Estudos mostram que o fenómeno das poeiras do Saara pode afetar seriamente a produção de energia solar. O que pode ser feito, então, para gerir melhor o problema? No Climate Now, vamos mostrar-lhe as medidas tomadas pela Andaluzia para vencer as poeiras.
Este mês, no Climate Now, fomos até ao sul de Espanha para observar o problema crescente da interferência das poeiras do Saara na produção de energia solar.
O Serviço Copernicus para as Alterações Climáticas revelou que maio de 2024 foi o mês mais quente já registado, com temperaturas 0,65 graus Celsius acima da média de 1991-2020.
É o 12.º mês consecutivo de recordes mensais de temperaturas altas.
Em maio de 2024, foram observadas condições climáticas extremas em várias regiões. As inundações no Brasil deram origem a mais de meio milhão de deslocados, a região de Deli, na Índia, atingiu um novo recorde mensal de 49,9 graus Celsius e a Finlândia emitiu um alerta de onda de calor com temperaturas de 27 graus Celsius.
Na Europa, chuvas fortes levaram a inundações no sudoeste da Alemanha, na Bélgica e no norte da Itália.
Perdas consideráveis de energia solar devido às poeiras do Saara
As poeiras do Saara são conhecidas na Europa por tingir o céu de laranja, reduzir a qualidade do ar e deixar uma fina camada de pó nos telhados e nos carros. No entanto, também são responsáveis por um problema crescente, o "soiling", uma acumulação de sujidade nos painéis solares.
Na Universidade de Jaén, na Andaluzia, conhecemos o Dr. Eduardo F. Fernández e a professora Florencia Almonacid, que se encontram entre os autores de um artigo recente que descobriu que um ocorrência intensa de "soiling" em março de 2022 reduziu a capacidade de produção de energia solar em quase 80 por cento.
O Dr. Fernández disse à Euronews: "Parecia que estávamos em Marte, ficou tudo vermelho."
A situação de Março de 2022 foi extrema, mas mesmo pequenas quantidades de poeiras podem reduzir a luz solar que atinge os painéis solares em 15 por cento e, com o rápido crescimento da energia solar na Europa, as perdas decorrentes da sujidade podem chegar a representar milhares de milhões de euros por ano.
Devido ao problema, a equipa de investigação de Jaén está a recorrer aos seus laboratórios óticos para encontrar soluções. Há cientistas que se focam no desenvolvimento de revestimentos resistentes ao pó, enquanto outros investigam o comportamento das poeiras de acordo com condições climáticas mais quentes ou mais frias, mais secas ou mais húmidas.
Há muitas variáveis a ter em conta. Por exemplo, os grãos das poeiras podem ter tamanhos diferentes ou cores diferentes, o que os leva a afetar de formas distintas o desempenho das instalações solares.
Até mesmo os elementos do design podem fazer a diferença, por exemplo, se o painel tiver ou não moldura ou se tiver uma borda rígida ao redor da margem.
O professor Almonacid diz que as poeiras do Saara são particularmente complicadas: "As partículas das poeiras do Saara são muito finas. E são bastante difíceis de limpar."
O dilema do custo-benefício da limpeza de painéis solares
A empresa de energia renovável Sonnedix enfrenta o desafio da sujidade todos os dias, vigiando a produção de cada uma das instalações solares e calculando cuidadosamente quando é comercialmente viável limpar os painéis fotovoltaicos. A limpeza é dispendiosa, cerca de 400-500 euros por megawatt, por isso há compensações a serem feitas dependendo do preço da eletricidade da central.
O diretor de operações da empresa, Juan Fernandez, disse à Euronews: "Quando estamos a gerar energia e cada quilowatt-hora gerado conta para o lucro da central, os fenómenos de poeiras vão ter impacto nisso."
Fernandez trabalha com meteorologistas que ajudam a empresa a planear as sessões de limpeza de acordo com os fenómenos de poeiras e chuva, pois a chuva leve pode fazer com que os painéis fiquem mais sujos, enquanto as chuvas fortes podem lavá-los de forma gratuita.
"Uma ocorrência forte de poeiras do Saara pode vir a causar uma queda significativa na produção dentro da rede, e isso, para o operador da rede, pode tornar-se um problema", explica.
"Portanto, antecipar, prever e ser capaz de gerir isso de forma proativa é crucial", diz.
Os fenómenos de poeiras do Saara tornaram-se mais frequentes devido às alterações climáticas?
O aumento recente dos fenómenos de poeiras do Saara pode fazer parte da variação climática normal, mas também pode ter outras causas.
Um porta-voz do Serviço de Monitorização da Atmosfera do Copernicus disse à Euronews: “Embora não seja incomum que as nuvens de poeiras do Saara cheguem à Europa, houve um aumento na intensidade e frequência de tais episódios nos últimos anos, o que pode potencialmente ser atribuído a alterações nos padrões de circulação atmosférica”.
Há alguma especulação de que essas alterações na circulação atmosférica possam estar ligadas às alterações climáticas.
"A ciência nunca se apressa a tirar conclusões, e é assim que deve ser, certo?", diz o especialista em poeiras Dr. Eduardo Fernández. “Mas estamos a assistir a fenómenos cada vez mais extremos, e não apenas de poeiras, mas também de chuva e vento.
“Cada vez há mais fenómenos de poeiras do Saara, com cada vez mais frequência no norte da Europa, e a suspeita é de que sejam causados pelo aquecimento global”, conclui.