Fantasporto até domingo com terror, humor, música e muito mais

Fotograma de "Cold Meat" de Sébastien Drouin
Fotograma de "Cold Meat" de Sébastien Drouin Direitos de autor WTFilms
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De  Ricardo Figueira
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A 44ª edição do Festival Internacional de Cinema do Porto traz uma seleção variada para todos os gostos, com cerca de 100 filmes em exibição. Até domingo no Batalha Centro de Cinema.

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43 anos é muito tempo. Se, para um festival de cinema, chegar à 44ª edição é um feito assinalável, fazer todas essas edições com a mesma equipa dirigente é ainda mais extraordinário, como notou Steven Gaydos, editor-chefe da revista Variety, igualmente produtor de cinema e argumentista, presente nesta edição do Fantasporto, que arrancou no Batalha Centro de Cinema e dura até ao próximo domingo, dia 10. Até lá, terão passado cerca de 100 filmes, entre longas e curtas das várias secções competitivas, retrospetivas e filmes fora de competição.

Beatriz Pacheco Pereira e Mário Dorminsky, fundadores do Fantasporto
Beatriz Pacheco Pereira e Mário Dorminsky, fundadores do FantasportoRicardo Figueira / Euronews

Beatriz Pacheco Pereira e Mário Dorminsky capitaneiam o navio Fantas desde que foi lançado em 1981 como "mostra de cinema fantástico do Porto", tendo nos últimos anos afirmado o festival como evento generalista, aberto a todos os géneros de cinema, afastando-se da conotação com o fantástico e o terror que marcou os primeiros anos - mesmo se esse continua a ser o prato forte.

Sendo um festival que acompanha o pensamento do mundo, não é estranho que o filme de abertura tenha sido uma comédia deliciosa que põe a nu a ideologia woke e nos faz rir do estado das coisas - de nós próprios, no fim de contas. Testament é assinado pelo canadiano Denys Arcand, que o mundo conheceu com As invasões bárbaras.

É na Semana dos Realizadores, uma das duas secções competitivas principais, que se concentra a maioria dos filmes fora do género fantástico. Mário Dorminsky não hesita ao dizer: "Temos talvez a melhor Semana dos Realizadores de sempre". Os organizadores destacam a presença de Bucky F*cking Dent, a segunda longa-metragem de David Duchovny (o Mulder de Ficheiros Secretos) como realizador, ou ainda A Normal Familiy, do sul-coreano Hur Jin-ho.

Este ano, a Semana dos Realizadores tem também um toque musical, com a antestreia mundial de Heart Strings, produção norte-americana assinada pelo neerlandês Ate de Jong.

De Jong (conhecido sobretudo pelo filme de 1991 A culpa é do Fred) está longe de ser um estranho no Fantasporto. Presença mais que habitual no certame, já foi presidente do júri e Prémio Carreira em edições anteriores, não sendo assim de estranhar que tenha escolhido o Fantas para a primeira projeção internacional do filme.

Maggie Koerner, Ate de Jong e Sam Varga, realizador e protagonistas de "Heart Strings"
Maggie Koerner, Ate de Jong e Sam Varga, realizador e protagonistas de "Heart Strings"Ricardo Figueira / Euronews

Trata-se de um musical romântico passado no meio da música country - dois jovens cantores fingem ser um casal para poderem participar num reality show e acabam - surpresa das surpresas - por se apaixonar. 

Sendo um musical, prefiro ter cantores que sabem atuar do que atores que sabem cantar.
Ate de Jong
Realizador

"Para o filme, quis cantores verdadeiros, não atores profissionais", diz Ate de Jong à Euronews, explicando as escolhas de Maggie Koerner e Sam Varga para os papéis principais. "Sendo um musical, prefiro ter cantores que sabem atuar do que atores que sabem cantar. Os cantores não têm toda aquela carga de vaidade que têm os atores", acrescenta. "Os únicos takes que pedimos para repetir foram aqueles em que achámos que não estivemos bem do ponto de vista musical", diz Koerner.

Para assinalar a antestreia do filme, o duo de protagonistas deu um concerto gratuito numa loja de discos do Porto e deu a conhecer parte da banda sonora, na linha de um country clássico. Alguns temas foram escritos por Steven Gaydos, que também coproduziu e coescreveu o argumento.

Fantástico para todos os gostos

Mesmo se o festival se tem vindo a afastar da imagem de certame centrado no fantástico (mais particularmente no terror), não há forma de lhe escapar aqui e continua a ser este o género que atrai muitos espetadores às duas salas do Batalha. A secção oficial de cinema fantástico tem, este ano, 30 longas-metragens em competição.

Ao longo dos anos, um subgénero tornou-se típico do festival - o filme de terror de baixo orçamento e completamente disparatado, em que os jorros de sangue são diretamente proporcionais às gargalhadas no público. 

Também chamado filme de terrir ou, nas palavras de Dorminsky, filme à Fantas, este subgénero está bem representado este ano por All you need is blood, primeira longa-metragem dos norte-americanos Cooper Roberts e Bucky Le Boeuf.

