Os filantropos do setor dos combustíveis fósseis têm os dias contados?

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Direitos de autor AP Photo / Peter Dejong
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O fenómeno da "art washing" não é novo, mas tornou-se mais visível devido às redes sociais na Internet.

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O Metropolitan Museum of Art e a família Sackler anunciaram o fim da longa parceria entre as duas partes.

A família Sackler, que doou milhões ao museu norte-americano, ao longo de vários anos, encontra-se em processo de falência depois de uma das empresas do grupo, a Purdue Pharma, ter assumido responsabilidades na crise dos opiáceos na América. A empresa é acusada de pagar a médicos, através de um programa de conferências, para aumentar a prescrição de analgésicos. A crise associada ao aumento do número de overdoses de drogas na América causou até agora a morte a 470 mil pessoas.

O Met não é a única instituição cultural preocupada com a má reputação de alguns patrocinadores. Nos últimos anos, o Louvre, o Tate e o Museu Judaico de Berlim distanciaram-se de filantropos controversos.

Dinheiro sujo e filantropia

Recentemente, o Museu da Ciência, em Londres, esteve no centro de uma controvérsia por ter escolhido uma empresa de combustíveis fósseis para patrocinar uma exposição sobre o clima. Um episódio que culminou com a ocupação do edifício por jovens ativistas.

"Se exibir ou mostrar o logótipo da BP ou da Shell numa exposição, está a ajudar a melhorar a marca e a dar-lhe legitimidade social", disse Chris Garrand, fundador da Culture Unstained, uma organização que apoia os ativistas londrinos.

Para Garrand, através das doações, as empresas de combustíveis fósseis procuram melhorar a sua imagem pública, uma prática conhecida como "artwashing".

Segundo Garrand, as instituições culturais são frequentemente vistas como um espaço neutro, lugares que exibem apenas arte ou exposições científicas, mas, na verdade, esses espaços são usados pelas empresas poluidoras para influenciar a percepção da opinião pública.

E acrescenta: "assistimos a uma mudança. As pessoas esperam que as instituições culturais sejam líderes em relação a essas questões".

O impacto das redes sociais

O fenómeno da "art washing" não é novo, mas tornou-se mais visível devido às redes sociais na Internet. "As redes sociais fornecem uma plataforma para as pessoas que questionam e desafiam a forma como certos factos são apresentados. Há agora um maior questionamento dos motivos de certas acoes", afirmou Paul Springer, diretor da Escola de Comunicação da Universidade de Falmouth.

Segundo Springer os próprios artistas estão habituados a lidar com estas questões e a refletirem se querem associar-se a galerias ou prémios

"Sempre souberam onde mostrar e onde não mostrar as obras e refletir se estariam preparados a aceitar determinados financiadores”, sublinhou Paul Springer.

Para o especialista, hoje em dia, "os valores têm mais peso do que o dinheiro e alguns sítios são seletivos e não aceitam marcas que possam estar em conflito com a sua ideologia".

Alguns coleccionadores recusam-se a expor as obras se os patrocínios fiquem associados a controvérsias que possam prejudicar o valor das obras.

"O setor artístico é mais cauteloso. Há mais relutância em enviar obras para exposições que possam causar controvérsia", acrescentou o especialista.

Os patrocínios das empresas de combustíveis fósseis não desapareceram completamente (a BP patrocina a nova exposição de Stonehenge no Museu Britânico), mas têm vindo a diminuir. Uma opinião pública cada vez mais consciente dos problemas ambientais poderá levar a um aumento dos divórcios entre museus e patrocinadores.

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