Os comentários de Amy Pope, diretora da agência da ONU para as migrações, surgem numa altura em que os países europeus estão a adotar políticas de migração mais rigorosas, com mais financiamento para aumentar os esforços de deportação e para os países de trânsito dissuadirem os migrantes.
A diretora da agência das Nações Unidas para as migrações alertou na quinta-feira para o facto de as nações ocidentais se arriscarem a criar maior instabilidade ao apertarem simultaneamente as fronteiras e ao reduzirem a ajuda ao desenvolvimento aos países que sofrem migrações em massa.
Em entrevista à Associated Press, a diretora-geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM), Amy Pope, afirmou que uma abordagem centrada apenas na aplicação das fronteiras sem abordar as causas da migração era "míope" e poderia desestabilizar ainda mais os países de origem.
"Se quisermos gerir a migração irregular, temos de investir na estabilização das populações mais próximas do local onde a migração começa", afirmou Amy Pope.
"É míope cortar a ajuda externa sem identificar alternativas para garantir que as populações não se deslocam".
Pope tornou-se a primeira mulher a liderar a OIM em 2023, depois de ter sido conselheira da Casa Branca para a migração e segurança interna durante as administrações de Obama e Biden.
Pope falou à AP durante uma conferência internacional em Roma para apoiar a reconstrução da Ucrânia.
Os seus comentários surgem numa altura em que os países europeus estão a adotar políticas de migração mais rigorosas, com mais fundos para aumentar os esforços de deportação e para os países de trânsito dissuadirem os migrantes.
Na quinta-feira, o parlamento grego deverá adotar uma proposta para suspender os pedidos de asilo de todos os migrantes que viajam por mar a partir da Líbia, na sequência de um aumento do número de chegadas.
Pope apontou a Síria como uma preocupação, alertando para o facto de o repatriamento prematuro poder revelar-se contraproducente.
"Se os sírios regressarem a casa demasiado depressa e enfrentarem mais desestabilização, mais conflitos, se os seus filhos não estiverem em segurança, se as suas casas continuarem destruídas e não tiverem para onde ir, o tiro poderá sair pela culatra", afirmou.
Pope observou que o endurecimento das políticas fronteiriças dos Estados Unidos já criou efeitos em cadeia em toda a América Latina.
"Estamos a assistir a uma inversão dos fluxos. Não só há menos pessoas a chegar à fronteira entre os Estados Unidos e o México, como também há mais pessoas a dirigir-se para sul", afirmou, levantando preocupações sobre a capacidade e o apoio aos países que se encontram ao longo das rotas migratórias alternativas, incluindo o Panamá, a Costa Rica e outras nações da América Central.
A chefe da OIM apoiou a abordagem da Itália, que combina medidas rigorosas nas fronteiras com o alargamento dos canais de migração legal.
A Itália planeia conceder cerca de 500.000 autorizações para trabalhadores de países terceiros, a partir de 2026 e de forma escalonada ao longo de três anos, trabalhando com os empregadores para identificar as necessidades de mão-de-obra.
"Não se pode fazer cumprir a lei sem abordar os factores de atração que incentivam os migrantes a vir", afirmou Pope, considerando a estratégia italiana uma "experiência" que vale a pena observar.
"Encorajamos os outros governos a acompanhar de perto o que está a acontecer neste espaço".