Kateryna Polishchuk: uma história de sobrevivência

Paramédica ucraniana Kateryna Polishchuk que sobreviveu ao cerco da Azovstal em Mariupol
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A história de Kateryna Polishchuk, uma paramédica ucraniana que sobreviveu ao cerco da metalurgia Azovstal em Mariupol

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Quando Kateryna Polishchuk começou os estudos para se tornar cantora de ópera, nunca poderia ter imaginado que um dia iria operar um soldado ucraniano ferido sem anestesia enquanto se escondia numa fábrica de aço sob bombardeamento.

Mas a guerra da Rússia na Ucrânia tornou possível o impensável.

"O inferno por que passei em Azovstal - não pode ser sonhado por ninguém ou mostrado em qualquer filme de acção", disse Polishchuk à euronews. "Nem mesmo (Quentin, Ed.) Tarantino saberia fazer um filme assim".

A paramédica de 21 anos integrava o contingente ucraniano que defendeu a fábrica da Azovstal durante o cerco de três meses de Mariupol. As instalações da metalurgia foram o último reduto da cidade devastada que rapidamente se transformou num símbolo internacional da resistência ucraniana.

"Resistimos ao exército russo com uma compreensão completamente clara de como poderia terminar. Compreendemos que iríamos todos morrer. Mas não desistimos", disse Polishchuk, falando através de um tradutor.

"Desde os primeiros dias do cerco que não tínhamos provisões, não tínhamos medicamentos, comida, água ou munições. Não tínhamos equipamento adequado, e nenhum meio de defesa aérea".

"Infelizmente", prosseguiu, "tínhamos condições muito difíceis para lutar, mas tínhamos combatentes que queriam defender a sua casa, que queriam mostrar ao mundo inteiro que a Rússia não pode conquistar nem a Ucrânia nem a Europa".

Na entrevista à euronews, Polishchuk recordou as condições extremas que os soldados ucranianos foram forçados a suportar durante todo o implacável ataque russo. Alguns soldados, disse ela, passaram "três a quatro dias seguidos" sem dormir ou comer, pois os bombardeamentos duraram toda a noite - apenas para continuarem pela manhã", afirma.

Após 82 dias de duros combates, Mariupol caiu sob controlo russo e os restantes soldados renderam-se.
A cidade, arrasada até ao chão, ficou quase irreconhecível.

"O pior foi rendermo-nos e desistirmos porque compreendemos que enquanto a Azovstal estivesse de pé, enquanto eles (Rússia, Ed.) gastassem a maior parte da sua força militar em Mariupol, era mais fácil para os nossos irmãos lutarem no resto da Ucrânia", disse Polishchuk.

Polishchuk passou quase cinco meses em cativeiro na Rússia até à sua libertação no final de Setembro, enquanto parte de uma troca de prisioneiros. Ela viaja agora pela Europa para reunir apoios para os que se encontram na linha da frente.

Em Bruxelas, a jovem de 21 anos de idade assistiu a uma exposição especial de fotógrafos tirada por Dmytro "Orest" Kozatskyi, um soldado-fotógrafo que também se encontrava escondido na Azovstal.

As fotografias, que se tornaram virais depois de Kozatskyi as ter colocado nas redes sociais, retratam a resistência, o desespero e a solidão dos soldados ucranianos durante o cerco brutal.

"Estas fotografias evocam emoções de orgulho para o exército com o qual estive lado a lado, para os tipos que se agarravam a qualquer momento", explicou Polishchuk.

"Estas fotos evocam memórias da luta heróica de pessoas heróicas, algumas das quais estão em cativeiro, algumas das quais infelizmente já não estão connosco".

Como sobrevivente do cerco de Mariupol, Polishchuk diz que sente uma responsabilidade particular em falar em nome dos homens e mulheres que lutam pelo seu país para que "ninguém seja silenciado".

Durante a sua passagem por Bruxelas, a sobreviventeexortou a União Europeia a permanecer ao lado da Ucrânia até ao fim, argumentando que o destino do país determinará o futuro do próprio bloco.

Embora tenha descartado os seus dotes de ópera como enferrujada, a voz de Polishchuk brilhou pela sala, firme e triste, quando se levantou para cantar o hino nacional ucraniano.

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"Vamos lutar. Somos corajosos, somos corajosos, somos inquebráveis. Somos poderosos e vamos deter este inimigo", disse Polishchuk.

"Mas precisamos de apoio e ajuda porque, se não nos erguermos, a Europa também não se erguerá".

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