A Bulgária está a caminho da deriva autocrática?

As manifestações populares contra a corrupção na Bulgária, há vários dias, estão a abalar o regime de Boïko Borissov, primeiro-ministro de centro-direita, no poder há quase dez anos.
Na sequência de vários escândalos recentes, Borissov é acusado de favorecimento dos oligarcas, homens economicamente poderosos que a oposicão socialista acusa de terem tomado conta do sistema.
A eurodeputada búlgara de centro-esquerda Elena Yoncheva diz que isso causou a estagnação do país: "É por causa da corrupção que a Bulgária é o país mais pobre da União Europeia".
"Segundo um relatório do Parlamento Europeu, de há três anos, anualmente a Bulgária perde o rastro a 11 mil milhões de euros devido à corrupção e estamos a falar de um país com apenas sete milhões de habitantes. Há que tomar medidas, não podemos apenas falar. Está certo falar e observar, mas há que tomar medidas", acrescentou Elena Yoncheva, em entrevista à euronews.
No Parlamento Europeu, teme-se mais uma deriva autocrática de cariz conservador como as existentes na Hungria e na Polónia, alvos de processos por violação do Estado de direito. Mas o eurodeputado búlgaro do centro-direita Andrey Kovatchev considera absurda essa comparação.
"De forma alguma. Não temos absolutamente nada de semelhante com o que se passa na Polónia ou na Hungria", disse Andrey Kovatchev, eleito pelo partido Cidadãos pelo Desenvolvimento Europeu da Bulgária, que está no poder.
"Existe total liberdade, não existem casos de violação da liberdade académica, por exemplo, como infelizmente aconteceu numa universidade húngara, em Budapeste. Todos têm total liberdade para expressar a sua opinião contra Boris Borissov e o governo", acrescentou este eurodeputado.
Eurodeputados que pertencem à bancada do centro-direita do Parlamento Europeu mas que foram eleitos pelo partido Democratas por uma Bulgária Forte, gostariam que todo o grupo se distanciasse de Boris Borissov.
"O que a Europa teme, o que o Parlamento Europeu teme é que a Bulgária se torne como a Polónia ou a Hungria. O grupo do Partido Popular Europeu, em particular, já tem um problema com o partido húngaro Fidesz. Espero que haja ação europeia, bem como dos cidadãos búlgaros, obviamente, para que o problema não atinja essa magnitude", explicou o eurodeputado búlgaro Radan Kanev, eleito pelo partido Democratas por uma Bulgária Forte.
Um porta-voz da Comissão Europeia salientou, numa mensagem para a euronews, que existe um novo mecanismo de monitorização sobre o Estado de direito e que, no outono, será apresentado um relatório anual sobre a situação de cada um dos 27 Estados-membros.
O respeito pelo Estado de direito é um dos temas mais delicados na atual discussão sobre os fundos da UE para os próximos sete anos.