Ao fim de oito anos, realiza-se mais uma cimeira da União Europeia (UE) com os países da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC). A causar maior fricção está a referência ao acordo da UE com o Mercosul, comunidade formada por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.
A UE vai investir mais de 45 mil milhões de euros na América Latina e nas Caraíbas, região com a qual realiza uma cimeira, segunda-feira, em Bruxelas.
O anúncio foi feito pouco antes de uma mesa redonda de negócios (onde participam líderes de inúmeras empresas dos dois lados do Atlântico), prelúdio do encontro de alto nível, até terça-feira, entre os líderes de 27 países europeus e 33 latino-americanos.
As verbas vão para setores-chave tais como a biotecnologia, as telecomunicações e a energia, nas quais a China é um concorrente de peso da UE e país que já tem muita influência naquela região.
É também nalguns destes países que se encontram grandes reservas de lítio, entre outras matérias-primas essenciais, que a UE quer comprar para poder ter maior autonomia industrial.
"O que queremos discutir hoje é a forma de conectar ainda mais as pessoas e as empresas, de reduzir os riscos, de reforçar e diversificar as nossas cadeias de abastecimento e de modernizar as nossas economias de uma forma que reduza as desigualdades e beneficie todos", referiu Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, em conferência de imprensa.
"Tudo isto está ao nosso alcance se conseguirmos concluir o acordo UE-Mercosul, e estamos empenhados em resolver quaisquer diferenças que subsistam o mais rapidamente possível", acrescentou von der Leyen, tendo a seu lado o Presidente do Brasil, Lula da Silva, com o qual teve uma reunião bilateral.
Lula promete travar deflorestação na Amazónia
Lula da Silva (que preside à comunidade do Mercosul neste momento) mostrou também empenhamento em trabalhar na ratificação do acordo comercial UE-Mercosul, que demorou 20 anos a negociar.
Mas não deixou de reagir às exigências europeias sobre travar a desflorestação na Amazónia, veiculadas num documento adicional sobre compromissos ambientais, que foi mal recebido em Brasília.
"Toda a gente sabe que o Brasil vai fazer a sua parte na questão climática. Temos o compromisso de travar totalmente o desmatamento na Amazónia até 2030", disse.
"Durante este debate queremos fazer com que a Comissão Europeia entenda que há 50 milhões de habitantes na Amazónia sul-americana que precisam de condições de sobrevivência decentes e dignas", acrescentou o chefe de Estado brasileiro.
O acordo entre UE e os quatro países também está a ser contestado na Europa pelas suas implicações no setor agrícola, sobretudo pela Áustria e pela a França.
A presidência espanhola do Conselho da UE espera que a cimeira possa levar à ratificação doa cordo até ao final do ano, sendo que este abrange 25% da economia global e 780 milhões de pessoas (quase 10% da população mundial).
Portugal está representado pelo primeiro-ministro, António Costa, que tem encontros bilaterais com os presidentes da Argentina, Brasil, Costa Rica, Chile e Colômbia e com o primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonsalves, que lidera atualmente a CELAC.