Bienal de Veneza: o retrato gigante de menina ucraniana no céu de Lviv

Uma instalação na Bienal de Veneza retrata o passado e o presente da arte ucraniana.
A exposição inclui obras de artistas ucranianos e do mundo inteiro que se mobilizaram contra a agressão russa.
"Fizemos esta exposição num espaço de tempo muito curto. A intenção era representar a Ucrânia da melhor forma possível. Não apenas num sentido contemporâneo, mas também histórico. Porque Putin começou por dizer que a Ucrânia não era uma cultura e não era um país. Esta exposição prova que temos uma cultura profundamente enraizada, uma cultura que tem história. Mas também é importante que estas vozes internacionais se unam em torno da Ucrânia de uma forma sustentável", disse à euronews Björn Geldhof, director artístico do PinchukArtCentre, que integra a fundação do filantropo ucraniano Viktor Pinchuk.
A exposição intitula-se Esta é a Ucrânia a defender a liberdade e inclui a série Mães que mostra 300 retratos de mulheres que perderam um filho nas frentes de Donetsk e Luhansk desde 2014.
Uma imagem no céu "para que os aviões russos vissem sobre quem estavam a disparar"
O artista francês JR concebeu um retrato gigante de uma menina ucraniana. A obra foi transportada e instalada na praça principal de Lviv, com a ajuda da população. Uma impressão em tamanho real está em exposição em Veneza.
"Quis colocar no céu esta imagem para que os aviões russos vissem sobre quem estavam a disparar todos os dias. Por isso, instalámos uma imagem de 45 metros de comprimento, em pleno centro da cidade, é impossível não reparar quando se sobrevoa a cidade que tinha acabado de ser bombardeada no dia anterior. Foi uma abordagem de cidadania, com os meios que tínhamos, para as pessoas se aperceberem de quem está a ser afetado pela guerra, nomeadamente as crianças. A menina está sã e salva, do outro lado da fronteira com a mãe, mas, a família, o pai e o irmão ainda estão na Ucrânia", contou à euronews o artista francês JR.
A arte como "atividade política"
Lesia Khomenko retratou os homens que lutam na Ucrânia em telas gigantes. O marido da artista é um deles, ao lado de muitos outros que se tornaram soldados de um dia para o outro.
"Entendo a arte apenas como uma atividade política. A arte não pode competir com a realidade. A realidade agora é a morte de muitas pessoas, de civis. Penso que a Realidade é mais poderosa do que a Arte, especialmente porque a realidade ucraniana é surrealista", frisou Lesia Khomenko.
Nikita Kadan foi autorizado a deixar o país em tempo de guerra. O artista ucraniano tem vindo a recolher provas da guerra desde o conflito de 2014 na região do Donbass que fazem parte da obra Dificuldades da Profanação II (2015-2022).
“Este trabalho contém provas materiais, como fragmentos de mísseis russos, e fragmentos de edifícios em ruínas de Kiev", explicou Nikita Kadan.
A exposição “Esta é a Ucrânia a defender a liberdade” pode ser visitada na Bienal de Veneza até 7 de agosto.