Espanha multa empresas de consultoria por "maratonas" de trabalho

Espanha multa empresas de consultoria
Espanha multa empresas de consultoria Direitos de autor Mark Schiefelbein/Copyright 2020 The AP. All rights reserved
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De  Laura Llach
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Os trabalhadores da Deloitte, PwC, EY e KPMG queixaram-se de trabalhar até 16 horas por dia.

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Um ano depois de o Ministério do Trabalho espanhol ter começado a investigar as práticas e condições de trabalho nas chamadas "quatro grandes" empresas de consultoria - Deloitte, PwC, EY e KPMG - o organismo público decidiu aplicar uma coima no valor de, pelo menos, 1,4 milhões de euros.

As autoridades investigaram se os empregados trabalhavam efetivamente mais horas do que as que constavam dos registos.

Nalguns casos, os empregados das quatro grandes empresas queixavam-se de passar até 16 horas por dia no trabalho.

Os meios de comunicação social espanhóis relatam que a investigação não foi fácil, uma vez que as empresas de consultoria não tinham um registo de horas, um requisito obrigatório para todas as empresas desde a alteração da lei espanhola em 2019.

Esta alegada falta de responsabilidade facilitou que as "maratonas de trabalho" se tornassem a norma, disse à Euronews Sergio Padilla, um antigo empregado da consultora PricewaterhouseCoopers (PwC) em Madrid.

Padilla - cujo nome foi alterado para proteger a sua identidade - costumava trabalhar 12 horas por dia: das 9 da manhã às 9 da noite. Isto parecia-lhe completamente normal, pois todos os seus colegas da consultora estavam na mesma situação.

Quase não tinha tempo livre depois do trabalho. Nem sequer tinha tempo para fazer compras no supermercado, acabando por comer fast-food em todas as refeições.

Durante os dois anos em que esteve na empresa, Padilla disse que se tornou cada vez mais "amargo" até que finalmente decidiu sair voluntariamente e regressar à sua cidade natal.

Lucros recorde, degradação das condições de trabalho

Os escritórios das "Big Four" foram invadidos em novembro de 2022, depois de o Ministério do Trabalho espanhol, liderado pela ministra Yolanda Díaz, ter aberto a investigação, sem que tenha sido apresentada qualquer queixa.

"Os inspetores detetaram, através da imprensa ou das redes sociais, práticas que consideraram poderem estar fora do âmbito da legislação laboral e atuaram", disseram fontes do Ministério à Euronews.

O ministério recolheu informações e documentos sobre a forma como estas empresas controlavam o horário de trabalho dos seus empregados e se as horas extraordinárias eram pagas ou compensadas.

Segundo Raúl de la Torre, do sindicato espanhol Comisiones Obreras, o setor da consultoria em Espanha tem registado uma grande fadiga de mão-de-obra.

"Há alguns meses, eles [empregadores] queriam incluir no contrato [de trabalho] que tínhamos de trabalhar até 12 horas por dia, de segunda a sábado, sem qualquer compensação adicional. Lançámos uma campanha nas redes sociais que levou à primeira greve no setor", afirma.

De la Torre sublinha que as condições de trabalho só pioraram desde 2008, enquanto as empresas registaram lucros recorde.

Em 2021, as "Quatro Grandes" lucraram 2,5 mil milhões de euros durante o ano fiscal, segundo dados recolhidos pelo jornal Expansión.

"A duração máxima da jornada de trabalho não é respeitada, o período de descanso exigido por lei não é respeitado e o salário piora a cada dia", lamenta de la Torre.

"Temos cópias dos contratos do setor e há pessoas que trabalham em Madrid e ganham 14 mil euros por ano".

Após meses de negociações e greves, chegaram a um acordo que prevê que os trabalhadores licenciados, que anteriormente recebiam 14 100 euros brutos por ano, passem a receber até 15 300 euros.

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Acordaram também que os trabalhadores com três anos de experiência não devem receber menos de 17.100 euros.

Sacrifícios num mercado de trabalho instável

Embora as expectativas dos trabalhadores em relação aos benefícios e às condições de trabalho tenham mudado nos últimos anos, Padilla insiste que as maratonas de trabalho se tornaram a norma nas "Quatro Grandes".

"Em 2008, com a crise, se houvesse um emprego disponível, tínhamos quatro pessoas à procura dele. Está enraizado na mente das pessoas que temos de estar muito gratos pelo emprego", diz o porta-voz do sindicato.

Além disso, muitos dos novos contratados das grandes empresas de consultoria são recém-licenciados.

De acordo com o último relatório publicado pela Associação Espanhola de Empresas de Consultoria, 29% dos novos contratos efetuados por estas empresas em 2021 foram para recém-licenciados que ainda não tinham experiência profissional.

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Os jovens veem este sacrifício como uma forma de catapultar as suas carreiras.

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