Será que IA vai tirar-nos o emprego?

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Será que IA poderá facilitar as tarefas mais aborrecidas ou será que vai tirar-nos o emprego?

A Inteligência Artificial está a transformar os locais de trabalho. De acordo com um estudo recente, mais de 75% das empresas prevêem adotar sistemas baseados na IA até 2027. O que acarreta oportunidades e riscos.

A euronews visitou o supermercado Picnic, na cidade de Utrecht, nos Países Baixos. A empresa ambiciona revolucionar as compras online graças a plataformas automatizadas baseadas na IA.  O supermercado quer entregar alimentos mais frescos e mais baratos de forma mais rápida, para obter uma vantagem competitiva.

A empresa afirma que criou novos postos de trabalho qualificados e eliminou grande parte das tarefas manuais árduas.

"A IA cria uma oportunidade para muitas pessoas. Há novos empregos que as pessoas poderão desempenhar no futuro. Trata-se de trabalho criativo. A tecnologia ocupa-se do trabalho repetitivo e árduo", disse à euronews Daniel Gebler, Diretor Técnico da Picnic.

Será que a IA pode melhorar a sustentabilidade das empresas?

A empresa afirma que o novo modelo de negócio é mais sustentável, do ponto de vista ambiental. O supermercado faz entregas gratuitas em veículos elétricos. A análise de dados permite reduzir o desperdício de alimentos e embalagens

"Um serviço como o Picnic pode funcionar de uma forma muito sustentável. Nós vamos mais além. Graças a uma série de previsões, tornamos os nossos serviços e operações sustentáveis. E os dos nossos fornecedores também", frisou Daniel Gebler.

O controlo dos algoritimos

Mas o que acontece quando a tecnologia acaba por ser invasiva? A euronews falou com um trabalhador de um dos principais serviços de entregas em Amesterdão. Joseph Skull afirma estar farto de ser constantemente monitorizado pela empresa, durante o turno.

"Eles seguem tudo o que fazemos enquanto estamos a trabalhar. Podem ver se paramos num sítio durante cinco minutos e fazer perguntas para saber por que razão estamos a demorar tanto tempo quando na realidade, estamos simplesmente a fazer o que temos de fazer quando estamos a trabalhar", contou Joseph Skull.

"Quero sentir que posso ir à casa de banho"

De acordo com sindicatos holandeses é preciso fazer mais para controlar as empresas que utilizam algoritmos de IA para melhorar a produtividade.

"Como sindicato, vemos muitos problemas para os trabalhadores. Os salários são baixos. Não há segurança e não há proteção. E, por exemplo, nalguns casos, os bónus são retirados se um condutor não fizer a entrega a uma determinada hora. Isso leva a situações de insegurança. Devia ser ilegal por lei", considerou Frank Van Bennekom, sindicalista da FNV Young & United.

Uma das preocupações dos trabalhadores é o aumento do trabalho precário associado à IA. "Quero sentir que posso ir à casa de banho, comer, mudar de roupa quando a roupa está molhada devido ao tempo horrível que temos por vezes. E quero sentir que não vou ser castigado por isso. Mas nem sequer sei o que se passa com o algoritmo", afirmou Joseph Skull.

IA debatida no Fórum Social Europeu em Bruxelas

Como tirar partido da IA e, ao mesmo tempo, garantir a equidade, a inclusão e a segurança no trabalho? Esta foi uma das questões debatidas por especialistas e decisores políticos durante o Fórum Social da União Europeia, em Bruxelas.

O que é que a Comissão Europeia está a fazer para garantir que os direitos dos trabalhadores são protegidos?

"O que é importante é não dificultar esta mudança tecnológica mas identificar as medidas necessárias para proteger os trabalhadores. A primeira diretiva importante em que estamos a trabalhar é a proteção dos trabalhadores das plataformas, porque eles são diretamente afetados pela gestão algorítmica. Estamos a insistir na adoção desta diretiva, que, por um lado, dá garantias de proteção dos trabalhadores no contexto da gestão algorítmica, e protege as pessoas em termos de direitos sociais, proteção social, saúde, entre outras coisas, disse à euronews Nicolas Schmit, Comissário Europeu para o Emprego e os Direitos Sociais.

Além da diretiva relativa às plataformas, a UE está a finalizar uma lei sobre IA. 

O objetivo é criar o primeiro conjunto estruturado de regras para este tipo de tecnologia, uma estreia mundial. 

Nicolas Schmit, Comissário Europeu para o Emprego e os Direitos Sociais
Nicolas Schmit, Comissário Europeu para o Emprego e os Direitos SociaisEuronews

Um carro sem travões e sem cinto de segurança?

De acordo com uma especialista da ONU, é urgente encontrar formas de regular a IA.

"O que vemos neste momento é que a IA se assemelha muito a um carro sem travões e sem cintos de segurança conduzido por alguém sem carta de condução. Se deixarmos as coisas correrem como estão a correr agora, receio que os benefícios sejam para as pessoas que já estão a beneficiar da IA, as grandes empresas tecnológicas e os multimilionários deste mundo", frisou Virginia Dignum, membro do Conselho Consultivo da ONU para a Inteligência Artificial.

Virginia Dignum, Membro do Conselho Consultivo da ONU para a Inteligência Artificial
Virginia Dignum, Membro do Conselho Consultivo da ONU para a Inteligência ArtificialEuronews

O reforço das competências digitais

No futuro, 90% dos empregos vão precisar de competências digitais. Atualmente, mais de um terço da força de trabalho da UE não possui competências digitais.

"As pessoas devem tentar descobrir o que se passa nas suas empresas, fazer formação e trabalhar com a tecnologia. Deste modo vão sentir-se muito mais satisfeitos", frisou Christoper Pissarides, um economista britânico galardoado com o Prémio Nobel.

"É preciso criar uma mentalidade de aprendizagem ao longo da vida. As pessoas devem estar conscientes de que é preciso reconverter-se, requalificar-se e melhorar as competências, para evitar o risco de perderem o emprego, e terem a garantia de que encontrarão outro emprego. Não sou um pessimista tecnológico. Podemos ter um mundo melhor graças à tecnologia. Podemos ter uma melhor organização do trabalho, eliminar o trabalho repetitivo ou reduzir o trabalho entediante. Mas isso implica manter o controlo. Não se trata de prever o futuro nem de recear o futuro. Trata-se de moldar o futuro. É isso que temos de fazer", afirmou Nicolas Schmit, Comissário Europeu para o Emprego e os Direitos Sociais.

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