Cena de "All you need is blood"
Cena de "All you need is blood"Snakebyte productions and entertainment group / Yale productions

Um jovem com aspirações a realizador ganha um trunfo inesperado quando várias pessoas ao seu redor se transformam em zombies, ganhando assim atores perfeitos para o seu filme de terror. Conseguirá domesticá-los e completar o filme? O resultado é mais cómico do que aterrorizante.

Num registo bastante mais sério, temos em Cold Meat, estreia do francês Sébastien Drouin na longa-metragem, um forte candidato ao prémio principal. Desenganemo-nos, no entanto: Se Drouin se estreia na realização de uma longa, está longe de ser um novato, com várias curtas no currículo e uma carreira de mais de 20 anos como supervisor de efeitos especiais. Uma experiência que foi útil na produção deste filme, já que a meteorologia acabou por trocar as voltas ao realizador: "Quis filmar numa zona a norte de Vancouver, no Canadá, porque precisava de muita neve no meu filme", conta Drouin à Euronews. "O problema foi que, para nossa surpresa, não havia praticamente neve nenhuma e tivémos de recriá-la com efeitos especiais. Um em cada três planos no filme é manipulado. Sempre que se vê cair neve, isso foi criado em pós-produção", acrescenta.

É difícil descrever o filme sem fazer nenhum spoiler, já que toda a trama se baseia num importante plot twist que acontece nos primeiros minutos. Digamos apenas que duas pessoas ficam presas dentro de um carro, no meio de uma tempestade de neve, e precisam desesperadamente de sobreviver.

As minhas referências são Alfred Hitchcock e Brian de Palma.
Sébastien Drouin
Realizador

"As minhas referências são Alfred Hitchcock e Brian de Palma", diz Drouin. "Por isso, é no suspense que me sinto à vontade, mais particularmente no tipo de suspense que é construído com muito poucas personagens e cuja trama se baseia no desenvolvimento dessas personagens", acrescenta.

O ator Yan Tual e o realizador Sébastien Drouin (de "Cold Meat")
O ator Yan Tual e o realizador Sébastien Drouin (de "Cold Meat")Ricardo Figueira / Euronews

Uma tradição a que este Cold Meat faz jus da melhor maneira possível, fazendo o espetador reter a respiração do início ao fim. O filme conta com Nina Bergman e Allen Leech (de Downton Abbey) nos papéis principais.

Homenagens e retrospetivas

Este ano, além de um ciclo de filmes do Cazaquistão (uma filmografia praticamente desconhecida em Portugal), o Fantas quis fazer uma homenagem ao cinema húngaro, tantas vezes premiado aqui. É raro o ano em que não há um, senão vários filmes da Hungria a sair do Fantas com prémios. Liza, the Fox Fairy, de Károly Mészáros, primeiro prémio na secção fantástica em 2015, Post Mortem, de Péter Beregendy (prémio especial do júri em 2021) ou Preparations to be together for an unknown period of time, de Lili Horvát, primeiro prémio da Semana dos Realizadores no mesmo ano, são apenas alguns dos exemplos presentes neste ciclo dedicado à Hungria.

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"Sempre tivemos muito bons filmes da Hungria", diz Beatriz Pacheco Pereira. "Isso acontece por duas razões: a primeira é que o cinema húngaro é, de facto, muito forte. A segunda foi termos conhecido os responsáveis da Hungarofilm (agência estatal de cinema da Hungria) em Cannes e, desde então, se ter criado uma relação próxima, que faz com que nos enviem sempre o que de melhor se faz no país", acrescenta.

Karim Ouelhaj é o David Cronenberg europeu.
Mário Dorminsky
Fundador e diretor do Fantasporto

Quanto ao principal homenageado desta edição, o realizador belga Karim Ouelhaj, Mário Dorminsky não mastiga as palavras ao classificá-lo como "o David Cronenberg europeu". "Tal como o canadiano, Ouelhaj faz um cinema visceral no sentido literal da palavra", conclui o diretor do festival.

Ouelhaj foi vencedor do primeiro prémio na edição do ano passado com Megalomaniac e conta com uma filmografia que vai de Parabola a Le Repas du Singe, sempre com preocupações sociais: "Falo da violência da sociedade, sobretudo da violência contra as mulheres", conta o belga à Euronews. "O mais preocupante nos meus filmes é que são premonitórios. Falo de coisas que vêm mais tarde a verificar-se", acrescenta.

Karim Ouelhaj
Karim OuelhajRicardo Figueira / Euronews

Todos esses filmes estão na retrospetiva que o Fantasporto dedica a Ouelhaj, antes de lhe atribuir o Prémio Carreira 2024.                                                                                                

Muito cinema irá passar pelos ecrãs do Batalha até serem entregues os prémios na noite de sábado, dia 9, e do encerramento com a projeção da superprodução chinesa Creation of the Gods I: Kingdom of Storms, de Wuershan. Como é tradição, o dia de domingo será dedicado à projeção dos principais premiados.

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