Genebra: 36 filmes em competição no Festival de Cinema e Direitos Humanos

O Festival Internacional de Cinema e Fórum sobre Direitos Humanos está de volta a Genebra, na Suiça, paralelamente à sessão principal do Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU).
A cantora Barbara Hendricks, madrinha do evento, celebrou o septuagésimo quinto aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, na abertura do festival.
Este ano, o evento conta com 36 filmes, incluindo sete estreias mundiais, 21 debates, entre eles 10 difundidos em direto na internet e perto de 220 convidados internacionais.
O festival tem uma linha orientadora onde o artístico e, em particular, os filmes abordam temáticas relacionadas com o mundo político e o ativismo.
Irène Challand, responsável pelo festival, falou sobre os temas principais deste ano: "Há três temas principais este ano no festival: os problemas da migração e os nacionalismos, os conflitos e a guerra, e ainda o aquecimento global. A nossa sociedade está em mudança, de todos os pontos de vista: geopolítico, social e individual".
Filme "The Land within" aborda a guerra e a migração
Na categoria de fição, o filme “_The Land within_” aborda as questões da guerra e da migração. Conta a história de um migrante do Kosovo, que vive na Suiça, e que regressa ao seu país de origem para enfrentar os fantasmas do passado e identificar os familiares que foram encontrados numa vala comum.
Sem nomear o seu país e dividido entre as populações sérvia e albanesa, o realizador, de origem kosovar, mostra no seu filme a complexidade de várias situações.
Fisnik Maxville, o realizador salienta que "este tipo de história, em que corpos são enterrados numa vala comum, aconteceu em vários locais, não só na Europa, como também em outros continentes".
"Se o segredo permanece enterrado e não é revelado, penso que o processo de paz é atrasado, incluindo o processo de paz com a terra onde vivemos. Essa terra tem um significado simbólico muito grande, quando vemos que a situação geopolítica na Europa ainda não está resolvida nem nunca estará”, disse ainda.
Filme "We will not fade away" retrata os sonhos de cinco adolescentes ucranianos
“W_e will not fade away_” é um filme ucraniano que retrata os sonhos e medos de cinco adolescentes da região do Donbass, na Ucrânia, antes da invasão russa.
O filme aborda o debate sobre a legitimidade e a eficácia de um tribunal internacional para punir o crime de agressão, especialmente em relação à Ucrânia, uma questão complexa para o escritor e jurista Pierre Hazan.
“A questão é o que fazer com aquele que classificamos como diabo. Poderemos negociar com ele? Ele deve ser colocado atrás das grades? Será possível metê-lo atrás das grades? Ou será que devemos negociar com ele de forma cautelosa? Por um lado, há pessoas que dizem que não podemos falar com Putin porque ele é responsável pela agressão e as suas tropas cometem crimes de guerra e crimes contra a humanidade e existem outras pessoas, como o Presidente francês, que dizem que devemos discutir com ele porque um dia teremos de chegar a algum tipo de solução política”, referiu Pierre Hazan.
Existem outro tipo de iniciativas organizadas pelo festival, incluindo o projeto Kids Guernica, uma pintura feita por migrantes, alguns deles em situação irregular.
"Trabalhamos juntos, criamos um vínculo. Quando se trabalha numa superfície como esta pensam "sim, é um trabalho". E depois, temos de ser persistentes. Eles percebem que para que dê certo, a imagem tem de criar um impacto. Há muitas coisas que os fazem começar a desfrutar desta pintura”, salientou François Burland, artista e mediador cultural.
François Burland salienta ainda que o objetivo desta iniciativa não é apenas "fazer uma obra, mas sim, a partir desta ligação, descobrir o que podemos construir juntos para os ajudar a entrar neste mundo que eles não conhecem”.
Filme de Manon Loizeau projetado nas margens do lago de Genebra
Entre os eventos especiais do festival, está a projeção nas margens do Lago Léman, numa tenda, do último filme da jornalista e realizadora Manon Loizeau, sobre uma jovem migrante afegã, Elaha, que ela conheceu na Grécia.
"Passámos mais de um ano a filmá-la, a filmar o seu percurso, por isso é a sua visão de criança e o filme mostra a resiliência de todas as crianças e fala sobre o seu processo de crescimento na estrada para fugir de conflitos”, referiu.
O filme mostra a coragem e as dúvidas, as dores e as alegrias, de uma jovem brilhante e inspiradora. Mais de um terço das imagens foram recolhidas por Elaha e depois integradas no filme.
"Trata-se de um filme coletivo e de uma mensagem de esperança. Acredito que esta jovem, Elaha Iqbali, representa todas estas crianças, que têm uma coragem incrível e que perseguem os seus sonhos, aconteça o que acontecer à sua volta".
O Festival Internacional de Cinema e Fórum sobre Direitos Humanos realiza-se em Genebra, na Suíça, até ao próximo domingo, 19 de março.