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"Simplesmente escandaloso": relatório expõe como a pecuária industrial agrava o desperdício alimentar mundial

A agricultura industrial pode ter grandes ligações ocultas ao desperdício alimentar global
A agricultura industrial pode ter grandes ligações ocultas ao desperdício alimentar global Direitos de autor  Artem Beliaikin/Unsplash
Direitos de autor Artem Beliaikin/Unsplash
De Craig Saueurs
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Uma ONG afirma que se deixássemos de alimentar animais de criação industrial com cereais, poderíamos libertar terrenos agrícolas do tamanho do México.

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Segundo um novo relatório publicado hoje pela Compassion in World Farming, seria possível alimentar mais dois mil milhões de pessoas por ano se o mundo deixasse de alimentar com cereais os animais de criação industrial.

O mundo poderia também libertar terrenos agrícolas quase do tamanho do México se esta prática fosse abandonada.

Publicados no Dia Mundial da Alimentação, os resultados revelam até que ponto a pecuária industrial afetou o abastecimento alimentar, bem como as ineficiências que agravam o desperdício alimentar global.

"É simplesmente escandaloso que, enquanto centenas de milhões de pessoas passam fome e enfrentamos uma tripla crise planetária, estejamos a permitir que centenas de milhões de toneladas de alimentos sejam desperdiçadas todos os anos ao serem dadas como alimento a animais criados em fábricas", afirma Peter Stevenson, conselheiro principal da Compassion in World Farming, a ONG ambiental e de bem-estar animal que produziu o relatório.

Um problema com muitas causas

O desperdício alimentar é um problema complexo com muitas causas.

A nível mundial, o WWF (World Wildlife Fund) refere que 1,2 mil milhões de toneladas de alimentos - mais de 15% de toda a produção - se perdem antes mesmo de saírem da exploração agrícola.

De acordo com as estatísticas da UE, o bloco desperdiça cerca de 60 milhões de toneladas de alimentos todos os anos, o que representa uma perda de 132 mil milhões de euros em valor total. Cerca de 9% desses resíduos provêm da produção primária de alimentos, como a agricultura, e 18% do setor da transformação e do fabrico. Mais de metade provém dos agregados familiares.

Esta nova análise oferece uma contranarrativa.

De acordo com os cálculos da ONG, 766 milhões de toneladas de cereais são desperdiçadas todos os anos ao serem dadas como alimento a animais criados pela via industrial, o que, segundo a ONG, corresponde a mais do que as famílias (631 milhões de toneladas), o serviço alimentar (290 milhões de toneladas) ou o retalho (131 milhões de toneladas).

O impacto desta prática também afeta a utilização dos solos, aumentando o recurso a monoculturas, pesticidas químicos e fertilizantes, que têm repercussões na qualidade dos solos, na perda de biodiversidade e na poluição da água e do ar.

Segundo a ONG, se a UE deixasse de utilizar cereais para alimentar animais criados em explorações industriais, quase 15 milhões de hectares de terras aráveis poderiam ser dedicados ao cultivo de alimentos para as pessoas. Isto equivale a uma massa de terra do tamanho da Grécia.

A ONG acrescenta que quase 125 milhões de toneladas de cereais na UE são desperdiçadas ao serem dadas como alimento aos animais. Este valor é suficiente para alimentar mais 247 milhões de pessoas por ano.

Nos Estados Unidos, os números são ainda mais alarmantes. Cerca de 160 milhões de toneladas de cereais são utilizadas como alimentos para animais, uma quantidade que poderia alimentar mais 280 milhões de pessoas.

O problema é agravado pelas ineficiências na produção.

Segundo o relatório, produzimos apenas entre três e 25 calorias de carne para cada 100 calorias de cereais de qualidade humana que fornecemos como alimento aos animais criados em produções industriais.

Segundo as suas estimativas, o mundo terá de produzir cerca do dobro da quantidade de cereais para alimentar os animais até 2040, se nada mudar.

O que está a ser feito para combater o desperdício alimentar?

No início deste ano, a UE aprovou as suas primeiras metas juridicamente vinculativas para os Estados-membros reduzirem o desperdício alimentar. Os legisladores acordaram uma redução de 30% para os retalhistas, restaurantes, catering e famílias até 2030, e de 10% para os processadores e fabricantes de alimentos.

Estes valores representam uma fração do montante a que os Estados-membros se tinham comprometido anteriormente.

"A UE e os seus Estados-membros comprometeram-se com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU há 10 anos, incluindo uma redução de 50% do desperdício alimentar em toda a cadeia de abastecimento", afirmou Theresa Mörsen, responsável política da ONG Zero Waste Europe, em fevereiro.

A Compassion in World Farming propõe a agricultura regenerativa como solução, sugerindo que os animais sejam alimentados com produtos que os humanos não podem comer, incluindo pastagens, subprodutos e restos de comida. Juntamente com o relatório, a ONG lançou uma ferramenta interativa que revela a quantidade de alimentos desperdiçados através da pecuária industrial em vários países.

O grupo pede agora aos seus apoiantes que assinem uma carta aberta de modo a instar os governos a adotarem políticas que deem prioridade à produção de alimentos para as pessoas e não à alimentação animal.

"Os governos devem parar de apoiar a pecuária industrial sustentada em cereais, que é um desperdício, com dinheiro público através de subsídios, e adotar políticas justas que priorizem os alimentos em detrimento da ração animal", declara Anderson.

O relatório completo e a ferramenta interativa podem ser consultados aqui.

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