das suas fronteiras. Uma acusação que Moscovo negou.
A guerra pode alastrar, segundo Cottey, se a Rússia utilizar armas nucleares na Ucrânia.
"Se a Rússia utilizar armas nucleares, o Ocidente pode então envolver-se diretamente na guerra na Ucrânia em termos de colocar forças no país e, obviamente, esse é um cenário muito preocupante. Mas muitos analistas pensam que é razoavelmente improvável. Não seria necessariamente útil militarmente para a Rússia, e teria toda uma série de consequências muito negativas para Moscovo", acrescenta.